Capítulo 02 - Eu sabia que você viria

936 42 16
                                    

Com a visão turva por conta das lágrimas, caminhou até o quarto da filha e trancou a porta. Juntou algumas roupas e o que julgou ser necessário colocando em uma pequena mala. Abriu a porta para sair daquela casa e nunca mais voltar, e deu de cara com Alfonso. A expressão dele não era nada amigável, os músculos da face estavam rígidos e de seus olhos pareciam sair faíscas. 

 O moreno arrancou a menina dos braços de Anahí, praticamente jogou a criança no chão, e prensou a loira contra a parede, beijando desesperadamente seu pescoço. As mãos dele apertaram as laterais de seu corpo, ela sabia o que ele queria, mas dessa vez não conseguiria nada. Ergueu o joelho acertando-o entre as pernas. Ele caiu ao chão, gemendo de dor. Anahí pegou rapidamente a filha no colo e saiu apressada até a garagem, esquecendo-se das roupas da menina. Entrou no carro e deu a partida. O único pensamento que ela tinha era fugir para um lugar onde ele não a encontrasse.

Manuela chorava alto, esticava os bracinhos em direção de Anahí, mas a loira não podia parar. Se parasse de dirigir ele as alcançaria se tivesse a seguido. Seu coração doía imensamente, ao ver sua princesinha chorando desesperadamente, a sensação era de uma faca cortando o coração. Respirou fundo e soltou o ar vagarosamente pela boca, tentando controlar as lágrimas que molhavam seu rosto, a visão estava começando a ficar embaçada.

- Está tudo bem minha vida. – falou olhando pelo retrovisor. – Não chora meu amor, por favor. – a voz dela saiu embargada. O choro da menina parecia aumentar mais e mais. Talvez se cantasse um pouco como fazia para a filha dormir ela se acalmasse. - Meu anjinho, meu anjinho... – começou a cantar, mirou a menina rapidamente pelo retrovisor - Feche os olhos de mansinho, deixa o sono pousar pra sonhar com borboletas amarelas, violetas. – seguiu cantando e Manuela ao ouvir a voz da mãe foi se acalmando, recostou a cabeça na cadeirinha e suspirou, Anahí então continuou - Brancas, azuis, vermelhas, verdes, pretas, pintadas, listradas, xadrez, pois o sol já foi dormir para a noite te abraçar...

A menina deu um longo suspiro e apagou. Uma chuva fraca iniciou-se e em questão de minutos já chovia muito, Anahí mal conseguia ver a sua frente. Mas teria que seguir adiante ou ele a alcançaria e obrigaria a ter relações para apenas dar prazer a ele. Anahí não recordava da última vez em que teve um orgasmo durante o sexo com Alfonso. Sempre ele era o primeiro a chegar ao ápice, e muitas vezes, Anahí ficava aguardando por mais, mas ele apagava ao seu lado na cama. Romantismo era algo raro na personalidade de Alfonso, poderia dizer que no máximo um ou dois dias por mês ele a tratava bem. Anahí sempre temeu sair de casa e acontecer algo pior, mas ao vê-lo maltratando fisicamente Manuela, seu instinto maternal gritou dentro de si para protegê-la com unhas e dentes. E por um fim de uma vez por todas em seu tormento, o motivo de noites mal dormidas, e claro, proteger aquele ser tão inocente, que era Manuela.

Todo aquele sentimento que acreditava sentir por Alfonso transformou-se em raiva, decepção, medo. Odiava-se por insistir em um relacionamento fadado ao fracasso, que sempre soube que não seria de agradável convivência. Era ela que esperava até altas horas por ele, era ela que criava sozinha Manuela, era ela que tinha que fingir uma felicidade diante dos amigos dele que não possuía. Era ela que apanhava quando ele chegava bêbado em casa caso se negasse a transar com ele, e na maioria das vezes ele nem aguardava que estivesse pronta para recebê-lo. Era ela que tinha que mentir sobre os hematomas pelo corpo, andar com roupas de manga longa em um calor escaldante. Daquele dia em diante, Alfonso jamais encostaria nela, tudo seria diferente.

O painel começou a piscar acusando que a gasolina estava acabando, para sua sorte estava a pouco menos de cem metros de um posto de gasolina. Parou para abastecer e aproveitou para comprar algo para a filha comer. Acordou-a, dividiram um suco e um croissant de legumes, e seguiu viagem, pois ainda faltavam alguns quilômetros até chegar à casa dos pais. O relógio marcava três horas e trinta minutos, e calculou que dentro de menos de uma hora chegaria ao destino.

Exatamente às quatro e quinze da madrugada Anahí chegou à cidade. Estava tudo no mais absoluto silêncio, não havia nem cães pela rua, ou latindo nas casas. Sem pressa, reduziu a velocidade para não fazer barulho e assustar os moradores daquela pacata cidade de interior.

Ao se aproximar da casa dos pais seu coração acelerou ao perceber que havia alguém sentado sobre a escada, na entrada principal. Estacionou e então o viu, e ela respirou aliviada. José sempre estava ao seu lado para ampará-la nas horas difíceis. Instintivamente levou uma das mãos ao ventre e sorriu, sentindo seus olhos marearem. Estacionou o carro trêmula, desligou-o e saiu do veículo, sem importar-se com a chuva que ainda caia, jogando-se nos braços dele que a aguardava ansioso.

- Graças a deus você está bem! – ele falou aliviado, apertando-a conta o peito. – Ele te machucou? – indagou olhando-a, procurando por algum machucado. Anahí negou, e então ele olhou na direção do carro.

- Está dormindo. – sussurrou.

- Venha, vamos para meu apartamento. – disse a puxando e Anahí não se moveu – Acordar seus pais assim no meio da noite só vai assustá-los.

- Como sabia que eu vinha?

- Meu coração disse que viria para cá. – ele falou e estendeu a mão para ela. A loira segurou e juntos foram até o carro.

José dirigiu até seu apartamento, pegou Manuela no colo, com cuidado e a levou até seu quarto, deitando a menina em sua cama. Anahí recostou-se na porta e observou-o carinhoso com a filha. Porque Alfonso não demonstrava amor pela filha? José sorriu minimamente ao ver que ela o observava, caminhou até ela e a beijou demoradamente na testa.

- Vá tomar um banho, há toalhas limpas no armário do banheiro.

José procurou uma calça de moletom e uma camiseta para que ela vestisse. Ficariam enormes naquele corpo pequeno, mas não poderia permitir que ficasse molhada.

Anahí nem se preocupou em trancar a porta do banheiro. Ali com José não necessitava trancar-se com Manuela enquanto tomavam banho, pois nada aconteceria. Alfonso não entraria no banheiro e a obrigaria a ter relações com a pequena assistindo. Pobre Manuela, crescia rodeada de traumas e medos.

Retirou a roupa e mirou o corpo pelo espelho, todo marcado com hematomas arroxeados, uns azulados. 

Un Nuevo SolOnde histórias criam vida. Descubra agora