CVIII. Dança dos Dragões

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 Valatr estava subindo. As figuras que lutavam no chão, cada vez mais distantes, se pareciam com pequenas formigas vistas de tão alto.

Mas a atenção do Mestre não estava na luta abaixo, não estava no gigantesco pedaço da Floresta que agora não passava de um amontoado de carvão, nem no fato de que as tropas da Aliança pareciam cada vez mais acuadas contra a Gruta.

A atenção dele estava no oponente contra quem lutava. Delétrion se atracava com Ladítrio em pleno voo, pernas e asas se chocando conforme os dois dragões tentavam encontrar fraquezas nas defesas um do outro. Valatr e Gheyon, cada um montado nas costas de seu respectivo companheiro, apenas se seguravam, torcendo pela resolução daquele conflito.

E os dois dragões subiam, e subiam, e subiam, lutando para ver qual era mais forte e mais rápido, qual conseguiria se posicionar por cima e usar dessa vantagem para acabar com o inimigo. O ar começava a ficar rarefeito para os Mestres e a preocupação crescia conforme os dois animais não pareciam dar qualquer sinal de que iriam parar tão cedo.

Desde a fundação da Cavalaria, era raro que os Mestres e seus dragões lutassem entre si e estes raramente treinavam para tal tipo de situação. Mas os animais, mais por instinto que por treino, pareciam saber exatamente o que precisava ser feito.

Eles tentavam morder o pescoço um do outro, usavam as patas para arranhar a barriga do oponente, buscando um corte profundo que pudesse debilitá-lo e, quando possível, usavam o fogo que saía de suas bocas para tentar queimar o elfo que montava o inimigo. Valatr tinha certeza que, para qualquer observador, aquele duelo seria fantástico de se assistir. Mas, para ele, não era nada além de aterrorizante.

Os quatro estavam lutando há horas, desde que o sol surgira no horizonte, tentando encontrar uma vantagem sobre o outro, com curtos períodos de descanso, onde tanto Valatr quanto Gheyon recuavam para respirar e encontrar outra forma de lidar com a situação.

No dia anterior, os dragões inimigos não tinham atacado. Ao verem a confusão que acontecia no chão, e perceberem o fato de que a Aliança também contava com uma pequena tropa de Mestres e dragões, Gheyon ordenara que os seus dessem meia volta e aguardassem pelo confronto do dia seguinte. De fato, a tempestade negra acabara e, agora, o caminho estava completamente livre para que os elfos avançassem.

Quando o sol nasceu e as duas falanges dracônicas se encontraram no ar, Runa despejou sua fúria sobre o inimigo, derrubando dois deles com um fogo infernal mais quente que qualquer coisa que Valatr já tinha visto. Todo o poder de um Arauto do Fogo, condensado e direcionado pela força do ódio e da vingança.

Em poucos segundos, o embate entre as parte se tornou confuso, tornando difícil até mesmo saber quem era quem. Então, Valatr simplesmente focou suas atenções no enorme dragão negro de Gheyon e atacou.

Os dois lutaram, e lutaram, e lutaram. Só tinham atenções um para o outro, exceto pelos momentos em que recuavam e atacavam as tropas que lutavam no chão. Em certo momento, Valatr percebeu que Dalária finalmente atacara, forçando os elfos a se dividirem em dois exércitos menores, e focou sua atenção no exército que se movia contra a Aliança.

Mesmo quando não estavam lutando diretamente entre si, Valatr e Gheyon mantinham-se atentos ao posicionamento um do outro, apenas aguardando por um momento de distração para atacarem.

E, assim, os dois dançaram por toda a manhã.

Agora, Valatr sentia que estava perdendo rapidamente o ar de seus pulmões. Tentava enfiar o máximo possível de ar em seus pulmões a cada inspiração, mas cada vez menos entrava por suas narinas. Ele podia apenas torcer para que o Mestre no outro dragão sofresse do mesmo problema.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora