LXXXVII. Ventos de Mudança

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Onde havia exércitos, havia rastros. A passagem de um grande número de pessoas sempre deixava marcas duradouras na paisagem. De pedras reviradas a objetos e corpos abandonados no chão.

Valatr seguia aquele rastro há alguns dias em busca da tropa de Parsos que deixara aquelas marcas. Levara tempo demais para descobrir que o reino nortenho marchava para juntar-se a Linea e agora gastava tempo escasso perseguindo aquela trilha.

Quando encontrou sinais de uma grande batalha, não sabia se deveria se sentir aliviado ou preocupado. Pelas armaduras e equipamentos abandonados no chão, todos eram elfos de Parsos. Uma guerra civil, então.

Decidido a encontrar o vencedor daquela batalha, ele montou nas costas de Delétrion e partiu rumo a oeste, para onde os rastros levavam.

Mais um dia inteiro de busca de passou até que o que parecia ser uma tempestade de areia surgiu no horizonte, próximo de Atmos, uma das travessias do rio Délcio.

O caminhar de um exército com frequência deixava para trás uma nuvem de poeira que lembrava as tempestades de areia dos desertos no continente sul.

Alguns minutos de voo o aproximaram o suficiente da tropa para que fosse possível identificar as caravanas de suprimentos que a seguiam. Pobres eram os elfos que viajavam ali atrás, tendo que engolir a poeira levantada pelos soldados.

— Reze para que seja Dalária, amigo. — Valatr falou para Delétrion, que rugiu em resposta.

De fato, a Rainha de Parsos cavalgava orgulhosamente à frente de seu razoavelmente robusto contingente. Ao avistar o dragão, provavelmente reconhecendo de quem se tratava, ela ergueu o braço e ordenou que a marcha cessasse. Em menos de um minuto, todos os elfos tinham parado de caminhar e a poeira começou a se dissipar pelo campo.

Delétrion pousou com um estrondo alguns metros à frente da comitiva real e Valatr não perdeu tempo ao descer do lombo do amigo e caminhar na direção de Dalária. A monarca retirou o elmo e observou serenamente enquanto o visitante se aproximava.

— Majestade. — O Mestre cumprimentou, fazendo uma reverência rápida, quando estava a menos de cinco metros.

— Não sei se devo considerar sua presença aqui boa ou ruim, Valatr. — Ela foi direta, como de costume, fazendo com que o elfo recuasse um passo para recuperar a postura. — Já tenho muitos problemas em minhas mãos para ter que lidar também com os seus.

— Creio que nossos problemas estão conectados, minha cara. — Ele encarou os soldados que aguardavam, imóveis como rochas. — Posso saber de que se trata tudo isso?

Dalária olhou ao redor também, como se tivesse se esquecido da presença de todos aqueles soldados. Quando voltou seu olhar ao Mestre, ele pôde ter um vislumbre do cansaço e desgaste que se encontrava escondido sob a superfície de sua face.

— Alguns de meus colegas monarcas armaram contra mim e tentaram tomar meu reino. Provavelmente porque eu não marcharia por Alis. — Ela fez uma pausa, a mão descansando no pomo da espada. — Meus nobres súditos decidiram me apoiar e perfurar alguns corações traidores com nossas espadas.

— Vejo que muita coisa mudou em pouco tempo. — De fato, tudo parecia desmoronar mais rápido do que as notícias eram capazes de percorrer o continente. Provavelmente, pensou Valatr, havia ainda aqueles que sequer sabiam da destruição de Alis. — E há espaço em seus planos para vingar também a Cavalaria?

O olhar de surpresa e dúvida que surgiu no olhar da Rainha já dizia que ela não soubera dessa novidade. O Mestre, então, pôs-se a contar tudo que acontecera em Terralarga e seu encontro recente com a Rainha das fadas. A cada etapa da narrativa, a feição de Dalária se distorcia num semblante cada vez mais confuso.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora