Capítulo 06 - Pau que nasce torto nunca se endireita

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Quando saíram da delegacia já era por volta do meio dia. Alice se dispôs a fazer almoço para todos, pois necessitava ver a filha e dar todo seu apoio. Após o almoço o clima ficou um tanto tenso, Fernando e Alice se entreolhavam como se disputassem uma briga de olhares para ver quem começaria o interrogatório. Percebendo que Alice e Fernando tinham muito o que conversar com a filha, José levou Manuela para o quintal para brincar com Ariel no gramado.

- Podem perguntar, não fiquem me olhando dessa forma. – a loira murmurou.

- Porque nunca nos contou que ele te batia? – Fernando perguntou sem rodeios, apoiou os braços nas pernas, curvando o corpo para frente encarando a filha. Anahí ergueu os pés sobre o sofá, abraçou as pernas, desviou o olhar repreendedor dos pais. Não era algo agradável para falar e tinha vergonha de admitir aos pais que o marido a espancava.

- Medo, vergonha... – ela falou olhando para o pai, com os olhos mareados. – Nem eu mesma sei explicar como fui tão iludida em pensar que ele ia mudar.

- Pau que nasce torto nunca se endireita.

- Eu lutei pela Manuela papai, somente por ela. – Anahí falou segurando a vontade de chorar.

- Tem certeza? – Fernando indagou alterando a voz, a loira encolheu os ombros e fechou os olhos - Porque se fosse pela Manu, teria se afastado desse crápula há muito tempo. Acha certo ela ver o pai espancar a mãe? Onde estava o seu juízo Anahí?

- Fernando! – Alice bronqueou – Não há como mudar o passado, combinamos de conversar e não julgar o que levou a nossa filha a insistir nesse relacionamento.

- Desculpe, eu não consigo entender. – ele falou decepcionado, meneou a cabeça - Eu juro que tento, mas é difícil.

- Estava cega de amor, obcecada. – murmurou Anahí. A loira puxou o ar profundamente e depois o soltou. – Tudo começou depois que engravidei. – ela tragou saliva, olhou para os pais e depois cerrou os olhos, como se recordasse – Quando estava no quarto mês de gestação ele chegou bêbado, e me bateu pela primeira vez porque me recusei a ter relações com ele. – contou, comprimiu os lábios e secou a lágrima que escorreu na bochecha – Depois disso ele passou a chegar tarde todos os dias. Sempre soube o que ele fazia de fato, mas não queria aceitar, fingia que realmente trabalhava até tarde, que estava batalhando pelo nosso conforto.

- Definitivamente o amor é cego. – Fernando murmurou. - Eu sempre soube que Alfonso não era digno do seu amor, mas nunca falei nada porque via que o amava muito. Se pudesse voltar atrás teria sido contra o casamento de vocês. – Fernando falou áspero e Anahí suspirou.

- Se eu soubesse o que aconteceria nem teria me casado. – rebateu com cara de poucos amigos.

Fernando a encarou e literalmente mordeu na língua para não falar coisas que poderiam ferir ainda mais a filha. Estava irritado, nervoso por descobrir os maus tratos, e de forma alguma conseguia entender os motivos que levaram Anahí a insistir em algo sem futuro. A loira puxou o ar, fitou os pais e um pequeno sorriso brotou em seus lábios.

- Eu trai o Alfonso. – confessou em um sussurro e Alice arregalou os olhos, Fernando segurou o riso. Ambos a olhavam curiosos, aguardando o restante da confissão. – Foi com José... – ela sussurrou. Alice e Fernando estouraram em uma gargalhada. – Parem! Aconteceu uma única vez.

- Por isso que chegou de manhã em casa na última vez que esteve aqui no mês passado? – questionou Fernando estreitando os olhos. Anahí apenas assentiu, mordendo o lábio inferior. A carranca do pai não existia mais, agora ele estava mais calmo e com um sorriso largo nos lábios.

- Traição não se paga com traição. - Alice falou e sentou ao lado da filha, afagou suas costas.

- Eu sei mamãe, mas aconteceu. – deu de ombros - Estávamos bêbados e acabamos juntos. – ela falou corando. Fernando arqueou a sobrancelha, cruzou os braços sobre o peito e fitou a loira. – Pare de me olhar assim papai, quer que eu grite aos quatro ventos que eu transei enlouquecidamente com o José durante toda a noite naquele dia?

- E eu inocente achando que ele apenas cuidou de você. – ele falou meneando a cabeça.

- E acha mesmo que ele te contaria que dormiu com sua filha? – a loira indagou com um olhar desafiador direcionado ao pai.

Alice observou-os, teria que intervir ou Anahí e Fernando iniciariam uma discussão. De fato, a filha havia herdado a personalidade forte do marido, não saberia distinguir quem era o mais teimoso, cabeça dura.

- Deixe o passado onde ele está e viva o presente, e pense num futuro melhor. – Alice falou a fim de mudar o assunto - Quem sabe o destino não tenha um príncipe encantado reservado para você. Quando menos esperar ele aparece por essa porta. – disse em tom de brincadeira, para amenizar o clima.

A porta se abriu e por ela entrou José com Manuela no colo e Ariel correndo em sua frente. Alice e Fernando começaram a rir, Anahí olhou minimamente para José que tentava entender o motivo daqueles risos. Se tivesse o conhecido três anos antes na certa teria se apaixonado por ele no primeiro momento.

- Posso levar a Manu para passear no parque enquanto conversam?

- Eu acho que perdi meu amigo. – Anahí falou fazendo um bico.

- Vai com eles filha. – Alice falou meio irônica, a loira fitou a mãe. – Ande, vá se divertir.

- Quer vir tomar sorvete com a gente pequena? – ele indagou com um sorriso nos lábios. A loira assentiu e foi até ele, abaixou-se para pegar Ariel e saíram pela porta, nem se despedindo dos pais, praticamente ignorando-os, como se nem estivessem ali.

- Eu vi aqueles olhos azuis brilhando com um convite tão simples? – Fernando indagou estreitando os olhos e Alice assentiu.

- Anahí não quer aceitar, mas é apaixonada por José desde que o conheceu.

- E depois do que aconteceu... – ele estreitou os olhos e riu malicioso - José estava todo arranhado naquele dia, se não me falha a memória. – comentou com a mão sobre o queixo, recordando-se.

- Sem comentários, por favor. 

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