Capítulo I

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  Não ser popular jamais foi problema para mim, eu não me importava e já estava acostumada com as ofensas. Mas minha impopularidade afetava negativamente meu irmão. Caíque sempre foi ao meu socorro, era conhecido como o "irmão da esquisita", ele tinha sonhos e eu odiava destruí-los. Ele queria ser popular, mas ser meu irmão o ofuscava. Eu sentia o peso das palavras e ele o peso de ser meu irmão.
Foi assim por todo ensino fundamental, mas então tivemos que mudar de cidade e começar o ano em uma escola nova, com gente nova. Iniciaríamos o nosso último ano letivo. Não éramos gêmeos, e nunca reprovamos, tínhamos a mesma idade por um deslize do nosso pai - mas conto essa história mais tarde - então, como eu falava, iniciamos o nosso último ano letivo e foi aí que pedi que ele fingisse não me conhecer, implorei para que ele fizesse o que eu estava pedindo. Ele não gostou nada dessa história, mas eu argumentei, mostrei todos os pontos positivos e chorei, então ele concordou. E como eu esperava ele se enturmou rapidamente, entrou no time de futebol, namorava uma das líderes de torcida, seu melhor amigo era o capitão do time. Deixou de ser o "irmão da esquisita" e se tornou Caíque. Eu sabia que ele gostava disso tudo, e eu queria que continuasse assim.
  Eu estava na biblioteca, estudando para álgebra, estava sentada na mesa mais escondida que tinha lá. E mesmo assim Caíque me encontrou, sorriu e sentou-se em uma cadeira em frente a minha.
  - O que está fazendo aqui? - perguntei encarando meu caderno.
  - Tenho que ter algum motivo para ver minha irmã?
  - Caíque, temos um trato, lembra? Não somos irmãos aqui. Alguém pode nos ver.
  - Quer mesmo continuar com isso? Não gosto de te ver sozinha.
  - Claro que sim! E eu não fico sozinha, também tenho amigos sr.popular. Agora vá embora.
  - Tá me expulsando?
  Olhei para ele e lhe dei um sorriso.
  - Sim. Tenho que estudar - mostrei o caderno - e você precisa parar de se preocupar comigo.
  - Isso não posso fazer.
  - Estou bem, não tem porquê se preocupar.
  - Kate, se alguém ofender você, fazer qualquer coisa que te machuque, vai me contar, não vai?
  - Claro. - que não. Meu irmão está feliz, não faria nada para estragar isso - Agora vá.
  - A segunda vez que me expulsa.
  - Você está me atrapalhando.
  - Tudo bem. Eu vou. Tchau. Te amo.
  - Também te amo.
  Caíque foi embora e eu respirei aliviada. Minha infelicidade escolar não precisava ser a dele e ainda mais, como eu ia dizer ao meu irmão que a pessoa que mais me ofendia era justamente sua namorada? Isso destruiria tudo que meu irmão conquistou.
  O sino tocou avisando que o intervalo havia encerrado, esperei uns cinco minutos para enfim sair da biblioteca, assim os corredores estariam quase vazios.
  Desci a escada, com a cabeça baixa, fui até o meu armário, guardei o livro de álgebra e tirei o de biologia. Fechei o armário e dei de cara com Diego, o melhor amigo do meu irmão.
  - Olá você.
  Tentei passar mais ele bloqueou todas minhas tentativas.
  - O que você quer? - perguntei enfim.
  - Ajuda.
  - Não posso ajudar. - falei e me esquivei seguindo rumo a minha sala, ele seguia ao meu lado.
  - Eu nem disse o que queria.
  - Não vou ajudá-lo.
  - É em álgebra, você apesar de ser você, é a pessoa mais inteligente da sala, a única que entende o que o sr.Martins fala.
  - E porquê eu te ajudaria? Algo que não vou fazer, claro.
  Ele adiantou o passo e parou na minha frente o que me fez quase colidir com ele.
  - Se eu não tirar uma nota excelente não vou recuperar minha nota péssima da prova passada e não vou puder participar da competição estadual de futebol. O time vai ficar sem rumo.
  Eu não me importaria, mas meu irmão fazia parte do time e estava há meses falando desse campeonato, estava super empolgado e eu sabia que Diego era uma peça importante do time. Eu devia tanto ao meu irmão...
  Bufei.
  - Tá bem. - respondi - Mas só vou fazer isso pelo time. Entendeu?
  - Entendi perfeitamente. E então, quando?
  - Hoje de tarde, na biblioteca.
  - Não pode ser na sua casa?
  - Não, não pode.
  - Que tal na minha? É que não quero...
  Então entendi.
  - Que nos vejam juntos. - completei magoada, não deveria doer tanto. Fingi não me importar - Claro. Então na sua casa.
  - Às duas?
  - Às três. - falei - Com licença.
  Passei e o deixei no corredor sozinho.

 
 

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