Capítulo XXV

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(CAPÍTULO NARRADO POR DIEGO)

*Diego

  Nunca em minha vida eu imaginaria que me apaixonaria por Katherina Thomson. A simples ideia de ser amigo dela para mim era ridícula.
  Mas aí fui colocado contra a parede pelo treinador e o professor de álgebra e tive que pedir socorro à ela. Ela não pareceu nada feliz com a ideia de me ajudar, mas ainda assim aceitou. Ia ser bem simples, ninguém saberia que eu estava estudando com ela, aprenderia o suficiente para passar e poder participar do campeonato, mas o que eu não sabia é que Camille estava ali perto e que assim que Katherina me deixou sozinho no corredor ela surgiria ao meu lado.
  - Não me diga que está dando em cima dela. - foi o que ela falou quando apareceu sorrindo ao meu lado.
  - Não seja ridícula, é claro que não.
  - Então seu gosto continua refinado. Bom saber. Mas...
  - Não gostei desse "mas"...
  - Eu acabei de ter uma ideia muito divertida!
  - Que ideia?
  - Uma aposta. Sei que não recusa nenhuma.
  - Não recuso mesmo.
  - Ótimo. Então, a aposta é a seguinte: Conquiste a Katherina, deixe ela caidinha por você.
  - Acho que isso não será problema. Mas o que eu faço depois que ela estiver apaixonada por mim?
  - Quando ela estiver apaixonada por você contarei na frente dela e de todos da escola que foi tudo uma aposta. - ela sorriu - Não é demais?!
  - Gatinha, não acha isso um pouco cruel, não? - perguntei - Ela vai ficar destruída.
  - Tá com peninha?
  - Ela te fez algo?
  - Ela nasceu.
  - Falando assim até parece que a odeia.
  - Eu só quero me divertir, qual é Diego, achei que não recusava apostas.
  - Já disse, não recuso. Mas preciso primeiro saber se o prêmio que vou ganhar vai compensar o coração partido da garota.
  - Que tal um beijo meu.
  - Sabe que não posso ficar com irmãs dos meus amigos. Por mais tentador que seja. Caíque me mataria.
  - É uma aposta. Ele não pode reclamar. E falando em meu irmão, em hipótese alguma conte para ele sobre essa aposta.
  - Por quê?
  - Você o conhece, ele é todo certinho. Vai estragar tudo.
  - Você tem razão.
  Ela estendeu a mão.
  - Apostado?
  - Ei, e se por algum motivo eu não conseguir conquistar ela, o que você ganha?
  - Isso está fora de cogitação. Você vai conquistar ela.
  Dei de ombros.
  - Tudo bem. Apostado.
  Deu tudo errado.
  Eu tinha certeza que seria moleza conquistar ela, mas Katherina me conquistou primeiro. Meu plano começou a ir por água abaixo no momento que entrei na floricultura pela primeira vez - eu não sabia que ela trabalhava lá - eu precisava comprar flores para uma amiga e por acaso estava passando de frente a uma floricultura, eu entrei e a vi. Katherina não percebeu que eu tinha entrado, ela estava sozinha e estava sorrindo. E eu não sabia se tinha sido a ressaca da farra da noite anterior misturada com sono, ou como um raio do sol refletia nela, ou o ângulo em que eu a observava sorrindo.
Ou tudo misturado. Mas ela distraída, rindo daquele jeito, tudo que pensei foi em como ela estava bonita. Esse pensamento tratei logo de deletar, trouxe de volta minha razão, fiz um comentário arrancando ela de seus pensamentos o que a deixou sem graça e de cara fechada. No mesmo dia - como se o destino quisesse nos unir - eu a vi perto da casa da minha amiga, eu tinha discutido com um carinha da festa e sai para fora para esfriar a cabeça. Foi então que a avistei, estava sozinha em uma praça de frente ao local onde eu estava, sentada em um balanço. Achei que seria o momento perfeito para começar a flertar com ela e conquistá-la. Mas tudo evaporou da minha mente quando percebi que ela chorava, eu fui tomado por uma preocupação que até me espantou. Não gostei de vê-la daquela maneira, eu vi a tristeza nos olhos dela e percebi que odiaria ser o responsável por colocar uma tristeza assim naqueles olhos tão lindos. Ela tentou me afastar, tentou se mostrar forte, mas quando percebeu que eu não a deixaria - e eu não a deixaria ali naquele estado - ela me abraçou. Eu senti a vulnerabilidade dela, o quanto ela pareceu tão frágil e tão forte ao mesmo tempo. Foi nesse momento, nesse exato momento que percebi que não conseguiria ir adiante com aquela aposta.
  Como conseguiria ser tão cruel com ela se tudo que queria era espantar aquela tristeza dela e vê-la sorrindo?
  Tudo que aconteceu entre nós dois, nada teve haver com a aposta. Eu desisti daquela aposta no momento que a vi chorando pela primeira vez. E o mais surpreendente é que Katherina não precisou de muito tempo para me conquistar, por mais que eu tentasse negar para mim, o que fiz com o maior esforço, mas foi tudo inútil, eu descobri que não há como fugir do amor quando seu coração bate mais forte por alguém e a gota d'água foi ter uma crise de ciúmes dela com Caíque - que depois descobri que era irmão dela. Quando eu os vi de mãos dadas no parque, senti uma alfinetada no coração que jamais havia sentido. Então percebi não adiantava mais negar eu estava apaixonado pela Kate.
  Eu a amava mais do que achava ser possível.
  Meu erro foi não encerrar logo essa história da aposta com Camille. Adiei o máximo possível, porque sabia que Camille me atormentaria depois que eu falasse. Até tinha tentado falar sobre isso, mas ela mudava de assunto, ou dava um jeito de não me deixar terminar de falar. Mas depois que descobri que ela era irmã da Kate e que havia tramado algo tão cruel contra a própria irmã fiquei furioso, eu mal conseguia olhar para ela, tudo que conseguia pensar era em como ela já tinha maltratado a garota que eu amava, como ela já tinha sido cruel com Katherina.
  No dia do almoço na casa de Katherina toda minha raiva só multiplicou, e eu me sentia um verme por quase ter sido cúmplice de Camille em outro plano horrível para humilhar a irmã dela. Eu me sentia horrível por ter cogitado participar daquilo. Eu precisava acabar definitivamente com aquela aposta idiota. Então quando me despedi de Kate mandei uma mensagem para que Camille e pedi para que ela me encontrasse em minha casa.
  Uma hora depois ela tocou a campanhia, eu abri a porta e lá estava ela sorrindo. Ela antes mesmo de entrar perguntou:
  - Marcou o dia?
  - Entra, Camille.
  Ela entrou, cruzou os braços me encarando e repetiu a pergunta:
  - Marcou o dia?
  Eu fechei a porta, me escorei nela e indaguei:
  - Que dia?
  - Como assim que dia? O da aposta! Não é sobre isso que vamos conversar? Diego, você me surpreendeu, aparecer na minha casa dizendo que estão namorando, não precisava se expor assim, querido. Ainda mais a bobinha já está completamente apaixo...
  - Não vai ter mais aposta. - falei interrompendo ela.
  O sorriso dela sumiu.
  - O que disse?
  - Que não há mais aposta. Te chamei aqui para dizer que você estava enganada, sobre eu ganhar a aposta. Eu desisto. Eu perdi. Escolha seu prêmio e saia da minha casa.
  Ela franziu a testa e falou:
  - Não. Você tá brincando, né? Diego, você só pode estar brincando! Não pode fazer isso! O que mudou? Por que desistiu?
  - Porque eu a amo. E faz muito, muito tempo que já tinha desistido dessa aposta ridícula, eu jamais faria algo assim com Katherina, ela não merece nada disso, e eu tenho consciência e me sinto horrível só por um dia ter aceitado fazer parte disso. Eu amo a Katherina.
  Camille me encarou perplexa, com os olhos arregalados e boquiaberta. Estão explodiu em uma risada.
  - Está me trollando? Onde está a câmera? Eu sei que não está falando sério.
  - Estou falando muito sério. Não há câmera, nem pegadinha. Eu amo a Kate. Eu me apaixonei por ela e não vou fazer nada que a machuque.
  - Está me dizendo que está apaixonado por aquela bastarda?
  - Completamente apaixonado e não a chame assim.
  - Quero que repita isso depois do que vou fazer. - ela disse e tentou me beijar. Eu recuei. Segurei seus braços e a afastei.
  - Não volte a fazer isso.
  - Mas...
  - Eu amo sua irmã.
  - Ela não é minha irmã! Não acredito que está me rejeitando por ela.
  - Camille, amanhã vou assumir meu namoro com Kate na escola. Então quero deixar tudo bem claro. Não há mais aposta, me diz o que você quer ganhar? Eu perdi é justo.
  - Vai contar a ela sobre a aposta?
  - Não. Não agora. Me apaixonar por ela não teve nada haver com essa aposta ridícula. Não vai interferir no que temos, eu só preciso escolher a melhor hora e a melhor forma de contar para ela. Mas isso não é problema seu.O que você quer ganhar?
  - Meu prêmio era ver Katherina sofrendo.
  - Não vou permitir que a faça sofrer. Não mais do que já fez. Está me ouvindo?
  - E o que posso fazer? Você desistiu da aposta. Eu acho que só o que posso fazer agora é desejar felicidade ao casal.
  - Não vai ter o sofrimento de Kate como prêmio, então o que vai querer?
  - Nada.
  - Nada?
  - A sua felicidade vai ser meu prêmio. Se você se apaixonou por ela o que posso fazer? Há gosto para tudo.
  - Então tá tudo certo?
  - Mais que certo.
  Então ela passou por mim abriu a porta e foi embora.
  Eu deveria ter desconfiado. Deveria ter sentindo que tinha algo errado nessa mudança repentina de sentimentos da Camille. Mas eu queria tanto me livrar da aposta que não pensei muito sobre isso. E por isso fui tão pego de surpresa quanto Katherina quando entramos no refeitório e fomos recebidos daquele modo. Eu só precisei que meus olhos encontrassem os de Camille para perceber que o Nada dela me custaria muito mais do que eu podia imaginar.
  Mesmo sem querer eu tinha sido cúmplice dela. E eu odiava a sensação de impotência, odiava saber que eu também seria o motivo do sofrimento de Kate, e minha mente ficava repetindo sem parar:
  Isso não pode tá acontecendo! Não pode! É um pesadelo, um pesadelo horrível!
  Mas não era.
  Eu paralisei. Não conseguia me mover, e não tinha coragem de olhar para Kate. Sentia vergonha, culpa, raiva de mim por ter sido tão idiota, por ter aceitado aquela aposta estúpida.
  Estava sendo torturado por esses pensamentos, estava tão sem reação que não tive tempo de desviar do beijo de Camille. Eu segurava a mão de Kate o mais forte que conseguia sem machucá-la porquê no momento que ela soltasse minha mão meu mundo desabaria.
  Mas eu a soltei.
  Eu soltei a mão dela. Tentando me livrar do beijo de Camille.
  Eu a deixei ir.
  Depois tudo aconteceu muito rápido. Eu empurrei Camille, Caíque acertou um soco em mim, mas não sentia a dor física. A única dor que conseguia sentir era a que apertava meu coração. Alguém segurou Caíque e eu corri atrás dela.
  Kate se trancou no laboratório  e eu não sairia de lá até ela abrir a porta e me ouvir, mas a amiga dela apareceu e ela me fez entender que não era o momento ideal para tentar se explicar, Kate precisava de tempo.
  Eu concordei e fui embora porque percebi que se tentasse falar com ela agora, no momento que eu a visse tudo que faria era chorar. Não ia conseguir explicar tudo. Podia piorar as coisas.

○○○

  - Diego, Diego meu filho o que aconteceu?!
  Eu estava no meu quarto, sentado no chão, com as costas escoradas na cama. E estava chorando. Tinha passado a tarde inteira chorando, tinha ligado para Kate, mandando mensagens, deixado recados. Eu estava desesperado.
  - Mãe... - ela correu até mim e se ajoelhou a meu lado - A-acho que a perdi. - consegui falar.
  - Perdeu? Perdeu quem? Diego eu nunca o vi assim, o que aconteceu?
  - Acho que perdi a Kate. Eu fui um imbecil, eu a magoei. Foi horrível. Eu...Eu a amo tanto, tá doendo tanto.
  Ela me abraçou.
  - Quer conversar?
  - Não. Eu preciso falar com ela.
  Ela segurou meu rosto com suas mãos e me fez olhar em seus olhos.
  - Diego, eu não sei o que você fez, mas pelo seu estado foi algo grave, se magoo Kate você precisa dar um tempo para ela. E quando vocês se acalmarem vocês conversam.
  - Mãe, eu não vou me acalmar até conseguir falar com ela. Eu preciso que ela me escute, que entenda que não foi como ela acha que foi.
  - Diego, o que você fez?

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