Envolvidos

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O retorno de Akio e Hazel foi em silêncio, quebrado apenas pelo som da chuva que insistia em cair. O mercenário sabia que o Samurai estava assim por causa da morte do mestre de Maysha, e quanto isso significava para ela. Yamazaki Akio estava cabisbaixo, pensativo. Alvo fácil — pensou Hazel —, em contrapartida, com o pensamento da confiança que ele depositou para que fossem pegar o último Nassib, o mercenário não tinha "tanta" confiança de outras pessoas assim, de graça, desde o seu grupo de aventureiros, os Arautos Sagrados. Resolveu permanecer ao lado do tamuraniano.

A chegada à pequena vila foi recepcionada por Maeve. As pequenas gotículas de chuva inibiam que outras pessoas estivessem do lado de fora, mas a jovem herbária sabia que estavam de olhos bem abertos nas janelas de suas casas, aguardando algo novo acontecer. Era um povo pacífico, que por sorte de, na divisa dos reinos de Salistick e a União Púrpura serem guardadas exatamente pelos Oreore, não viam ataques constantes de bárbaros. Contudo, nas últimas semanas, a vila vivia momentos de tensão, com combates e assassinatos. Estavam temerosos.

Hazel, com a face machucada, acenou positivo para a companheira de jornada, afirmando que haviam conseguido pegar o sujeito. Akio desceu primeiro do cavalo, com o semblante baixo, indo até a entrada do estabelecimento. Lá, o dono do local, e sua esposa, pareciam aguardá-lo.

— Senhor Yamazaki Akio, não podemos mais ter o senhor e os seus convidados por aqui — disse ele, com as palavras trazidas com pavor de tudo o que aconteceu por ali.

— Estamos de saída — era Hazel, falando antes que Akio se pronunciasse. — Pagaremos por tudo e não iremos retornar mais. Vamos deixar o senhor em paz, meu bom homem.

Maeve estava logo atrás, observando Hazel e sua desenvoltura em falar, bem como o quanto estava apto para ajudar naquele momento. Mas a postura que mais impressionou foi a do Samurai. Estava sério, com um olhar distante, não sossegado. Ao que os donos do local assentiram às palavras de Hazel, o tamuraniano seguiu pelas escadas, mostrando-se ansioso em sair logo dali.

Passo a passo, ele seguiu até o quarto. Diversas lembranças tomaram sua mente mais uma vez. Ele estava se culpando, como se ele fosse a Tormenta, ou uma de suas armas, para matar o mestre de Maysha. Pensou no sofrimento que ela estava passando. Imaginou, mais uma vez, a dor que sua família passou com a destruição trazida pela tempestade rubra.

Chegou no quarto. 

Maysha estava com o rosto inchado de tanto choro, sentada na cama, pernas cruzadas, em lótus, com os braços unidos apoiando-se nas pernas. Ao ver Akio, toda indiferença de ambos, todo o distanciamento que sempre mantiveram, num respeito e certa estranheza mútua, tudo isso foi deixado de lado. Num salto, a nativa da União Púrpura jogou-se nos braços do tamuraniano, um abraço tão apertado, que beirava o desespero, que exprimia dor, angústia, aflição, como também era possível sentir um pedido de ajuda, ao mesmo tempo em que agradecia por estar ali, no mesmo instante em que refletia um perdão, um "a culpa não foi sua".  Akio, que fora pego de surpresa por aquele gesto, teve os olhos marejados, que apenas Eadwine pôde notar. O Samurai fechou os olhos, pressionando-os, forçando um ato de reação, um ato de carinho, algo que ele pensava ter perdido, algo que havia escapado de si mesmo com o passar dos anos, algo que ele tinha de volta, graças àquela menina. Akio levou sua mão à cabeça de Maysha, trazendo-a contra seu peito, afagando-lhe.

— Eu estou aqui... — foram as palavras que ele conseguiu dizer.

Em poucos passos, Eadwine começou a se retirar. Não que estivesse constrangido ou algo do tipo, mas chegou à conclusão de que não parecia ser um momento para estar ali.

— Eadwine também está — o Samurai complementou.

O jovem médico conteve seus passos. A frase de Akio o impediu de ir. Mesmo que ambos estivessem de olhos fechados, ele acenou positivamente com a cabeça, mantendo-a abaixada, em respeito. Com um toque em seu ombro, Maeve mostrou ter chegado, apoiando o amigo naquele momento. Hazel encostou-se na lateral da entrada do quarto, observando aquilo tudo. Devagar, Maeve olhou para o mercenário, que não tirava os olhos daquela cena. 

Tormenta: A Maldição do Imortal [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora