Capítulo 30 - Audiência 03

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Novamente Júlio iniciou o questionamento. Ele sorriu para a pequena, que mal aparecia atrás da bancada. Ela acenou para a mãe e José, e mandou beijinhos para os dois. O juiz observou e sorriu encantado. Nitidamente a menina era muito amada por aqueles dois.

- Você gosta de morar com a mamãe?

- Gosto muito. – Manuela disse assentindo e fazendo gesto de positivo com os polegares – Com a mamãe e o meu papai. – a pequena disse apontando para os dois e após jogando beijos novamente.

- E o seu pai que se refere é o Alfonso, suponho.

- Não! – disse rapidamente balançando a cabeça negativamente - Ele é malvado, briga muito com a mamãe, bate nela. – a pequena disse batendo nos braços e fazendo caretas - Não gosto dele.

- Foi sua mãe que pediu que dissesse isso?

- A mamãe disse pra eu falar a verdade. – contou. Júlio sorriu com a inocência da menina - Mentir é feio e faz o nariz crescer né mamãe? – indagou olhando para a mãe que assentiu com um sorriso - Ele disse que eu sou pirralha nojenta e muitas coisas feias. – falou e cruzou os braços sobre o peito e fez um bico enorme.

- E o José?

- É o melhor papai do mundo. – ela disse abrindo um sorriso e fez um coração com as mãos - Eu sei que ele não é meu papai de verdade, mas é como se fosse, porque ele cuida de mim, me dá beijos antes de dormir, me leva pra passear. Me deu até uma cachorrinha, a Ariel, mas o Alfonso matou ela.

- Sem mais perguntas excelência.

- Eu já posso ir pra casa com a mamãe? – Manuela perguntou olhando para o juiz que abriu um sorriso. A menina subiu sobre a cadeira e apoiou as mãos na mesa do juiz - Por favor, me deixa ficar com ela? – pediu juntando as mãozinhas - Não quero morar com o Alfonso, ele não gosta de mim. – falou chorosa. Como não obteve respostas ela chamou Júlio com o dedinho - Diz pra esse senhor que eu quero ir com você mamãe, por favor. – falou alto arrancando risos, inclusive do juiz.

- Pode ter certeza de que ele vai te ouvir Manu. – Júlio falou e piscou para a pequena que atirou um beijo no ar para o advogado.

- A acusação pode interrogar a menor. – anunciou o juiz. Carlos caminhou até a menina e esta lhe sorriu acenando timidamente. Manuela voltou a sentar-se na cadeira.

- Você gostaria de morar com seu papai Alfonso e a mamãe na sua casa?

- Não! – ela praticamente gritou – Eu não quero morar lá tio Carlos. Não gosto daquela casa e ele – a pequena disse apontando para Alfonso - Bate em mim e na mamãe. – novamente ela juntou as mãozinhas e as lágrimas escorreram em suas bochechas - Por favor, eu quero ficar só com a mamãe e o papai José.

O medo estampado nos olhos daquela menina que chorava e implorava para não estar com Alfonso o tocou profundamente. Manuela pode retirar-se e foi levada para fora pela avó. Carlos caminhou até sua mesa e pegou um envelope pardo e entregou ao juiz. Estava mais do que na hora dele dar um basta naquela situação. Não se perdoaria se Manuela ficasse sob a guarda de um homem amargurado e sem estrutura alguma para criá-la.

- Nesse envelope há umas fotos. – ele falou, tragou saliva - Provas que Alfonso tinha em seu poder que supostamente Anahí o traia. Como não acreditava que Anahí fosse infiel, pedi que verificassem a procedência das fotos. São falsas.

- O que? Do que está falando Carlos? – Alfonso indagou incrédulo. Aquilo não podia ser verdade. Carlos estava mesmo fazendo aquilo?

- As fotos que recebeu são montagens Alfonso. – Carlos falou fitando o amigo, e logo voltou-se para o juiz - E ao verificar a procedência, descobri que foram encomendadas por uma pessoa, a qual Alfonso mantinha um relacionamento extraconjugal. – contou abrindo um pequeno sorriso triunfador. Anahí observava Carlos com os olhos arregalados, completamente surpresa - Nesse envelope há um exame de DNA de outro menor, do sexo masculino, filho de Alfonso e Claudia, a pessoa que pagou pelas fotos.

- Você é meu advogado! Deveria esconder isso e apenas acrescentar provas a meu favor! – Alfonso esbravejou. – Eu estou lhe pagando! – resmungou. Carlos o encarou e conteve-se para não o segurar pela gola da camisa.

- Guarde o seu dinheiro Alfonso! – disse com o tom de voz alterado - O simples fato de livrar a Manu de suas mãos sujas me deixa satisfeito, não há dinheiro no mundo que pague o bem estar de uma criança.

Um burburinho formou-se e o juiz bateu o martelo, porém não obtinha silêncio. Alfonso foi até Carlos e lhe desferiu um golpe no nariz, que imediatamente sangrou. O juiz então solicitou dez minutos de intervalo para dar a sentença.

Um clima tenso se instalou. Alfonso foi até Anahí e imediatamente José pôs-se a frente dela para protegê-la.

- A culpada disso tudo é você! – Alfonso falou lhe apontando o dedo – Por sua culpa eu saia de casa em busca de sexo, porque você nunca quis me dar o que almejava!

- Cale-se Alfonso! – José gritou – Não ouse culpar Anahí pelos seus erros. Nada justifica você ir em busca de satisfazer seus prazeres fora de casa. Se para você Anahí não servia mais, porque não se divorciou e foi viver a vida conforme queria? – indagou e Alfonso gargalhou.

- Você também irá se cansar, anote isso. – falou e agora dava de dedo na cara de José, que se segurava para não partir para a agressão - Ela já deve ter começado a dar desculpas para não transar. Você vai ter que ir atrás de outras mulheres para se satisfizer.

- Jamais ousaria machucar a mulher que amo dessa forma Alfonso. Somos completamente diferentes.

O juiz voltou a entrar na sala e o clima tenso só aumentou. José voltou ao seu lugar logo após verificar que Anahí estava segura. O juiz direcionou um olhar frio para Alfonso e sorriu para Anahí.

- Acredito que todos já saibam ou deduzam a sentença final. – ele falou seriamente, direcionou o olhar para Alfonso que aparentava estar nervoso, logo após para Anahí que estava da mesma forma – Pela quantidade de provas apresentadas pelo advogado de acusação... – disse fazendo uma pequena pausa e olhou para Anahí que cerrou os olhos. O coração da loira deu um solavanco e apertou-se. - A menor ficará sob guarda definitiva da mãe. – disse sem delongas - O pai está proibido de vê-la, chegar perto, participar da vida da menina até que prove que está em plenas condições psicológicas de manter algum tipo de relacionamento com a menor.

Alfonso levantou-se e aproximou-se de Anahí novamente. José levantou-se também, temendo que ele fizesse algo contra a loira.

- Fique com essa fedelha, faça bom proveito. – falou agressivamente, encarou José - Aproveita e registra ela no seu nome também. Não quero nenhuma ligação com essa criaturinha, muito menos com esse que pode nem vir ao mundo.

- Pode ter absoluta certeza de que me encarregarei disso Alfonso. Minhas filhas terão orgulho em carregar o meu sobrenome. – José falou fitando-o seriamente.

- Eu ficarei honrado em dar entrada no processo. – Carlos disse, interrompendo-os – E caso desejar casar-se na igreja novamente, com o boletim de ocorrência conseguirão a permissão.

Alfonso olhou de um para o outro e chutou o pé da mesa.

- Vão para o inferno todos vocês! – gritou enquanto saia da sala de audiências. 

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