XXXIX. Criaturas da Noite

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ATENÇÃO: Este capítulo possui 4473 palavras!


Lyssa encarava a fogueira incandescente conforme o frio da noite penetrava o pequeno acampamento que as três viajantes tinham montado quase uma hora antes. Alick não confiara em sua capacidade de ascender a fogueira por conta própria e, portanto, passara quase dez minutos tentando atear fogo aos gravetos úmido que Azar coletara durante a caminhada ao por do sol.

- Não é arriscado ascender uma fogueira? - Perguntara a Ferro-Brasil quando a outra anunciara que montariam acampamento ali.

Vinham caminhando há dias sem encontrar quaisquer perigos naquelas planícies. Até o momento, não se parecia em nada com o lugar perigoso e desolado que tinham lhe descrito quando na Gruta. Sim, os feitiços de Azar ajudavam a mantê-las escondidas, mas não eram infalíveis e qualquer tropa élfica acabaria por encontrá-las, eventualmente, caso estivessem passando por ali. No entanto, tudo parecia calmo, pacífico. Os feitiços detectores, que as duas bruxas se alternavam para lançar, não denunciavam qualquer presença maliciosa e as  habilidades da fada não mostravam motivos para preocupação.

- Se há algo num raio de trinta quilômetros que meus feitiços não detectaram, irá nos encontrar de qualquer maneira, com ou sem fogueira. - Azar respondera. - As criaturas que habitam a noite não usam a luz ou o calor para se locomover, mas sim algum tipo de sentido mágico que as permite identificar as presas. O melhor que podemos fazer é proteger a fronteira do acampamento.

A bruxa Fura-Coração sentou-se ao lado da fogueira, estendendo as mãos sobre o fogo para aquecê-las. Lyssa a encarou, pensando nas palavras.

- Por que não ascendemos fogueiras nos últimos dias, então? - Perguntou, por fim.

- Porque ao norte há mais movimentação élfica. Os malditos costumam caminhar por aquelas planícies sem propósito algum. - Azar respondeu. - Melhor passarmos um pouco de frio que chamar atenção indesejada de batedores habilidosos.

- Bem, ao menos sabemos que eles não gostam muito de aproximar-se da Fortaleza. - Alick disse enquanto jogava alguns galhos novos na fogueira. Azar grunhiu em concordância com a Ferro-Brasil. - Desde que o lugar foi excomungado, os malditos não ousam colocar os pés naquelas ruínas.

- Eles não podem, ou não querem? - Lyssa perguntou, olhando de uma bruxa para a outra. Foi a Fura-Coração quem respondeu.

- Não há nada ali que os impeça de entrar e retomar o lugar. É impossível lançar feitiços, sim, mas isso nunca os impediu de cumprirem com seus propósitos. - Uma pausa de alguns segundos. - Talvez seja alguma superstição, talvez o lugar não seja bom o suficiente para suas áureas necessidades.

- São imbecis. - Alick conclui. - Abandonaram um local estratégico por medo de maldições.

As três riram com aquele pensamento, mas todas eram extremamente gratas por aquela superstição, visto que aquela missão se tornaria impossível caso houvessem patrulhas inimigas em Til Onag. Lyssa, sem saber exatamente o que dizer, deixou que o silêncio se instaurasse entre elas, esperando que alguma das bruxas tornasse a falar.

Cansada, a fada estava disposta a deitar-se no chão duro e dormir, relaxar o quanto fosse possível antes  que tivesse que retornar à caminhada na manhã seguinte. Estavam próximas, Azar dissera, mas as pernas da jovem alada não forma feitas para caminhadas. Era uma criatura de voo, obrigada pelas circunstâncias a agir contra sua natureza. Não reclamara uma única vez, no entanto. Suportara a dor nos músculos e as bolhas que surgiam em seus pés sem deixar que aquilo transparecesse em sua expressão ou em seu humor. Sentia-se obrigada a acompanhar o ritmo das companheiras, ainda que isso lhe custasse alguns dias de repouso quando tudo aquilo estivesse terminado.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora