LXXXII. Voo Desesperado

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Valatr estava exausto, sujo e desesperado. Delétrion já não aguentava mais voar desesperadamente pelas planícies de Terralarga em busca de algum lugar em que pudessem se refugiar e cuidar dos feridos.

Apenas oito sobreviventes, além dos dezenove que sequer tinham aparecido na reunião. Ninguém tentara falar desde que saltaram daquela varanda para a segurança de seus dragões e o próprio Valatr sentia que não teria voz para usar quando fosse necessário.

Não conseguiriam chegar às montanhas antes do anoitecer e os dragões pareciam implorar por um descanso, o que limitava de maneira vertiginosa as opções. O Mestre começou, então, a buscar por bosques ou desfiladeiros que pudessem abrigá-los por algumas horas, mas até mesmo estes eram escassos naquelas planícies aparentemente intermináveis. Se ao menos conseguisse se comunicar com os elfos rebeldes...

- Finnhaor! - O elfo semiconsciente que estava amarrado à sela de Delétrion gritou subitamente no ouvido de Valatr. O nome do dragão falecido ecoou por sua mente, o pesar sentido através do Elo confirmava que seu dragão pensava o mesmo.

- Finnhaor não está aqui, Senuel. - Foi tudo que conseguiu dizer ao elfo, que, pela décima quinta vez, pôs-se a chorar a perda de seu irmão.

- Por quê? - Ele perguntava. - Por que fizeram isso? Por favor, Valatr, temos que voltar lá e queimar aquela maldita fortaleza!

- Por mais que eu queira, meu amigo, somos apenas oito elfos e quatro dragões. Não temos a menor chance. - O ódio que sentia naquele momento só podia ser igualado ao ódio que Delétrion sentia, que queimava através do Elo.

- Mas Valatr... - Senuel continuou a choramingar. Todas as vezes que ele acordava, aquela conversa se repetia. - Eu ainda lembro de quando ele chocou para mim em Lis. Não posso deixá-lo para trás! Por favor, deixe-me pelo menos ver seu corpo.

Valartr gostaria que aquilo fosse possível. No entanto, temia que as tropas de Picellius ainda estariam vigiando as carcaças justamente à espera do retorno de elfos em luto. Não estavam em condições de tomar decisões arriscadas, por menor que fosse o perigo. Tinham que simplesmente deixar os irmãos caídos para trás, para que apodrecessem em vergonha.

Ele sentiu uma lágrima surgir em seu rosto, mais uma de muitas. Não conseguia imaginar como seria a dor de perder seu irmão, de sentir aquela ponta do elo se soltar e nunca mais ter algo a que se agarrar. Chorava por imaginar a dor que o elfo atrás de si estaria sentindo naquele momento e sentiu-se culpado por se deixar ser fraco num momento em que havia outros em situação muito pior que a sua.

Repentinamente, os músculos das costas de Delétrion se retesaram de uma maneira não natural, não compatível com o padrão de voo. O dragão parecia prestes a alterar repentinamente a direção e Valatr encarou desesperadamente os arredores para tentar compreender de que se tratava. Pelo Elo, sentia apenas o ódio e a preocupação do amigo.

- Não vamos voltar, Delétrion. - Ele falou ao animal, que também sentia uma vontade quase incontrolável de queimar aquela fortaleza até o último osso carbonizado. - Não somos ferramentas de vingança.

- Foda-se o equilíbrio, Valatr! - Senuel gritou ao seu ouvido. - Eles mataram nossos irmãos, temos que vingá-los, maldição!

Valatr engoliu em seco. Sentia, em seu coração, a mesma vontade. Mas não podiam. Ainda não, pelo menos. Tinham que reagrupar, encontrar uma forma de avisar aos outros membros da Cavalaria que estavam sendo perseguidos pelas tropas de Maleus. Tinham que encontrar uma forma de salvar o que restava dos seus e, somente então, pensar no próximo passo.

nCom o canto dos olhos, ele viu que Runa se aproximava com seu dragão, acenando para ele e apontando para algum lugar na planície abaixo. Quando Valatr confirmou que tinha entendido, a Arauta do Fogo mergulhou com seu animal na direção da terra abaixo. Alguns segundos depois, ele viu que os demais também faziam o mesmo, todos convergindo para o mesmo ponto.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora