XLVII. Sobre as Montanhas

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Eralyn encarou a lua que brilhava sozinha no céu. Anoitecera rápido demais.

Os dias passavam como flashes diante seus olhos, aquele ciclo aparentemente infinitivo se repetia todas as horas de sua vida. Acordar, perseguir seus inimigos o mais rápido possível, comer o que quer que encontrassem em meio à grama alta, dormir enfiado entre as pedras, repetir. Nada mudava, mas ao menos seus inimigos estavam mais próximos.

O cheiro era mais forte, seu feitiço de detecção parecia estar funcionando. Não eram bons em magias de camuflagem, parecia-lhe. Mantendo-se sob as sombras e entre as colinas, o guerreiro lutava para não denunciar sua presença aos inimigos à frente. Às costas, a sensação de que alguém o perseguia não o abandonava. Todas as vezes que escaneava o caminho percorrido, no entanto, não via nada.

Resmungando, o elfo parou de caminhar à beira de um riacho que serpenteava entre as colinas, ajoelhando-se e jogando água gelada sobre o rosto. A ferida na lateral de sua cabeça ardeu, mas não tanto quanto ele esperava. Parecia que seu corpo estava se recuperando, pelo menos. A exaustão, no entanto, começava a tomar conta de seu corpo. Algumas perguntas pertinentes assombravam sua mente há alguns dias.

Que faria quando alcançasse o inimigo? Como os derrotaria, sozinho, exausto e ferido? Por mais que tentasse, Eralyn não conseguia ignorar aqueles problemas. Sabia que tinha que ir em frente, a visão que a elfa mostrara naquela noite ainda martelava em sua cabeça hora após hora, mas se pensasse no futuro que se aproximava rapidamente, começava a duvidar de si mesmo.

Um uivo distante o tirou de seus pensamentos e fez com que olhasse ao redor. Pareciam ser lobos, mas naquele campo aberto, tudo era possível. Ao menos sua magia agora permitia que lançasse feitiços de proteção ao redor do acampamento improvisado. Uma corrente de ar dissiparia seu cheiro, uma parede de poder denunciaria qualquer criatura que tentasse entrar no perímetro, tudo parecia em seu devido lugar quando deitou sobre a grama fofa e dormiu.

Na manhã seguinte, as nuvens tomavam o céu e o calor era quase insuportável. Eralyn se levantou e não perdeu tempo comendo. Apenas limpou seus ferimentos mais uma vez e saiu correndo o mais rápido que conseguia na direção que o rastro dos selvagens indicava. Ele não era rápido, mas os inimigos também não. Deviam estar carregando feridos, pensou, para se moverem tão lentamente.

Foi antes que o sol chegasse ao seu ápice que a trajetória o obrigou a entrar na linha setentrional de árvores do bosque que circundava a base das montanhas. Temendo uma emboscada, ele manteve o olhar atento nas copas, procurando por batedores inimigos ou qualquer sinal dos selvagens que perseguia. Não havia nada, somente o cheiro e os ocasionais sinais da passagem de um grupo relativamente grande pelas plantas de menor porte.

Não estavam muito à sua frente. Se o campo fosse aberto, talvez já os tivesse visto. Com o coração acelerado, a expectativa pulsando sob a sua pele, Eralyn mal percebeu quando passou pelo que parecia ser um acampamento recém-abandonado, a brasa da fogueira ainda crepitava sob as cinzas, erguendo uma fina coluna de fumaça que se prendia às folhas acima. "Algumas horas", pensou ele. "Eles estavam apenas algumas horas à sua frente". Talvez três ou quatro, dependendo da verdadeira velocidade do bando.

Se estavam, de fato, se dirigindo até alguma passagem secreta pelas montanhas, como parecia ser o caso, ele logo os alcançaria. Um grupo grande não teria como manter a mesma velocidade nos caminhos estreitos e perigosos das montanhas geladas. "Só mais um pouco", ordenou às pernas cansadas. A fadiga começava a cobrar seu preço, os músculos tremiam toda vez que tinham que pular por cima de um tronco ou escalar uma pedra.

Controlando a respiração e o tremor de seus músculos rebeldes, Eralyn correu os últimos quilômetros que restavam até a margem ocidental daquele bosque e encarou a base rochosa da montanha à sua frente. Haviam claros sinais da passagem de uma companhia recentemente. As pegadas e marcas de rodas podiam ser facilmente distinguidas na lama e no cascalho que constituía os primeiros degraus de uma passagem obviamente pouco utilizada.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora