Capítulo XXXII

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  As coisas começaram a se estabilizar. No dia seguinte após eu ter voltado com meu pai para casa, eu, ele e meu irmão começamos a desempacotar as caixas e organizar a casa. Foi cansativo, mas foi divertido também. Foi um momento em família, e eu estava precisando de momentos assim. Denise apareceu por lá de tarde e nos ajudou também. Tive mais uma oportunidade de ver que havia um clima entre Caí e ela. Até tentei falar sobre isso com ela, mas Denise caiu na risada e disse:
  - Não seja boba, Kate. Seu irmão nunca vai querer nada comigo. Nós nos aproximamos, mas apenas para encontrá-la. Nada demais.
  Ou ela não queria criar expectativa ou ela realmente não havia percebido. Mas eu tinha e não deixaria ela perder essa chance, nem meu irmão de namorar com uma garota incrível como Denise.
  No fim do dia nós comemoramos a casa arrumada com pizza.

○○○

  No outro dia fui até a casa do Sr.Fillipo, meu pai havia me contado o quanto ele ficou preocupado com minha fuga e fui até lá para me desculpar e perguntar se podia continuar trabalhando na floricultura, levei a maior bronca dele por ter fugido, pedi tantas desculpas que ele jurou me demitir se eu falasse desculpa de novo.
  Eu tinha uma nova casa, meu emprego, estava com as pessoas que amava, falava todos os dias com minha mãe por ligação ou vídeo chamada. A minha vida parecia enfim entrando nos eixos. Voltei para escola na segunda-feira, uma semana havia se passado desde "o pior dia da minha vida". Mas parecia que fazia meses desde aquilo. No começo fiquei um pouco apavorada só em pensar em ter que voltar para escola e encarar todo mundo que riu de mim e zombou. Mas com meu irmão ao meu lado e minha melhor amiga eu coloquei esse pavor em escanteio e fui. Para minha surpresa não houve nenhum comentário, nenhum sorrisinho. E um alívio me inundou.
  As primeiras duas aulas seguiram normalmente, eu não tinha visto Diego e estava agradecendo silenciosamente por isso, eu pensava nele mais do que queria, eu sentia tanto a falta dele que doía. Eu ouvia o nome dele e sentia o coração acelerar, sentia o perfume dele na rua, até olhar para as estrelas me fazia lembrar dele. E vê-lo não ajudaria em nada. Mas era inevitável, e na hora do intervalo eu o vi parado em frente ao seu armário.
  Abaixei a cabeça, abri meu armário peguei o livro de álgebra lá e fui para biblioteca. As provas começariam em uma semana e a primeira era a de álgebra.
  Isso só me fazia pensar mais em Diego.
  Bufei irritada comigo por não conseguir tirar Diego dos meus pensamentos.

○○○

  A semana passou voando. Eu, Denise e Caíque estudamos juntos para todas as provas. Mantinha minha cabeça cheia de atividades, fórmulas e definições para não pensar tanto em Diego, o que é claro, era inútil. E claro que não colaborava o fato de sempre o flagrar me observando e algumas vezes parecia até que ia vim até mim, mas no último instante mudava de ideia e ficava onde estava.
  Quanto a minha meia-irmã, eu a ignorava e ela me evitava. Caíque havia me contado que nosso pai não havia aliviado com ela pelo que fez comigo, havia castigo, mesada suspensa, palavras duras que ela precisava ouvir, eu esperava que ao invés de me odiar ainda mais ela aprendesse com seus erros e as consequências deles para amadurecer.
  O campeonato se aproximava, o time treinava rigorosamente, os professores corrigiam e entregavam as provas, as líderes de torcida ensaiavam, dançavam e gritavam o grito de guerra. Havia também o burburinho sobre o baile, o tema, a decoração. A semana realmente passou voando e bastante agitada. Mas de tudo que eu podia estar preocupada, a minha cabeça só pensava na nota de Diego em álgebra e se ele jogaria no campeonato. Sabia que era importante para ele esse jogo, assim como era para o meu irmão e para todos. Ele tinha se empenhado, eu  tinha me empenhado para ensinar o máximo para ele. Queria o resultado positivo.
  O professor de álgebra entregou as provas corrigidas três dias depois que fizemos. Observei atentamente quando o professor chamou Diego para entregar a prova, mas ele não demonstrou qualquer reação para eu presumir se sua nota tinha sido boa ou ruim, apenas pegou a prova, dobrou e colocou no bolso da calça.
  Bufei. Agora estava extremamente curiosa.
  Perguntei com um fingido desinteresse ao meu irmão, mas ele disse que Diego não lhe contou a nota.
  Queria me convencer que só queria saber a nota para saber se meu ensino tinha valido a pena, mas a verdade era que eu queria saber se ele tinha cumprindo a promessa que me fez.
  Ah, Kate, o que faço com você?  - eu me perguntava - O que faço com esse coração que se recusa a largar esse sentimento por Diego? O que faço com essa saudade que sinto de estar com ele?
  Estava me questionando justamente sobre tudo isso quando parei em frente ao meu armário para pegar minha mochila e ir embora e algo me chamou atenção. Uma pontinha de papel estava saindo de dentro do meu armário, puxei ele. Estava dobrado.
  Com a testa franzida desdobrei o papel, meu coração deu um salto, era a prova de Diego.
  Ele havia tirado a nota máxima, tentei conter um sorriso mas não consegui e ele só se alargou ainda mais quando li:
  Eu prometi à você. Te amo, Kate.
  Será que todo meu corpo me traia quando o assunto era Diego?
  Senti que alguém me observava, virei-me e vi Diego perto do armário dele, ele me deu um sorriso.
  O meu sorriso sumiu.
  Suspirei. Peguei minha mochila no armário e a coloquei nas costas, fechei meu armário e fui até ele com a prova na mão.
  - Parabéns. - falei estendendo a prova para ele.
  - Você que merece os parabéns, não teria conseguido sem você. - disse ele - Fique com ela, por favor.
  Recolhi o braço e guardei a prova no bolso da minha calça jeans.
  - Você conseguiu. - eu disse - Vai participar do campeonato.
  - Eu não vou jogar.
  - O quê?!
  - Não vou jogar, Kate.
  - Por quê? Não pode fazer isso! Você estudou todo esse tempo com a finalidade de participar desse jogo! O time depende de você! Isso é a coisa mais importante para você.
  - Eles vão estar melhor sem mim. E a coisa mais importante para mim nesse momento é você. Não consigo me concentrar no jogo, Kate porquê tudo que penso é em como errei com você e o que posso fazer para você voltar a confiar em mim.
  - Aqui não é lugar para falar sobre isso, Diego...
  - Eu amo você e a coisa que mais quero nesse mundo é que volte a confiar em mim, que volte para mim.
  - Diego, vá ao campeonato, foque no jogo, eu sei que vai se arrepender se não jogar e não quero ser a culpada por isso.
  - Eu não vou jogar.
  - Diego...
  Ele se aproximou de mim, meu coração parecia que ia saltar do peito. Diego segurou meu rosto e me deu um beijo na testa.
  - Tchau, Kate.
  - Pense bem sobre o campeonato! - falei antes que ele dobrasse e sumisse no corredor.
 

 
 

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