Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)

XXXVII. Embate

Enquanto voava baixo, ainda acompanhada de Eisa, aproximando-se a cada segundo do lar das bruxas, Fedra encarava a floresta ao redor, sua mente um verdadeiro turbilhão de pensamentos agitados e apressados, tentando prever todos os possíveis caminhos que aquela reunião poderia seguir. Sua guarda-costas nada falara, apenas seguira pelo caminho tranquilamente, como se entendesse que a rainha necessitava de tempo para planejar e calcular.

Era um pedido inesperado, sim. Talvez até mesmo precipitado por parte de Ode, mas era certo que pegara a rainha das fadas desprevenida. A possibilidade do surgimento de uma nova informação, uma nova ameaça, que fizesse com que a Matriarca genuinamente necessitasse de sua presença. Talvez não fosse uma simples disputa política, Fedra pensou, talvez fosse algo muito pior. De qualquer forma, deveria estar pronta.

Então repassou todas as informações que continha em sua mente a respeito dos movimentos mais recentes das tropas da Aliança, o ataque a Alis, os saques a aldeias élficas ao longo da fronteira de Terralarga, qualquer coisa que pudesse ter dado terrivelmente errado e pudesse resultar naquela reunião. Certa de que sua memória não a enganaria, a rainha deduziu que tudo aquilo se tratava somente de uma provocação por parte de Ode, um ataque à sua soberania como rainha e uma resposta às suas recentes insubordinações.

Quando as duas fadas finalmente pousaram no chão de terra batida à frente da entrada da caverna da Matriarca, ao menos vinte daquelas criaturas as encaravam, os olhares curiosos e inquisidores. Já sabiam de sua chegada, então. Ode não fizera o menor esforço para manter aquele encontro em segredo. Talvez fosse um bom sinal, visto que a Matriarca não gostava de por à mostra as contendas entre os povos da Aliança.

O interior frio e úmido do amplo salão onde a Matriarca montara seu trono ficou silencioso quando as primeiras bruxas ali viram o que se passava do lado de fora e começaram a bater nos ombros de suas companheiras, apontando pra as visitas recém-chegadas. Alguns feéricos estavam ali também - nenhum dos quais Fedra conhecia, com exceção do próprio Desven, que a encarou com interesse - acompanhando suas companheiras bruxas, ou somente curiosos por conta da movimentação do lado de fora da Gruta.

Fedra sentiu sua magia se agitar em resposta àquela das bruxas, que tomava o lugar como um gás pesado sobre o ar. A rainha deixou que seu poder se libertasse, somente uma pequena amostra, o suficiente para fazer com que singelas chamas amarelas dançassem por todo o seu corpo, traçando voltas ao redor de suas curvas e aquecendo a sala ao redor. Eisa, que caminhava à sua frente, pareceu aliviada ao sentir o poder de sua rainha romper o frio vil da caverna. Conscientes da ameaça velada daquelas chamas, as bruxas se afastaram, abrindo o caminho para que as fadas caminhassem ininterruptamente até uma mesa que fora colocada frente ao trono.

Sobre a mesa, havia um mapa detalhado dos reinos élficos do sul, começando na fronteira da Floresta Negra, com a fortaleza de Til Onag, e estendendo-se até a costa oriental e os Templos da Conquista, erguidos pelos elfos em homenagem aos seus ancestrais que tinham desembarcado ali para tomar para si aquelas terras.

Fedra aproximou-se da mesa, deixando Eisa para trás e dirigindo à Matriarca somente um menear com a cabeça. Tomando a palavra para si, como planejara durante o trajeto, ela falou:

- Quem irá explicar esta convocação tão repentina?

Desven a encarou, a postura petulante do feérico parecia abalada, qualquer que fosse o motivo. Ele parecia ter recuado um passo ao ver a aproximação de Fedra. Talvez fosse somente sua impressão, mas ela sorriu internamente com aquele pensamento. Por fora, seu rosto era tão frio quanto a Gruta ao redor.

- Há uma agitação nos reinos élficos. - Uma das bruxas, desconhecida, apontou para uma região ao norte de Alis.

- Isso já era de se esperar. - "Pois vocês os provocaram", ela quis completar, mas segurou sua língua.