Capítulo XXI

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  Dois dias após a tarde maravilhosa que tive com Diego resolvi contar a Denise sobre o que estava acontecendo entre nós dois. Eu confiava nela. Assim, no intervalo entre as aulas de história e literatura eu a chamei até a biblioteca para contar.
  Agora ela me encarava com uma sobrancelha erguida.
  - E então, Kate, o que tinha de tão importante para me contar? Estou curiosa!
  - Shhh, fale baixo, vou contar.
  - Então...
  - Eu e o Diego...Nós...Estamos...Juntos. Ou meio que juntos.
  - Você e o Diego? Eu tô passada. Tipo, notei que você estava mais sorridente, mais ocupada, mais feliz, notei um brilho em você. Achei que estava apaixonada...Mas não pelo Diego!
  - Sei o que acha dele. Eu sei que acha ele um babaca arrogante, fútil e tudo mais. Mas ele não é assim. Quando conhece melhor ele você percebe que ele é bom, é gentil, é maravilhoso!
  - Você está realmente apaixonada, e normalmente quando estamos assim não percebemos alguns defeitos da pessoa...
  - Essa pessoa que ele se mostra aqui não é quem ele é, Denise.
  - Minha amiga, eu quero muito acreditar no que está me dizendo, porquê não quero que se machuque. Quero sua felicidade. Mas pessoas como ele... brincam com pessoas como a gente. Eu tenho experiência suficiente para não confiar neles. Para ser cautelosa. Mas vou torcer para que você esteja certa.
  - Obrigada, Denise. Você é incrível! Eu te amo.
  - Também te amo.
  Ela me deu um abraço. Depois de afastou sorrindo.
  - O que foi? - indaguei.
  - É que... Percebi que agora sou oficialmente a única encalhada de minhas amigas.
  - Porque quer. Eu percebi como o Jacob te olha.
  - Jacob?
  - Uhum. Não adianta fingir que também não percebe.
  Agora tínhamos saído da biblioteca e caminhávamos para o refeitório.
  - O pior é que não posso te julgar pelo que sente por Diego.
  - E vai me dizer o porquê?
  - Porque eu gosto de alguém da turma dele. Se quer que eu seja mais específica, de seu irmão.
  - Do Caíque? Eu...Eu não sabia.
  - Porque sou muito boa em esconder o que sinto. Diferente de você que tudo que sente fica estampado em sua cara. Mas, Kate, por favor não pense sequer em dizer isso a ele.
  - Não vou dizer. Seu segredo está guardado comigo. Mas bem que eu queria que fosse minha cunhada.
  Entramos no refeitório e a primeira cena que vi foi Diego em pé escorado na mesa dele, com Bianca enganchada em seu pescoço, os rosto a centímetros - ou milímetros - de distância do rosto dele, uma de suas mãos acariciava o rosto dele...E Diego sorria. SORRIA.
  Eu queria parecer indiferente, seguir para minha mesa, sentar-me e continuar conversando com minha amiga.
  - Eu não acredito. - ouvi Denise falar - Isso é...
  - Horrível. - minha voz falhou no meio da palavra, o primeiro sinal de que eu estava prestes a chorar. Odiava ser tão chorona.
  Sentia tudo desmoronar, me sentia tão idiota por ter acreditado que finalmente seria feliz. As rasteiras da vida sempre vinham sorrateiras e quando eu menos esperava. E a dor que aquela cena me causou...Era tão forte quanto um soco no estômago, me sentia até sem ar.
  Em meio a uma risada os olhos de Diego encontraram os meus, ele se afastou bruscamente de Bianca, e começou a vim em minha direção. Não esperava nenhuma explicação no meio do refeitório, nem queria nenhuma. Sai correndo para fora do refeitório, subi para o primeiro andar e entrei no banheiro. Não demorou muito para eu ouvir algumas batidas na porta:
  - Kate, por favor, sai daí preciso explicar...Não é o que você está pensando...Deixe-me explicar.
  Fiquei em silêncio.
  - Por favor, Kate. - ele pediu - Se não abrir a porta eu vou entrar. Então acho bom você ficar longe da porta.
  Por mais que eu estivesse furiosa com ele, não queria que parasse na secretária por invadir o banheiro feminino, fora o escândalo. Então abri a porta fazendo-o desequilibrar para dentro do banheiro.
  Ele conseguiu recobrar o equilíbrio, fechou a porta e escorou-se nela para que ninguém entrasse.
  - Obrigado. Agora pode me ouvir?
  - Diego, você vai acabar na secretária por estar no banheiro feminino, da para sair.
  - Não até você me ouvir.
  - Não quero ouvir. Já vi o suficiente.
  - Não. Você entendeu tudo errado.
  - Nisso eu concordo com você, realmente, entendi errado o que me disse, tudo que achei que estivesse acontecendo entre nós.
  - Oh, não. Não sobre isso, sabe que não menti para você, não sabe? Me escute. Kate, só escute. A Bianca chegou para cima de mim, estávamos conversando e aí ela se agarrou em meu pescoço, não tinha se passado nem um minuto da hora que vi você na entrada do refeitório. Eu já ia afastá-la.
  - Humm, quer que eu acredite nisso? Porque você parecia está bem a vontade, estava sorrindo e tudo. Um lindo casal.
  - Kate, pare com isso. Eu estava sorrindo porquê ela tinha acabado de me contar que estava rodando um boato pela escola de que você e eu estávamos juntos, tenho certeza que é o Dylan que está espalhando, e ela achava que como amiga tinha que me alertar que minha fama estava sendo arruinada.
  - Arruinada?
  - Palavras dela, não minhas.
  - Isso não é motivo para estar sorrindo, Diego.
  - Eu sei. Não foi disso que eu estava sorrindo, foi da cara dela quando deixei um ar de dúvida se tínhamos ou não algo. Só não confirmei porquê primeiro preciso saber o que acha da ideia.
  - E precisavam conversar sobre isso tão pertinhos?
  - Eu estava com as mãos entrelaçadas atrás das costas, você viu isso? Eu não quero nada com a Bianca, não quero nada com mais ninguém que não seja você. Não queria te magoar. Me perdoa. Nunca mais deixo ela tocar em mim.
  - Se eu ver outra cena dessas, Diego...
  - Não vai ver. Nunca.
  Ele me puxou para seus braços e sussurrou em meu ouvido:
  - Só tenho olhos para você, bobinha. Não precisa ficar com ciúmes.
  - Como queria que eu ficasse? A Bianca é linda, é um sonho de garota, e eu sou...Eu. Como quer que eu não fique insegura, hein?
  - Ela é realmente isso tudo que você disse, mas ela não me interessa, justamente por não ser você. Não precisa ficar insegura, Kate. Confie em mim. Eu amo você.
  - É muito difícil para mim ver todas aquelas garotas se jogando em cima de você...Diego...
  Ele me abraçou.
  - Eu vou deixar bem claro que eu estou comprometido. Está bem?
  Assenti.
  - Posso dizer que estou comprometido com você?
  - Não. Porque ainda não estamos.
  Ele sorriu.
  - Verdade. Não totalmente comprometidos. Mas vou resolver isso...Mas acho que um pedido desses não deve ser feito em um banheiro.
  Nós dois rimos. Mas logo fiquei séria novamente, lembrando de outro detalhe.
  - E temos que pensar nas consequências que essa revelação vai causar, você vai perder muito, Diego.
  - Eu não me importo. Tudo que quero é estar com você.
  - Você já me disse uma vez que amava ser popular.
  - Isso foi antes de amar você. Tudo mudou.
  Ele me deu um beijo na testa.
  Alguém bateu na porta.
  - Eu preciso sair. - disse ele.
  - Precisa mesmo. - concordei sorrindo.
  - Mas quero te encontrar, que tal no Central Parque?
  - Combinado.
  Ele me deu um selinho e abriu a porta.
  - Ops, errei o banheiro. - disse ele a uma garota impaciente que o encarava perplexa.
  Não sabia dizer ao certo se aquela expressão se devia por ele estar no banheiro feminino ou por ele estar no banheiro feminino comigo.
  - Diego. - disse a garota suspirando.
  - Com licença, moças. Ah, e gostaria de informar que agora sou comprometido.
  Tive que conter o sorriso ao ver a expressão de tristeza no rosto dela.
  - Isso é quase inacreditável. - falei ao sair do banheiro - Mas meus parabéns, Diego.
  Ele sorriu.
  - Tirei a sorte grande.

○○○

  Cheguei em casa de quase nove da noite, tinha esquecido a chave da porta dos fundos então entrei pela porta da frente. Por sorte, apenas Sebastian estava na sala, cercado de papéis, no centro de sala, nos sofás e pelo chão.
  - Oi pai.
  - Olá, querida.
  - Ainda trabalhando?
  Ele retirou os óculos e esfregou os olhos, depois olhou para mim e sorriu.
  - Tenho que deixar essa papelada organizada em ordem alfabética antes da minha primeira viagem.
  - Oh, já a marcou?
  - Será segunda-feira.
  - Já?
  - Sei que não te agrada muito. Também não gosto do fato de ficar longe da minha família. Mas é preciso.
  - Eu sei. - sentei-me ao lado dele e perguntei: - Como posso ajudá-lo?
  - Não precisa, filha...
  - Em que letra está?
  Ele suspirou.
  - Não vou convencê-la do contrário né?
  - Não mesmo.
  - Tudo bem. Estou na letra d.
  - Ok. E até quando vai ficar viajando?
  - Passarei apenas três dias.
  Três dias...Ele não tinha noção do quanto três dias sem ele podiam ser dolorosos e longos.
  - Vou sentir sua falta.
  - Também vou sentir, de todos vocês. Kate...Enquanto eu estiver fora, tente ficar longe do caminho de Liz, não quero problemas entre vocês duas, estou com a cabeça cheia e não quero que ela te magoe. Sei que ela fala coisas que te machucam. E eu já conversei com ela...
  - Tá tudo bem, pai. Vou ficar bem longe do caminho dela. Não se preocupe.
  - Obrigado.
  Conversamos sobre o nosso dia, e sobre as coisas no trabalho, na escola, estávamos quase finalizando as papeladas quando resolvi perguntar. Era raras as vezes que estávamos apenas nós dois e eu não podia perder a oportunidade.
  - Humm, pai. Sei que detesta quando tento falar sobre isso...Mas eu preciso, eu quero saber...
  - Sobre sua mãe.
  Ele respirou fundo.
  Eu assenti.
  - Tudo bem. - disse ele me surpreendendo - O quer saber?
  - Tá falando sério?
  - Kate, eu nunca deveria esconder de você o que sei sobre ela, entendo sua curiosidade, mas é que... Acho doloroso demais para você falar sobre alguém que te abandonou.
  - É um pouco doloroso. Mas eu preciso saber algo sobre ela, o pouquinho que seja. Para ter algo que lembrar dela.
  Ele sorriu.
  - Tudo bem. Certo. - ele suspirou, alisou o queixo e disse: - O que quer saber primeiro?
  - Minha maior curiosidade é saber o nome dela. E como vocês se conheceram.
  - O nome dela é Daphine.
  - Daphine? Sabe, de todas as vezes que eu imaginei ela, e não foram poucas, nunca a imaginei com esse nome.
  Ele riu.
  - Como eu a conheci... Bem, tinha um bar em Deven, ela costumava cantar lá.
  - Minha mãe é cantora?
  - Daphine era cantora. - disse ele dando ênfase ao Daphine, deixando claro que nada o agradava que eu a chamasse de mãe - O bar pertencia a um parente dela. Fui a esse bar com uns amigos, eles precisaram ir embora e eu decidi ficar mais um pouco, então eu a vi.
  - E como ela era?
  - Linda. Era ruiva como você, os olhos castanhos, um sorriso lindo... Ela tinha um jeito que encantava. Não era uma mulher de passar despercebida. Era bela. Ela foi até mim depois de seu show, nós conversamos e bebemos e... Foi só aquela noite. Eu ainda pensei em procurá-la, mas recebi uma carta de Liz...
  - Dizendo que estava grávida. - conclui.
  - Sim. E eu não voltei a vê-la.
  - Pai, acha...acha que ela teria gostado de mim?
  Sebastian me lançou um olhar comovido.
  - É claro que sim. Ela amaria você.
  Eu esfreguei os olhos antes que as lágrimas descessem.
  Ele afagou meu braço.
  - Sei que não odeia ela por ter te abandonado.
  - Não odeio. Nem sequer sinto raiva. Acredito que ela teve algum motivo para fazer o que fez.
  - Também não consigo odiá-la. - eu o encarei surpresa. - Afinal ela me presenteou com você.
  Eu o abracei.
  - Obrigada, papai. Obrigada por tudo.
  - Eu que agradeço por ter você.

○○○

  Quando terminei de ajudar meu pai com as papeladas eu lhe dei boa noite e desci para meu quarto. Anotei todas as informações que ele havia me dado sobre a mulher que era minha mãe. Peguei o notebook e pesquisei sobre Deven e sobre os bares de lá. Procurei algo relacionado a Daphine. Não encontrei nada. Decidi que era melhor procurar amanhã. Estava tarde e amanhã eu tinha que ir trabalhar cedo. Dei uma olhada no celular tinha uma mensagem de Diego:
  Boa noite, meu anjo.
   Sorrindo eu espondi:
  Boa noite, meu amor.
  P.S espero que não se importe com o "meu amor".
  Ele respondeu:
  Na verdade esperei muito por esse momento.
  Mandei para ele:
  Preciso dormir, amanhã te conto novidades. Bjs.
 
 
 

 

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