Capítulo 01 - Saindo de casa

1.1K 61 27
                                    


A insônia lhe perseguia desde que havia casado há três anos. Todas as noites, sem exceção, ele alegava trabalhar até altas horas no escritório e só chegava em casa por volta de uma hora da madrugada, ou quando o dia estivesse amanhecendo. Desde o início Anahí sabia que era tudo mentira do marido. Havia evidências sobre tais mentiras, como marcas de batom no colarinho da camisa, arranhões pelo corpo e o hálito insuportável de bebida alcóolica.

Cansada das brigas, discussões, hematomas pelo corpo, Anahí mantinha-se calada e apenas sobrevivia dia após dia. Ele nunca quis ter filhos, sempre frisou detestar choro de criança. Anahí acreditava que ele mudaria assim que visse o bebê, mas se enganou. O contato que mantinha com a filha era mínimo, pois sempre estava ocupado com algo relacionado ao trabalho, ou era uma dor de cabeça, estava cansado. Nunca tinha tempo para estar com a menina, ou sair para jantar com a esposa.

Suspirou cansada, mirou a filha de dois anos dormindo sobre a cama do casal. Manuela era sua cópia fiel, não tinha nada do pai, o que gerava comentários maldosos dos amigos dele, sempre questionando a paternidade do moreno. Caminhou vagarosamente até a cama e olhou a hora na tela do celular: já era quase duas horas e nada do marido chegar. Teria acontecido algo com ele? Seu coração apertou, sentiu-se angustiada. Apesar de toda a violência preocupava-se com ele.

"Notícia ruim chega rápido", pensou.

Esquecendo-se completamente da hora, ela discou um número conhecido e sorriu ao ver que a pessoa do outro lado da linha atendeu rapidamente.

- Está tudo bem meu anjo? – ele pediu preocupado.

- Está sim, é só que... – ela suspirou, sem saber o que dizer - Desculpe te acordar essa hora...

- Estou sempre pronto para você. – ele disse rapidamente, enquanto se sentava sobre a cama. Deu uma rápida olhada no relógio e assustou-se com a hora. – Estou preocupado com você pequena, o que houve? Ele ainda não chegou? – perguntou calmamente, apesar de já imaginar a resposta. Perdera as contas das inúmeras vezes que ela lhe ligou para conversar durante a madrugada enquanto o marido curtia a noite com outras mulheres. Anahí silenciou e ele sentiu-se culpado. Aquele não era um assunto que lhe dizia respeito. – Eu queria estar te dando um abraço bem apertado nesse momento, porém você mora muito longe.

Anahí fechou os olhos e encolheu as pernas abraçando-as. Daria tudo por um abraço dele naquele momento também.

- Eu queria muito esse abraço. – ela sussurrou ainda de olhos fechados, e uma lágrima escorreu por sua bochecha, rapidamente ela secou e deu um meio sorriso. – Como estão as coisas na academia? – indagou mudando de assunto, e a porta se abriu batendo com força contra a parede. Anahí assustou-se dando um pulo da cama. O celular voou de sua mão e caiu ao chão.

- Estava falando com seu amante? – perguntou em um tom alto, com a voz enrolada por conta da bebida. Ele foi até ela, a segurou pelo braço e empurrou sobre a cama, fazendo-a cair quase sobre Manuela. – VOCÊ É UMA VAGABUNDA! VADIA! MALDITA! VOCÊ É UMA QUALQUER ANAHÍ E TENHO NOJO DE VOCÊ! – ele gritou jogando umas fotos sobre ela. Com os gritos, Manuela acordou assustada e chorando. – CALE ESSA FEDELHA MALCRIADA! EU A ODEIO!

Temendo que ele tentasse algo contra a filha, Anahí a abraçou, porém não conseguia acalmá-la. As lágrimas caiam incontrolavelmente deixando sua visão embaçada. Trêmula, a loira olhou para uma das fotos. Ela e um homem desconhecido em posições comprometedoras. O que era aquilo?

- Não é verdade! – exclamou indo até ele. Precisava acalmá-lo, o marido estava completamente transtornado. Tomado pela raiva, o moreno lhe desferiu um tapa na face, deixando os dedos marcados. O tapa foi tão forte que fez com que Anahí virasse o rosto. Ela sentiu a face arder, levou a mão sobre o local e seu sangue ferveu. Com que direito ele a acusava de algo sem ter a absoluta certeza do conteúdo daquelas fotos? Ela nem conhecia o homem que estava com ela!

- VOCÊ NÃO PRESTA ANAHÍ! VAGABUNDA! MALDITA! SUA PROSTITUTA! – gritou indo para cima dela e a derrubou ao chão. A pequena Manuela gritou pela mãe, e o moreno foi até a menina e lhe deu alguns tapas. Furiosa Anahí foi para cima dele, desferindo golpes em suas costas.

- NÃO ENCOSTA NA MINHA FILHA SEU MONSTRO! – gritou revoltada. Ele desvencilhou-se dela e a olhou friamente.

– Essa coisa que chama de filha nem deve ser minha. – disse e foi até o guarda roupa, pegou a mala, a levou sobre a cama e colou algumas roupas dela dentro – VÁ EMBORA E NUNCA MAIS APAREÇA. E LEVE ESSA CRIATURA PRA BEM LONGE!

Descontrolado, ele pegou o celular dela que estava no chão e arremessou contra a parede. Jamais esperava que Anahí pagasse com a mesma moeda, não admitia ser traído, trocado.

- Vai se arrepender disso Alfonso. – falou com os dentes trincados. Secou as lágrimas, pegou Manuela no colo e saiu do quarto. 

Un Nuevo SolOnde histórias criam vida. Descubra agora