Na manhã da segunda-feira eu e Diego combinamos de assumir nosso namoro para todos na hora do intervalo, no refeitório. Iríamos entrar de mãos dadas e confirmar o boato que rondava pelos corredores. Na teoria estava tudo perfeito, mas quando finalmente chegou a hora eu não me sentia preparada, na verdade algo dentro de mim me dizia para não entrar no refeitório. Era nervosismo. Odiava chamar atenção e tinha que ter me apaixonado justo por um dos garotos mais populares da escola.
- Tem mesmo certeza que quer arruinar sua reputação? - perguntei tentando parecer mais relaxada - Assumindo o namoro com a garota mais esquisita da escola.
- Nunca tive tanta certeza em minha vida. - respondeu Diego - E você não é esquisita.
Respirei fundo.
- Tudo bem - eu sorri - Pronto?
Ele pegou minhas mãos nas suas e levou até seus lábios. Beijou cada uma, olhou para mim e respondeu:
- Sim. E você?
- Sim.
O mais engraçado é que apesar de todo meu nervoso eu jamais hesitaria em minha resposta. E me dar conta disso me fez ter mais certeza do quanto eu o amava.
Entrelaçamos nossas mãos, entramos no refeitório e - de tudo que eu havia imaginado para esse momento, o que jamais imaginei aconteceu - fomos recebidos por uma salva de palmas, assobios, batidas nas mesas. Meu primeiro instinto foi recuar. Mas Diego segurou minha mão firmemente obrigando-me a ficar exatamente onde estava. Ele parecia ter paralisado ali, estava mais pálido do que já tinha visto antes e parecia nauseado.
- Diego, o que está acontecendo? - perguntei. Mas ele não me respondeu.
Ele olhava fixamente para frente, segui seu olhar e lá estava Camille, no centro de tudo aquilo. Ela veio caminhando em nossa direção lentamente, apreciando toda aquela cena, batendo palmas de forma satisfatória até que parou bem em nossa frente, com um sorriso triunfante. Alguém na platéia fez sinal para que cessasse os burburinhos e o silêncio tomou conta do refeitório.
Tentei puxar Diego, mas ele continuava ali, parado onde estava encarando Camille com os olhos fixos.
Por fim, após seu momento misterioso, Camille disse:
- Meus parabéns, Diego! Eu te disse que você ia conseguir, nunca duvidei que ganharia. Te falei desde o início. Você ganhou.
Eu não tinha entendido nada.
O que ele tinha ganhado?
O que significava toda aquela algazarra?
- Camille, eu te imploro, cale-se. - pediu Diego.
Senti um nó no estômago, o coração parecia apertado, sabia que algo muito ruim estava prestes a me atingir, mas ainda assim, com uma coragem que eu não fazia ideia de onde vinha, eu perguntei:
- O que ele ganhou, Camille? Do que você está falando?
- Kate...Por favor... - começou Diego, mas Camille o interrompeu.
- Uma aposta. Ele ganhou uma aposta. - disse ela - Você foi tão ingênua achando que ele gostava de você.
- Cale essa boca! - gritou Diego.
A mão de Diego segurava ainda mais forte a minha.
- U-uma aposta? - perguntei - O que vocês apostaram?
- Você, tolinha. Acha mesmo que Diego se apaixonaria por você? Tudo foi uma aposta.
Sentia como se faltasse ar em meus pulmões, sentia meu coração sendo partido a medida que a ficha ia caindo. O mundo acabava de desabar sobre mim.
E doía tanto.
- Diego, me-me diz que isso não é verdade, por favor, me diz que não é verdade! - pedi.
Ele não negou.
- Achei que fosse mais inteligente, Katherina. - disse Camille com um brilho de divertimento nos olhos.
Ela tinha acabado com minha vida e achava graça.
Eu tinha caído em mais uma armação dela.
- Não acredito que fez isso comigo. - falei quando as primeiras lágrimas começaram a cair.
Ele não olhou para mim.
Tentei soltar minha mão, mas Diego continuava segurando firme.
- Acho que agora devo pagar o prometido. - disse Camille.
No segundo seguinte ela o beijou na boca. A platéia gritou parecendo maravilhados com o espetáculo. A mão dele soltou a minha. Não vi mais nada, sai correndo, sendo motivo de gargalhadas, os olhos embaçados pelas lágrimas. Entrei na primeira sala vazia que encontrei, o laboratório de biologia e tranquei a porta. Depois senti minhas pernas cederem e eu cai ajoelhada no chão.
A dor que eu sentia em meu peito, era tão forte, como se ácido corroesse meu coração lentamente. Todas as lembranças maravilhosas se tornaram dolorosas, cada sorriso, cada beijo, carícia e declarações. Tudo era mentira! Estava tão claro, sempre esteve! Como é que Diego iria se apaixonar por mim? Como fui tão idiota! Imbecil!!
Tudo por uma aposta.
As lágrimas desciam sem parar.
- Kate! Kate! - ouvi Diego gritando, a voz se aproximava de onde eu estava, então ele esmurrou a porta do laboratório - Kate, eu sei que está aí. Por favor, me deixe explicar!
- Me deixe em paz! - gritei para ele - Você já ganhou a maldita aposta, o que quer mais?!
- Não foi como ela falou! - gritou ele de volta - Você precisa acreditar em mim! Abre a porta e vamos conversar!
- Eu não quero mais nada com você! Não quero te ver, não quero te ouvir! Nunca mais fale comigo, Diego! Nunca mais olhe em minha cara!
- Sabe que não posso fazer isso! Eu amo você!
- Pare de falar isso!
- EU AMO VOCÊ!
- Pare, eu te odeio, Diego!
- Abra a porta e fale olhando em meus olhos tudo isso! - pediu ele.
- Eu não quero mais te ver. - falei com a voz falhando.
- Deixe ela em paz! - ouvi uma voz furiosa que identifiquei ser de Denise falar - Já não causou sofrimento demais para ela? Acha pouco? Saia daqui!
- Eu não queria nada disso! - disse ele - Não queria que ela sofresse! E eu não vou sair daqui até falar com ela.
- Eu achei que você fosse diferente dos imbecis que fazem parte do seu grupo. Eu queria que fosse porque minha amiga se apaixonou por você, mas você provou ser pior que eles. Você não tem coração.
- Isso não devia está acontecendo! - berrou ele - Eu preciso que ela me escute, eu preciso resolver isso.
- Não vou deixar você chegar perto dela. Minha amiga está sofrendo e ela precisa de tempo e de mim. Se depois ela quiser conversar com você tudo bem, mas agora nesse laboratório você não entra.
- Tá. Eu vou. Mas não vou desistir de falar com ela. Eu amo sua amiga, e eu vou me explicar para ela.
- Vá embora. - instantes depois, com uma voz suave e calma ela falou de novo: - Kate, pode abrir
Me deixe entrar, ele já foi.
Consegui me levantar o suficiente para abrir a porta. Assim que ela entrou eu a fechei de novo.
- Minha amiga, eu sinto tanto. Sinto muito mesmo. Eu não sabia o que a Camille estava aprontando, eu teria avisado, eu...
- Só me dê um abraço. - pedi quase em um sussurro.
Ela me abraçou.
- Kate, você está tremendo, está gelada!
Eu desabei em lágrimas.
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Uma Chance para Recomeçar
RomanceA felicidade nunca caminhou lado a lado com Katherina Thomson, ela podia dizer que sua infelicidade começou quando foi abandonada pela mãe. A sorte também não parecia simpatizar muito com ela, era criada pelo pai e uma madrasta que a odiava. O mundo...