Mal tinha chegado em frente a casa de Diego quando o vi. Estava mexendo em sua moto, parecia que ia sair. Senti uma leve irritação, como ele marca de estudar comigo e resolve sair? Nem para me avisar! Mas era o desapontamento no coração que doía, por mais que eu tivesse tentando ignorar, doía.
Pensei em voltar de onde estava e ir embora, mas quando notei já tinha caminhado o caminho que nos separava e estava catucando o ombro de Diego com o indicador. Ele virou-se para mim e sorriu.
- Pontual como sempre. - disse ele.
- Por que marcou comigo se vai sair? Podia ter mandado uma mensagem e me pouparia tempo. - soltei amuada.
Ele mantinha o sorriso nos lábios, o que só me irritava mais.
- Dá para se acalmar.
- Estou super calma. - o sorriso dele se alargou. - Quer me explicar? - pedi.
- Claro, Katherina. É simples. Na hora que nos falamos eu realmente tinha a intenção de estudar...
- Mas aparentemente mudou de ideia e esqueceu de me avisar...
- Dá para deixar eu terminar de falar?
Assenti.
- Mas aí descobri que estava completando ano...E fiquei me perguntando porquê você ia vim estudar comigo no dia do seu aniversário, então sondei sua amiga e descobri que ficaria sozinha hoje. Então decidi mudar um pouquinho o roteiro.
- Eu não tô entendendo nada.
- Não desmarquei com você porquê quero sair com você. E se eu tivesse falado você não aceitaria.
- Não aceitaria mesmo. - eu disse sentindo a irritação se transformar em raiva - Não preciso da pena de ninguém, Diego. Muito menos da sua! Posso ficar só. Agora tchau.
Ele segurou meu braço.
- Não tenho pena de você, eu quero sair com você porquê eu gosto de sua companhia.
- Eu não acredito.
- Pois deveria. Porque estou sendo sincero. Poxa, Katherina eu planejei tudo entre as aulas, pode ter um pouco de consideração? Não faça essa desfeita comigo.
- Por quê? Por que quer sair comigo?
- Porque... Porque apesar de parecer loucura eu estou realmente começando a gostar de você. E acho que ninguém deveria passar seu aniversário sozinho. Apenas juntei o útil ao agradável.
Estava em dúvida do que fazer, não queria passar meu aniversário sozinha e deprimida, eu queria ir com ele...Mas sentia que não devia. Só que, Diego me encarando tão firmemente e o modo que falou pareceu tão sincero que...Eu assenti.
- Tudo bem. Seria muito rude de minha parte recusar. - falei - Pode me soltar agora.
Ele soltou com um lindo sorriso no rosto.
- Então vamos. - disse ele me entregando sua mochila. Subiu na moto e me entregou um capacete.
- De moto?
- Sim.
- Não, não vou subir aí.
- Por quê?
- Não acho confiável.
Ele deu uma risada.
- O que não acha confiável? Você na garupa da minha moto ou andar de moto?
- Ambos. - ele riu. - Mas a verdade é que eu nunca andei de moto.
- Sério? Não vai se arrepender, é ótimo, e eu vou moderadamente.
- O.k. Mas se você correr ou a gente morrer eu te mato.
Ele deu uma risada e disse:
- Eu já estaria morto.
- Eu daria um jeito de te matar de novo.
Coloquei o capacete, mas me compliquei para amarrá-lo na. cabeça.
- Venha, eu te ajudo. - disse ele e em segundos ajustou o capacete para mim.
- Obrigada.
- Agora sobe.
Eu subi.
- E onde seguro?
- Em mim.
- Em você?
Ele pegou minhas mãos e passou meus braços em volta do seu abdômen.
- Segure firme.
- Não precisa nem mandar. - falei - E seu capacete?
- Só estou com um, e quero que vá totalmente segura. Agora vamos.○○○
Diego parou a moto no estacionamento do Central Parque. Eu amava aquele lugar, sempre que tinha um tempinho livre eu ia até lá, sentava a sombra de uma árvore e lia, ou apenas ficava observando as pessoas passando por lá, as crianças brincando.
- Bem, já te vi por aqui muitas vezes para saber que gosta do lugar. - falou Diego descendo da moto e me ajudando a tirar o capacete.
- Você percebe minha presença aqui? - indaguei surpresa.
- Reconheço esse cabelo ruivo de longe. - disse ele - E se engana se acha que é uma pessoa que passa despercebida.
- Estou realmente perplexa, sempre achei que era invisível.
- Nunca foi.
O modo como ele me olhou fez minhas bochechas corarem, então desviei os olhos dos dele esperando que ele não percebesse o quanto me deixava sem jeito.
- Então, Diego, o que vamos fazer? - perguntei.
- Um piquenique.
Virei para ele realmente surpresa.
- Sério?
- Sim. Não tinha uma cesta daquelas clichês então tive que improvisar em uma mochila mesmo.
- Eu...Eu estou surpresa com você.
- Mas esse é o objetivo. Te surpreender. - disse ele com um sorriso - Como é a aniversariante deixo escolher o local do nosso piquenique.
- Sei o lugar ideal.
Andamos até uma área mais alta do parque, onde dava o privilégio de uma vista maravilhosa de lá e de bônus era bem calmo.
- É aqui. - eu disse parando em baixo de uma árvore.
- Excelente escolha.
Diego abriu a sua mochila e tirou um lençol quadriculado. Estendeu sobre a grama e sentou-se.
- Vai ficar aí em pé? - perguntou ele.
- Claro que não! - respondi - É só que...
- Só que o quê?
- Que isso tudo parece tão inacreditável, você, eu, piquenique, lençol quadriculado? Ninguém acreditaria em mim.
- Vamos aproveitar o agora, está bem? E sobre o lençol quadriculado, queria que algo fosse clichê.
Eu ri e me sentei ao lado dele.
- Tudo bem. E o que trouxe?
Ele retirou petiscos, guloseimas, pão, geléia, sanduíches e uma garrafa de suco.
- Uau! Nunca imaginei que caberia tudo isso em uma mochila.
- Eu confesso que também não.
A tarde foi maravilhosa, a gente comeu, conversou, riu, conversou mais. Já devia ser quase cinco da tarde quando guardamos as coisas e descemos para a parte mais baixa do parque, tomamos o caminho mais distante do estacionamento, que era na margem do rio.
Caminhávamos lado a lado, ainda rindo de uma piada horrível que Diego havia falado quando ele parou bruscamente. Parei também, com a sobrancelha erguida encarando ele.
- O que foi? - perguntei - Não me diga que é mais uma piada.
- Não, você já deixou claro que eu não sirvo para ser comediante.
- Não mesmo. - concordei me segurando para não rir ao lembrar do episódio - Então o que foi?
- Acho que antes de irmos, você devia fazer um pedido.
- Tipo depois que apaga as velas?
- É, mas sem bolo e sem velas.
- Não sei se é uma boa ideia.
- Por quê?
- Passei anos pedindo uma única coisa. E nunca se realizou. Parei de pedir ao treze anos.
As lembranças tristes começaram a tomar conta de mim, mas antes que me tomasse por inteira, senti a mão de Diego apertar a minha.
- Esquece o lance do pedido, não vamos estragar o nosso agora, deixa eu reformular o que me fez parar aqui, Katherina, o que você quer nesse momento? Não pode pensar, e tem que ser algo alcançável.
Como é que eu ia dizer que no momento tudo que eu queria era um beijo dele?
Eu não disse. Eu simplesmente me inclinei, me pus em ponta de pés e o beijei, sem pensar nas consequências, nos contras, no quão aquilo podia ser impróprio. Talvez mais tarde, deitada em minha cama eu me arrependesse, mas não agora. Agora tudo isso parecia tão correto, tão perfeito. Diego retribuiu meu beijo, senti suas mãos em minha cintura me puxando tão firmemente para si que talvez naquele instante fôssemos um só. Passei meus braços em volta do seu pescoço e senti que meus pés não tocavam o chão literalmente e figurativamente.
E naquele momento eu tive a mais absoluta certeza que estava me apaixonando por Diego.
Isso não era nada bom.
Me afastei relutantemente daqueles lábios tão tentadores.
- Não diga que foi um erro, não peça desculpa nem me mande esquecer. - disse ele antes mesmo que eu conseguisse abrir a boca.
- Tá. - foi a única coisa que consegui falar e depois: - E o que devo fazer?
- Deve me dar permissão para beijá-la.
- Você não existe.
- Então é um sim?
Eu assenti.
Sabia que tinha acabado de concordar com um grande erro, mas hoje eu não pensaria nisso.
E novamente nossos lábios se encontraram. E dentro do meu peito parecia haver uma explosão de fogos de artifícios.
Não sei quanto tempo ficamos ali, mas quando finalmente nos afastamos, ele encostou sua testa na minha e ficamos nos encarando como dois bobos com sorrisos bobos no rosto.
- A gente devia ir. - falei.
- Mas já? Acho que devíamos ficar mais um pouquinho.
- Diego...
- Só mais um pouquinho.
- Só mais um pouquinho.
Ele entrelaçou seus dedos nos meus. E caminhamos de mãos dadas até um banco de frente ao rio onde nos sentamos. Eu estava com uma vontade enorme de me beslicar só para verificar se aquilo tudo não era um sonho e ao mesmo tempo tinha medo de fazer isso e descobrir que tudo não passou disso: Um sonho.
- No que está pensando? - perguntou ele.
- Em como hoje você me mostrou um Diego completamente diferente do Diego que conheci na escola.
Ele acariciou minha bochecha com a costa de sua mão.
- Hoje eu te mostrei eu mesmo. Acho que o que mais me faz gostar de você é que eu não preciso fingir ser alguém que não sou para que goste de mim, posso ser eu mesmo. Você é diferente das outras garotas, para impressioná-las eu preciso ser aquele Diego.
- Eu detesto ele. - falei.
- Eu sei. Mas você...Você Katherina, parece gostar do mais sincero de mim, e isso é novo. Fazia um bom tempo que ele estava...adormecido.
- Sabe o que eu acho?
- Não, mas adoraria ouvir.
- Que ninguém devia fingir ser quem não é para agradar os outros, para se encaixar, percebe o quão terrível é isso? Você é tão incrível e aí fingi ser um babaca e o pior, pode acabar se tornando um babaca. Eu acho que se alguém gostar de você, tem que gostar pelo que você é e como você é.
- É por isso que não muda?
- É. Eu não preciso mudar, Diego. Preciso me aceitar, se as pessoas não gostam de como sou, então essas pessoas não me acrescentam em nada, entende? Estou melhor longe delas.
- E não te machuca o que fazem com você?
- Um pouco. - confessei - Mas já doeu muito mais, só que eu fiz da dor um aprendizado, eu não sou os rótulos que me colocam, sou o que sou e o que quero ser. E pensando bem, se às vezes nem eu mesmo me conheço como eles podem me conhecer? Eu prefiro passar o resto da vida sendo rejeitada do que aceita interpretando um papel.
- Você é extraordinária, Katherina. Você tem toda razão. Mas é tão difícil...Não sou tão forte como você.
- Eu acho que é.
- E não sou tão bom. Você tem um coração enorme. Eu não sou assim.
- Olha, a proporcionalidade de bondade e maldade que temos dentro de nós é escolha nossa, nascemos zerados, Diego, são nossas escolhas, nossos atos que pendem para que lado estamos sendo guiados, mas nunca é tarde para mudar, você não acha? Se tratando daqui - toquei em seu coração - Não há caminho sem volta.
- Você fala e parece ser tudo tão simples.
- Já pensou que as coisas podem ser simples, mas as pessoas gostam de complicar?
- Agora sou eu que digo: Você não existe.
- Você deveria parar de me deixar sem jeito.
- Impossível. Acho fascinante suas bochechas vermelhas. E como você tenta inutilmente disfarçar.
- Pare com isso.
- Estou falando sério!
- Você é inacreditável.
Ele riu.
Revirei os olhos e então olhei para o céu, que já passava de alaranjado para o azul misterioso da noite, as primeiras estrelas já começavam a surgir no céu.
- Obrigada pelo dia de hoje. - falei ainda encarando o céu - Eu...Eu tô muito feliz, muito mesmo. - eu olhei para ele que já esperava meu olhar - Obrigada, por estar sendo tão legal comigo. Obrigada mesmo.
- Acho que sou eu que tenho que agradecer, e pedir desculpas por ter sido tão babaca com você no início. Mas eu só precisei te conhecer um pouquinho melhor para perceber a garota incrível que você é.
- Eu te desculpo. E sobre hoje, sobre os be...
Ele me deu um selinho me calando.
- Hoje não. Eu sei o que vai dizer, só não diga hoje.
- Não vou dizer. Mas eu realmente preciso ir agora.
- Infelizmente.
Eu sorri.○○○
Pedi que ele me deixasse na avenida principal, perto da floricultura que eu trabalhava - apesar dele ter insistido em me levar em casa - Diego parou a moto em frente a floricultura, eu desci e entreguei o capacete para ele.
- Obrigada, foi maravilhoso. - falei.
- Foi sim. - disse ele.
- Então...Tchau, Diego.
Ele segurou minha mão.
- Não mereço nem um beijo de despedida?
- Você é muito abusado. - eu disse rindo. Mas mesmo assim, segurei o rosto dele pelo queixo e lhe dei um beijo na bochecha. - Boa noite, Diego.
- Boa noite, Katherina.
Ele ligou a moto e acelerou sumindo ao virar a esquina.
Eu tentei tirar o sorriso bobo do rosto, mas estava feliz demais para conseguir.
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Uma Chance para Recomeçar
RomanceA felicidade nunca caminhou lado a lado com Katherina Thomson, ela podia dizer que sua infelicidade começou quando foi abandonada pela mãe. A sorte também não parecia simpatizar muito com ela, era criada pelo pai e uma madrasta que a odiava. O mundo...