XIX. Uma Surpresa Agradável

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Pela graça infinita dos deuses, quaisquer que fossem os que olhavam por ela agora, a Gruta estava praticamente vazia quando Lyssa caminhou para dentro das frias e mortas paredes de pedra bruta. Algumas bruxas caminhavam por ali, sim, mas Ode Ferro-Brasil não estava em nenhum lugar à vista no grande salão e, mais importante, suas Sentinelas também estavam ausentes.

Lenta e silenciosamente, sem chamar atenção, a fada caminhou pelo corredor escuro até chegar na ala dos dormitórios que Alick mostrara no outro dia. Suas asas batiam nervosamente às suas costas, naquela tentativa inconsciente de levantar voo à qual ela já estava se acostumando. Passara uma parte grande demais de sua curta vida com medo e em perigo. Os pés, pesados e cansados, a levavam com relutância pelos corredores de pedra, mas Lyssa estava determinada a deitar-se na cama que lhe fora oferecida e, se possível, relaxar um pouco.

Poucas coisas poderiam ter surpreendido a fada mais do que aquilo que ela encontrou ao finalmente abrir a porta de seu quarto e encarar o recinto iluminado. Sim, a primeira surpresa foi o fato de que já havia uma luz mágica fazendo cintilar o lugar, mas o que fez seu coração pular foi a fada que se sentava sobre sua cama, as pernas expostas cruzadas numa posição amigável, mas que beirava a formalidade, o belo vestido de seda azul-claro brilhando sob a luz. A bela asa azulada como o vestido, em todo seu esplendor e maturidade, contrastava com os longos cabelos vermelhos e os olhos dourados que encaravam a irmã serenamente.

Estella estava, literalmente, brilhante. Estivera lá no dia em que Lyssa nascera e a acompanhara durante seus primeiros momentos. Fora uma amiga necessária até o dia em que a Sentinela a viera recrutar. O que estava fazendo ali, no entanto? Sabia ela que a jovem fada estivera recentemente na Árvore? Voando, a ruiva poderia viajar muito mais rápido que a irmã, mas por que a encontraria ali e não na floresta?

- Estella! - Lyssa correu para abraçá-la, sendo correspondida com todo o calor e amizade que a fada tinha a oferecer-lhe. Rompendo o contato, a mais nova continuou a falar. - o que faz aqui?

- Não posso visitar minha pequena amiga? - Perguntou, acariciando o rosto de Lyssa com a mão direita. Era um toque caloroso e gentil, que acalmou suas asas nervosas. - Ou já se tornou seca e amarga como essas bruxas?

Lyssa revirou os olhos, esperando que a amiga distanciasse a mão de seu rosto antes de responder.

- Às vezes penso que gostaria que isso acontecesse. Mas nunca é tão simples, é? - Estella respondeu com um balançar negativo da cabeça. - Por que está aqui? A verdade, agora.

- Fiquei sabendo de um pequeno incidente que envolvia a fada de fogo. - A amiga respondeu. Ela parecia exausta e preocupada. - Todas as do galho queriam vir, mas consegui convencê-las de que era melhor não causar mais problemas com a Matriarca.

- Mais problemas?

- As bruxas não estão muito amigáveis desde que você fez o que fez. - Mais uma preocupação para a sempre crescente lista que a jovem fada acumulava em sua mente. - Mas não se preocupe. - Estella, obviamente, notou sua preocupação. - Rusgas piores já aconteceram entre fadas e bruxas e, ainda assim, as coisas sempre se acertaram.

Quando Lyssa se preparava para responder, a porta se abriu com um estrondo. As duas fadas pularam em seus lugares e viraram os pescoços simultaneamente para encarar a figura de cabelos negros que entrava e as encarava, com a pergunta clara nos olhos.

- Quem é essa? - Alick perguntou, olhando de Lyssa para Estella, tentando decidir se devia iniciar um combate ou sentar-se ao lado delas.

- Alick, esta é Estella. - Lyssa disse, levantando-se e encarando a bruxa, sem saber muito bem o que fazer. - Ela é minha irmã.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora