LXI. Aliado Com Ressalvas

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Lyssa encarava Azar com um misto de raiva e medo. Raiva de si mesma por ter se descontrolado a ponto de provocar a Fura-Coração a atacá-la e medo daquela energia que ela afirmava poder controlar.

Pouco tinha sido afetada pelo aviso de que estavam sendo seguidas. Em sua mente, somente o horror que aquila magia negra poderia despertar sobre o mundo. Suas asas se agitavam freneticamente às costas enquanto pensava no que sentira na cidade dos anões e naquela câmara secreta em Til Onag. Enquanto isso, Azar e Alick trocavam palavras que não lhe importavam muito.

Tinha que levar aquilo até Fedra. Não era algo que as bruxas sequer pudessem compreender. Somente uma fada conseguia sentir a magia daquela forma, somente uma das suas entendia o quão maligno era aquilo.

— Ei, Lyssa! — Alick gritava, puxando-a de volta para o mundo real. A fada encarou a amiga e, depois, a Fura-Coração. — Prepare-se para lutar.

— É um único elfo. — Azar explicou às duas. — Podemos derrotá-lo e impedir que volte à sua tropa para avisar de nossa presença.

— O que um elfo faz sozinho aqui? — Lyssa perguntou, procurando pela mata algum sinal do inimigo que se aproximava.

— Não sei. — Respondeu a bruxa loira. — Os malditos nunca vêm até aqui e, quando o fazem, é em bando.

Com seus olhos, a fada não conseguia enxergar o inimigo que se aproximava — o mato alto e a distância prejudicavam seu campo de visão —, mas o pequeno foco mágico denunciava a presença inimiga. Ar, percebeu ela. Sua magia vibrava no elemento imaterial do ar numa quantidade relativamente alta. Não era um inimigo fraco, mas não era imbatível.

— Por favor, não ataquem! — A voz soava chorosa e amedrontada, apesar de um tanto grave. — Eu preciso de ajuda!

Azar olhou para as duas companheiras, como se perguntasse a elas o que fazer. Lyssa não teve reação e Alick deu de ombros. Revirando os olhos, a Fura-Coração virou-se novamente para a direção de onde vinha a voz e gritou:

— O que quer de nós, elfo?

— Eu estou sendo perseguido! — Gritou a voz. Lyssa via que a criatura se aproximava cada vez mais, mas não conseguia ver o que o perseguia. — Preciso de ajuda. Por favor, eu já larguei minha espada.

— Não vejo quem quer que o esteja perseguindo. — A fada constatou.

— Nem eu. — Azar respondeu, seca. — Mantenham as armas em mãos. Você também Lyssa.

E a fada o fez. Com a espada nas mãos e sua magia pronta para ser disparada, ela seguiu as duas bruxas na direção do elfo solitário, que parara de caminhar e agora aguardava.

O estranho as aguardava numa área onde a vegetação era mais baixa e esparsa, facilitando a visão que as três tinham de suas armas. A magia, que era o que mais preocupava Lyssa, parecia contida.

Ao ver seu primeiro elfo, a fada hesitou. Eram, de fato, fisicamente parecidos com os feéricos, ainda que estes últimos tivessem traços mais bestiais, corpos mais musculosos e rostos mais ferais, como se fossem a versão felina de um elfo. A criatura à sua frente era elegante, de cabelos negros e pele quase tão clara quanto a de Alick. Alto, mas não tanto quanto os seus similares da Floresta Negra.

Ele percebeu que a fada o encarava e fixou o olhar nela como resposta. Ele parecia intimidado, com suor caindo sobre o rosto e as roupas ensanguentadas e bagunçadas. Se mentia, ele o fazia muito bem. Lyssa analisou a magia dele novamente, constatando mais uma diferença entre os elfos e os feéricos. Enquanto os primeiros tinham magia elementar, os últimos tinham o puro éter, capaz de se moldar à vontade de quem o usava. E este elfo não parecia disposto a atacar.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora