Uma Chance para Recomeçar

Capítulo XXIII

  Acordei mais feliz que nunca, sentia o coração transbordando de amor e felicidade. Queria esse sentimento para sempre. Era tão lindo, tão maravilhoso. Mas só precisei lembrar que dia era hoje, para a ansiedade e o  nervosismo tomar conta de mim. DOMINGO. Dizer que Liz não estava nenhum pouco feliz com isso era pouco. Não queria nem imaginar o que ela faria quando descobrisse que esse almoço também comemoraria meu namoro com Diego. Ela parecia estar dando descargas de ódio. Menos na frente de Sebastian, parecia até outra pessoa. Sabia que Caíque ia trazer a Tati, e que Camille ia dar seu jeito de me atormentar. Tudo isso só me deixava ainda mais nervosa.
  Mesmo assim levantei da cama, coloquei um short jeans, uma camisa com a frase "Hakuna Matata"  - esperando que ela me desse sorte. Decidi deixar meu cabelo solto, mandei uma mensagem para Diego perguntando se ele vinha mesmo, uma parte de mim desejava que ele me desse qualquer desculpa esfarrapada para não vim - mesmo estando louca para vê-lo. Mas é claro que na mesma hora ele respondeu que já estava de saída para cá.
  Não subi lá para cima até ouvir Caíque me chamando dizendo que Diego havia chegado. Subi correndo e o encontrei na sala falando com Sebastian.
  Assim que nossos olhares se encontraram ele sorriu e foi até mim.
  - Oi, Kate. - ele me cumprimentou com um beijo no rosto, um pouquinho mais demorado que o normal - É muito bom te ver.
  - Eu digo o mesmo.
  Meu pai deu uma piscadinha para mim, senti o rosto corando levemente, desviei os olhos dele e voltei a encarar Diego.
  - Olá Diego. - disse Camille que tinha acabado de descer com Tati - É muito bom tê-lo aqui, gatinho.
  - Oi Diego. - cumprimentou Tati.
  - Oi, Camille, Tati.
  - Vou deixá-los à vontade, sei que não me encaixo nesse grupo - disse meu pai sorrindo - Estava mesmo de saída para o mercado, volto já.
  Quase cogitei implorar que meu pai me levasse com ele.
  Queria dizer que não fazia parte daquele grupo também.
  Quando Sebastian saiu, Camille assumiu sua expressão mais fria para o meu lado e disse:
  - Então Diego, o que o levou a ter a cara quebrada por causa da Katherina? E qual foi sua reação ao descobrir que éramos irmãs?! Aposto que ficou chocado, somos diferentes demais, não é? Infelizmente Katherina não teve sorte com nada na vida, muito menos com beleza.
  Normalmente as ofensas de Camille não me incomodavam tanto, elas não machucavam tão fundo, porém o fato dela estar me humilhando em frente ao Diego me fazia querer sair correndo dali chorando e me trancar no quarto. Dei um passo para trás quando a mão de Diego se fechou firmemente e acolhedoramente na minha, me impedindo de sair do seu lado.
  Caíque ia tomar a frente, mas Diego ergueu a mão fazendo sinal que ele mesmo iria responder:
  - Fui a socorro de sua irmã porquê não suporto covardia, faria isso por qualquer garota, mas o fato de gostar muito dela e presenciar a cena que vi fez meu sangue ferver. Mas não voltaremos a falar desse assunto tão desagradável. Quanto o fato de vocês serem irmãs, fiquei realmente chocado. Eu nunca imaginaria, mas fiquei encantado com o motivo de Kate para vocês esconderem isso. E sobre seu último comentário eu tenho que discordar de você, minha querida Camille, sua irmã é linda. É a garota mais brilhante que já conheci em toda minha vida.
  Tati que estava ao lado de Camille falou:
  - Tá aí algo que me surpreendeu, jamais imaginei Diego que você...- mas ela não completou sua frase ao lembrar que Caíque provavelmente não apreciaria seu comentário - Deixe para lá.
  Mas Camille não tinha motivos para esconder sua verdadeira face e disse:
  - Não, eu não acredito! - ela parecia um misto de desprezo e surpresa, até um pouquinho de divertimento -  Você, Diego, líder do time de futebol, um dos mais gatos da escola, está apaixonado por isso?
  Caíque avançou para cima de Camille e falou em um tom nada amigável.
  - Cale essa boca, Camille. Como pode ser tão cruel com nossa irmã?!
  - Você - retrucou ela - Pode considerar esse patinho feio e digno de pena de irmã, mas eu a coloco no lugar dela, a bastarda da casa que deveria viver trancada dentro daquele porão que ela chama de quarto.
  Eu senti o aperto da mão de Diego se apertar. E percebi que sua outra mão estava com o pulso cerrado.
  - Não ouse falar com Kate dessa forma. - falou Diego entredentes - Não tem o direito de falar com ela assim.
  Tati assistia tudo aquilo parecendo se divertir com aquilo, mas Caíque não tinha notado isso. Ele estava preocupado em fazer Camille engolir cada ofensa.
  Liz entrou na sala. A última peça que faltava naquele momento terrível.
  - Ouvi vozes alteradas, o que está havendo? - questionou ela e me lançou um olhar afiado - Katherina está causando problemas?
  Diego a encarou parecendo perplexo.
  - Katherina causando problemas? - repetiu ele - É isso que você tem que aguentar? - perguntou ele um pouco mais baixo olhando para mim e eu vi raiva e pena passarem por aqueles olhos castanhos.
  Sentia ainda mais vontade de chorar.
  - A senhora sabe muito bem que Kate não fez nada. - declarou Caíque para a mãe - Como sempre.
  Não aguentava nem mais um minuto ali. Era angustiante e parecia me sufocar.
  - Diego. - chamei, mas saiu mais como um sussurro. Ele olhou para mim - Preciso conversar com você.
  - Tudo bem. Vamos lá fora. Preciso de um pouco de ar.
  Diego me puxou pela mão para fora. Descemos as escadas da varanda e só então eu consegui falar:
  - Me desculpe por aquilo tudo. Sei que é horrível...
  - Horrível? Meu amor, você não pode me dizer que passa por isso todos os dias.
  - Não exatamente todos...Mais quando Camille está espirituosa...Como hoje. - tentei fazer graça, tentei um sorriso. Mas não consegui.
  - Elas não tem o direito de fazer isso. Ninguém merece passar por isso, Kate. E não é você que tem que pedir desculpas.
  - Por favor, se acalme. Diego, por favor. - pedi e alisei seu rosto - Essa não foi a primeira nem a última vez que passo por isso.
  - Seu pai sabe que passa por isso?
  - Diego...
  - Ele sabe?
  - Não. - confessei - Não posso contar, Diego.
  - Mas por quê?
  - Porque...Porque não quero dá mais problema para o meu pai. Não quero ser o motivo de mais brigas e discussões. Não quero ser o motivo dessa família entrar em conflito. Diego, eu não faço parte dessa família, estou aqui porquê Sebastian se sente na obrigação de me criar. - suspirei - Eu não me importo tanto com as ofensas...Sério, eu só não queria que você fosse platéia.
  Ele me puxou para um abraço e enterrou seu rosto em meu pescoço.
  - Você é boa demais. - ele me deu um beijo na testa e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
  - Por favor, não revide as provocações que escutará, essa briga não é sua e sinto muitíssimo que esteja no meio.
  - Mais provocações? Não sei se vou suportar.
  - Meu amor, o que ouviu foi apenas o prato de entrada. Mas você tem que me prometer que vai suportar. Por favor.
  - Quer que eu deixe que a humilhe?
  - Quero que entenda que essa briga é minha, e minha maior defesa é o silêncio. Essa é minha zona de guerra, então faça o que peço, não revide.
  Apesar de eu ver que ele não estava nada feliz, ele sorriu e respondeu:
  - Como a senhorita quiser. Mas vou logo avisando, não será fácil.
  Eu lhe dei um beijo.
  - Obrigada. Agora vamos entrar.