Floresta Em Chamas

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As lembranças de Maysha começavam a chegar como uma enxurrada. Ela lutava para se controlar e impedir que suas emoções pudessem atrapalhar tudo o que ele tinha para dizer. Ao olhar a paisagem do local onde eles estavam naquele momento, ela quase podia sentir a mesma brisa da sua terra de origem, o Sub-Reino da União Púrpura, Tah Par. Com um sorriso se abrindo e os punhos serrando, ela praticamente estava retornando ao seu lugar de origem, mesmo que apenas em suas memórias. Ela então imergiu em suas lembranças.

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Maysha estava em seu treino diário, já tinha sua idade atual, e estava caída após levar a pior de seu professor e mestre, C'rama. Ela não tinha a mínima vontade de ferir seu mentor, não que ela tivesse habilidade para tal, mas apenas a ideia não fazia bem. C'rama sempre foi bondoso e gentil, era outro pai para a jovem guerreira, mas não nos treinos. A pele bem escura e rígida, o porte físico invejável e sua determinação faziam dele um dos melhores guerreiros entre os Oreore. Mesmo assim, ela hesitava. 

— Não adianta, Ifitiinkayga — disse C'rama, numa expressão antiga de seu povo, que significa minha luz. — Se não treinar com tudo o que tem, não obterá êxito quando chegar o dia do teste.

— Fica complicado com o senhor me chamando assim— disse ela, sorrindo e se levantando.

A garota tomou a espada e partiu para o ataque, sendo evitado pelo seu mentor. Ambos continuariam, não fosse a chegada de uma figura emblemática daquele lugar. Com seus longos cabelos crespos, olhar sério e portando joias como anéis, colares, pulseiras e tornozeleiras, sempre chamativas, de cores vivas, estava presente o líder dos Oreore, Abasi. Logo, C'rama fez a reverência prevista: um gesto como se abraçasse a si mesmo. Maysha ignorou a reverência, fazendo cara de poucos amigos.

— Abasi Ore Broer — disse C'rama.

— C'rama Ore — respondeu Abasi, repetindo o gesto de reverência.

— Pai, está atrapalhando o treinamento — disse ela, visivelmente chateada.

— Ifitiin! — O mentor tentava chamar atenção de sua discípula.

— Mas senhor, ele está atrapalhando!

— Saia, Maysha — era Abasi, falando de forma cortante. — O treinamento acabou. Recolha suas coisas. Sua mãe está esperando por você.

Ao ouvir a bronca de seu pai, a garota apenas atendeu a ordem após olhar para seu professor e vir que ele também consentia que aquele dia de ensino se encerrasse por ali. Contrariada, ela assentiu e começou a arrumar suas coisas. Sem que a dupla veterana notasse, a jovem fazia tudo mais devagar para que pudesse ouvir a conversa. Curiosa, ela sempre conseguia um jeito de estar por dentro das coisas que aconteciam na tribo e, se possível, em Tah Par.

— Os Nassib continuam fazendo suas reivindicações aos Gurka Khan — disse Asabi, num tom preocupado.

— Ore Broer, o que o senhor tem em mente? — era C'rama.

— Cessar o tratado é o mais viável.

— O senhor fala em guerra? Mas somos a tribo da conciliação, do elo.

— Falo na sobrevivência dos Oreore, da confiança do Gurka Khan e da Árvore K'tully. A Mãe Águia nos imbuiu dessa missão, ou você se esqueceu?

C'rama havia pausado a conversa para pensar, foi quando notou que Maysha fazia corpo mole para sair dali. A garota sabia bem ser furtiva, nem aparentava estar ali. Repreendida novamente por ambos, ela saiu dali como se aparentasse não dar a mínima para a conversa. Eles estavam errados. Ela não só entendeu bem, como também, em sua cabeça, surgiram várias formas de resolver as coisas, a principal delas era pedindo auxílio à Mãe Águia. O Grande Animal sempre ajudara nesses momentos. Nada como fazer suas petições frente à Ktully.

Tormenta: A Maldição do Imortal [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora