XLV. A Fortaleza de Terralarga

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Delétrion sobrevoou a fortaleza quatro vezes, traçando uma rota circular lenta sobre a planície de Terralarga.

Uma porção de guardas saiu de seus alojamentos para ver o que estava acontecendo, qual era a fonte dos sons ritimados de asas cortando ovar. Um deles pareceu dirigir-se ao bastião da muralha para soar um alarme, mas foi impedido por seus colegas.

Valatr, sobre a sela, sorriu ao contemplar os pequeninos elfos dezenas de metros abaixo. O vento açoitava-lhe o rosto, mas não incomodava. Os Mestres eram feitos para aquele tipo de ambiente, seus corpos eram magicamente adaptados para não sofrerem com as mazelas que o vento poderia causar ao elfo comum.

Uma guinada à direita e para baixo pôs dragão e Mestre na rota de um dos bastiões mais abertos, um dos que não era guarnecido por uma balista gigantesca. O que parecia ser o capitão da guarda daquela fortaleza ordenou aos seus que se afastassem.

As patas gigantescas do dragão fizeram tremer a pedra antiga, uma última batida das asas - para estabilizar a aterrissagem - jogou dois guardas para trás, fazendo com que caíssem aos pés de seu comandante. Este último, se aproximou assim que julgou ser seguro.

— A que devo a honra, Mestre? — Perguntou o elfo, solenemente. Com a mão direita, ele fez uma saudação amigável.

Com um toque no pescoço poderoso de Delétrion, Valatr desatou as amarras que o mantinham preso ao lombo do amigo e pulou ao chão, retribuindo a saudação do comandante.

— Boa tarde, comandante...

— Lorde Picellius. — Ele respondeu. Um aperto de mãos rápido e um toque mútuo nos ombros. — Herdeiro de Íssia.

— É um prazer conhecê-lo, milorde. — Valatr desvencilhou-se da mão do elfo, mas manteve o contato visual. — Eu sou Valatr. Somente Valatr.

— Que traz um Mestre de Dragões à fortaleza, se me permite a pergunta?

— Podemos conversar em particular? — Era tudo que ele poderia dizer na frente de todos aqueles soldados rasos.

Ainda que não soubesse o porquê, exatamente, a Dama o enviara para Terralarga, Valatr poderia utilizar a fortaleza de Íssia para cumprir com a outra parte de sua tarefa: convocar a Cavalaria para uma reunião. Isto é, se conseguisse convencer o lorde à sua frente a hospedar a convenção.

O Mestre desamarrou a sela e deixou que está caísse pela lateral do dragão, deixando-o livre para voar para onde quisesse. Provavelmente cansado e esfomeado, Delétrion partiu num voo baixo e preguiçoso pela planície em busca de algo para comer.

Suspirando profundamente, Valatr voltou sua atenção a Picellius, que sinalizava para que caminhassem rumo ao interior do castelo.

O lugar estava estranhamente vazio, percebeu. Exceto pelos criados e escravos, havia poucos guardas e nenhum nobre à vista, nenhum olho curioso que pudesse fazer perguntas indesejadas.

— Onde estão todos? — Valatr indagou, encarando os corredores brancos e pardos.

— Partiram com meu pai para Alis. — Respondeu o herdeiro. — Se está aqui para unir-se à tropa, chegou alguns dias atrasado.

Ainda que as palavras parecessem secas e vazias, o lorde mantinha uma cordialidade amigável que não soava forçada.

Ambos os elfos caminharam para dentro de uma sala ampla, mas simples, que parecia ser utilizada em reuniões menos importantes ou simplesmente para passar uma noite agradável à frente da lareira que ocupava boa parte de uma das paredes.

— Não estou aqui para encontrar as tropas. — Falou o Mestre, finalmente, sentando na cadeira que o herdeiro lhe indicará. — Acontece que os eventos recentes indicaram uma necessidade de reunir o conselho dos dragões. — Uma pausa, Picellius parecia compreender o que ele queria dizer. — Esta fortaleza já foi utilizada diversas vezes para este fim no passado.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora