CIII. Última Cartada

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Fedra olhava para a confusão no campo abaixo pensativa. O que antes fora uma planície de verde exuberante que se estendia até onde a vista alcançava, agora era um terreno barroso de cor avermelhada, permeado por chamas que queimavam corpos e madeira e, no meio de tudo isso, a tempestade negra que crescia cada vez mais, apesar de seus esforços.

Quisera voar até Asmin Flor-Invernal no momento em que viu no que a batalha se transformara, culpá-la por não tê-la escutado e deixado que os humanos lhe roubassem o livro, mas o bom senso falou mais alto e ela decidiu que aquela conversa teria que esperar até o fim da batalha, se saíssem vivos daquilo.

E a sobrevivência parecia cada vez menos provável, visto que nada que as fadas e feéricos fizessem parecia ser suficiente para refrear a tempestade negra.

A Rainha das fadas estivera tão focada em decifrar aquele enigma, que mal percebera a agitação no exército élfico, que se preparava para atacar, recuperado da surpresa causada pela magia negra. Os malditos sequer entendiam o quão grave aquilo poderia se tornar? Ela perguntava a si mesma.

Não fosse Valatr para alertá-la do perigo, ela não teria percebido e, provavelmente, seria alvejada rapidamente por disparos das balistas e arcos que os elfos já preparavam. Sinalizando para que suas guerreiras manobrassem para o alto, para longe do alcance das flechas, ela pediu que Eisa se aproximasse. Haviam coisas demais a serem feitas e um número limitado de asas para agir.

— Você ainda está com o livro? — Ela gritou, sobre o barulho estrondoso da batalha abaixo.

— Está com Kyra! — Eisa respondeu, apontando para a Floresta.

— Ótimo. Vá com ela até a Árvore, destruam essa merda de uma vez por todas. — Fedra já não se importava com a opinião que as bruxas possam ter sobre aquele assunto.

Eisa apenas assentiu com a cabeça e bateu as asas, rumo ao local que a outra fada provavelmente estava escondida. Novamente confrontada com o problema à sua frente, Fedra descarregou sua magia na nuvem, mirando no centro, em mais uma tentativa fútil de atingir quem quer que controlava aquele evento.

Valatr retornara da Floresta e se unira aos seus companheiros da Cavalaria, descarregando fogo, água e todos os tipos de magia contra o exército élfico. Um olhar naquela direção e Fedra pôde perceber que ali também haviam problemas de alta prioridade.

Um grupo de dragões, mais de duas vezes maior que o de Valatr, se aproximava da batalha e a fada se sentia segura em presumir que eles não vinham para ajudar. Cabia, então, a ela e às suas fadas lidarem com o outro problema. Mas como?

Toda vez que a magia das fadas, a magia conhecida e usual, se chocava contra aquela magia negra, a reação parecia tornar as coisas piores. Uma explosão que fazia a nuvem recuar um pouco, então um contra-ataque que tomava a vida de mais algumas criaturas ao redor. E o processo se repetia toda vez que Fedra tentava algo diferente.

— Talvez a magia não seja a resposta. — A Rainha falou para si mesma. — Mas, então, o que é?

Enquanto tentava criar todo tipo de possibilidade em sua mente, ela continuava atacando. Não tinha opção. Ao menos, seus ataques pareciam estar, de alguma forma, atrasando um pouco o avanço daquilo.

Pois não era só o fogo negro, ela percebia. Por baixo das raízes das árvores, movia-se uma energia viscosa e maligna, que sugava a energia vital de tudo em que tocava, aos poucos se dirigindo cada vez mais para o interior da Floresta. Aquele era o maior dos problemas e, ao menos enquanto as fadas estavam atacando, aquilo não estava se movendo.

Perdida novamente em seus pensamentos, Fedra quase não viu que um a de suas tenentes sinalizava, chamando sua atenção para algo na Floresta. Ao olhar na direção indicada, um feixe de luz cegou a Rainha momentaneamente. Alguém tentava chamar sua atenção através da reflexão da luz solar em algum tipo de espelho.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora