Capítulo XXVII

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(CAPÍTULO NARRADO EM 3° PESSOA)

  Caíque não viu a mensagem de Kate até a manhã seguinte. Ele tinha dormido na casa de Tati, mesmo após ter dito a ela que tinha que ir para casa, mesmo falando várias vezes que não podia deixar Kate sozinha em um momento como o que ela estava passando, ainda mais só com Camille e sua mãe. Mas acabou adormecendo.
  Ele acordou meio sonolento às seis e meia, mas só precisou de mais ou menos meio minuto para perceber onde estava e deu um pulo da cama despertando completamente. Pegou o celular em cima do criado-mudo e checou se tinha alguma ligação ou mensagens. Tinham cinco mensagens de Kate. Ele sentiu o coração gelar.
  Nas primeiras ela perguntava onde ele estava, que tinha acontecido algo e queria falar com ele. Isso já o deixou nervoso, se sentindo um grande babaca por deixá-la sozinha, mas foi a última mensagem que fez o coração dele quase parar.
  Ele precisou ler três vezes, percebeu que prendia a respiração e soltou o ar. O coração batia tão forte que os batimentos estrondavam em seus ouvidos. Precisou de uns dois minutos para as pernas conseguirem se mover, mas quando conseguiu saiu correndo, desceu as escadas pulando os degraus, quase esbarrou em Tati, gritou que precisava ir e saiu como se participasse de uma maratona.
  Quando chegou em casa passou pela mãe e Camille que tomavam café na sala de jantar, nem falou com elas, apenas desceu correndo direto para o quarto de Kate.
  No fundo ele sabia que ela não estava lá. Que ela tinha ido embora, mas Caíque guardava uma fagulha de esperança, que claro, se apagou ao entrar no quarto.
  A cômoda estava com as gavetas abertas, Katherina havia saído com pressa, percebeu ele. Tinha fugido e ele não estava lá para impedir.
  Caíque pegou o celular e ligou para Kate, o celular tocou, bem ali, na cama dela.
  - Não, não, não, não. Droga!!
  Ele subiu correndo e bateu com as palmas das mãos fortemente na mesa.
  - O que vocês fizeram? - Caíque perguntou tentando manter a voz controlada.
  - Caíque, eu exijo mais respeito! - repreendeu Liz.
  - Do que é que você está falando, hein? - questionou Camille.
  - Kate fugiu. - disse ele com a pouca paciência que lhe restava -  Ela foi embora. - a voz dele falhava.
  - Já foi tarde. - disse Camille.
  Caíque por pouco não perdeu o controle com a irmã.
  - Não posso dizer que estou triste. - comentou Liz sem se alterar - Ela bateu em sua irmã. Devia está preocupado era com Camille, sua verdadeira irmã.
  Os olhos de Caíque focaram no nariz arroxeado da irmã e disse:
  - Bateu? Pois foi bem feito. Camille fez algo horrível com Kate.
  - Nada que aquela bastarda não mereça.
  - E depois? - perguntou Caíque - O que aconteceu?
  Camille deu de ombros.
  - Além dela ter acabado com minha festa? Não faço ideia. Fui para meu quarto. - disse Camille.
  - E a senhora sabendo o que Kate fez com Camille não fez nada? - perguntou Caíque voltando sua atenção para mãe.
  - Não lhe devo satisfação, Caíque. - disse Liz irritada - Mas, não fiz nada. Ia fazer hoje, mas quando entrei no quarto ela não estava lá e encontrei as chaves dela ali no canto perto da geladeira.
  Obviamente Caíque sabia que a mãe estava mentindo.
  Sua cabeça começou a latejar, a culpa começava a consumí-lo. No momento que Kate precisou dele, ele não estava lá para ela. E ele havia prometido que estaria lá. Kate havia fugido. E Caíque não tinha ideia de onde ela poderia estar.  
  - Vou avisar ao meu pai. - ele declarou pegando o celular.
  Liz em um pulo levantou-se e pegou o celular dele.
  - Não vai, não. - disse Liz firmemente.
  - Mãe!
  - Não vai preocupar seu pai com besteira.
  - Isso não é besteira! Minha irmã sumiu.
  - Fugiu. - corrigiu Camille.
  - Deixe de ser bobo, Caíque. Ela vai voltar. Está fazendo drama para chatear seu pai.
  - Ele precisa saber, mãe.
  - Seu pai volta amanhã de viagem. Não vamos preocupar ele a toa. Aposto que ela está na casa de alguma amiga.
  - Só se for da esquisita da Denise. - disse Camille - Ou do Diego. Ele não é o namorado dela?
  Caíque beliscou o braço dela fazendo-a soltar um gritinho.
  - Ai!
  - Caíque!
  - Não seja cínica, Camille. Você destruiu o namoro dela! Quer dizer, você armou aquele namoro para partir o coração dela.
  - Você está sendo dramático, Caíque! - disse Camille irritada- Foi apenas uma brincadeira e ela deveria ser menos boba, como é que acreditou que ele a amava de verdade?
  - Não quero ouvir mais nada. - falou Caíque com raiva - Não vou ligar para meu pai agora, porque não quero preocupá-lo em vão. Primeiro vou ligar para algumas pessoas e procurar por ela pela cidade.
  A primeira pessoa para quem Caíque ligou foi Denise. Mas ela não sabia onde a amiga estava, ficou nervosa e começou a chorar. Após Caíque acalmá-la um pouco ela disse que o ajudaria a procurá-la.
  E eles procuraram.
  Era quase dez da noite e não tinham achado Kate, não tinham nenhuma pista de seu paradeiro,  nem tinham recebido nenhuma ligação de Katherina.
  Cansados, Caíque decidiu que a melhor coisa a se fazer era voltarem para casa e continuarem a procurar no outro dia. Ele a levou até a casa dela.
  - Onde será que ela está? - perguntou Denise, mas para si mesma, do que para Caíque.
  - Eu queria muito saber. - disse ele.
  - Já tentou falar com Diego?
  - Não. Estou evitando ao máximo, mas acho que ele é minha última esperança. - confessou Caíque.
  - Se ela te der alguma notícia, por favor me avise. - pediu Denise.
  - Eu peço o mesmo.
  - Boa noite, Caíque.
  Ele puxou Denise e lhe deu um abraço. Ambos precisavam daquele abraço.
  - Boa noite, Denise.
  Ele se afastou devagar.
  - Eu vou entrar. - falou ela. Ele assentiu. - Mas para isso você tem que me soltar. - observou ela olhando para as mãos dele pousadas em sua cintura.
  Ele recolheu suas mãos.
  - Desculpe. E obrigado por tudo.
  - Não agradeça. Quero tanto encontrar Kate e saber se ela está bem quanto você.
  Caíque esperou Denise entrar em sua casa e depois foi caminhando para a sua.
  Ele estava deprimido, triste, com raiva de si mesmo, se sentia um irresponsável. O que mais o afligia era o fato de não saber se sua irmã estava bem. Ela pediu para que não se preocupasse, como se fosse possível, pensou ele. Porque seu coração estava cheio de preocupação.
  Chegou em sua casa, viu a luz da sala acesa e decidiu não entrar pela frente. Não conseguia encarar a mãe; muito menos Camille. Ele decidiu entrar pela porta dos fundos, e notou algo perto do lixo. O óculos de Kate. Estava quebrado. Ao invés de ir para seu quarto, Caíque foi para o de Katherina.
  Sentou-se na beirada da cama e ficou fitando o celular decidindo se ligava ou não para a última pessoa com quem queria falar, mas que também era sua última esperança.
  Ele ligou.
  - Caíque? - disse Diego ao atender.
  - Ela está com você? - perguntou Caíque direto - Kate está com você?
  - Sabe muito bem que eu sou a última pessoa do mundo que sua irmã quer ver. Mas porquê a pergunta?
  - Está me dizendo... - a voz começava a falhar - que ela não está?
  - Sim, Caíque, ela não está comigo. Está me deixando nervoso, aconteceu alguma coisa? Aconteceu alguma coisa com Kate?
  - Droga! Droga!
  - Caíque! - berrou Diego - Me diz o que aconteceu!
  - Ela sumiu.
  Ambos ficaram em silêncio.
  - O-o que disse? - conseguiu perguntar Diego quebrando o silêncio.
  - Ela foi embora, fugiu.
  - Caíque...
  Caíque desligou.
  Ele não conseguia mais falar. A garganta estava fechando e os olhos ardendo. Ele não conseguia imaginar a irmã sozinha andando por aí sem destino. Alguém podia fazer mal a ela. Alguém já podia ter feito mal a ela. Ele odiava pensar nisso. Odiava o fato de a ter deixado sozinha.
  Pela primeira vez desde que soube da fuga da irmã ele chorou.
  Ela tinha que estar bem. Ou jamais se perdoaria.

○○○

  Sebastian chegou antes das oito da manhã de viagem. Estava feliz, tinha fechado os negócios, tudo tinha ido muito bem.
  Liz e Camille estavam na sala esperando ele.
  Ele deu um beijo em Liz e um abraço em Camille.
  Ele ergueu uma sobrancelha.
  - Não devia está na escola essa hora, mocinha? - indagou ele para Camille.
  Caíque entrou na sala mais abatido que o dia anterior - não tinha conseguido dormir - e imediatamente Sebastian percebeu que algo estava errado.
  - O que aconteceu? - Sebastian perguntou preocupado.
  - Você está cansado, meu amor, é melhor falarmos sobre isso depois... - começou a dizer Liz, mas Caíque lhe interrompeu irritado e disse com a voz alterada:
  - Mãe! Para! Eu vou contar agora.
  - O que aconteceu? - quase gritou Sebastian.
  - Kate fugiu. - soltou Camille antes que Caíque voltasse a abrir a boca.
  - Fugiu? Como assim fugiu? Quando?
  - Ela fugiu segunda. Segunda de madrugada. - disse Caíque.
  Sebastian olhou para os filhos e depois para esposa.
  - Por que não me ligou? - indagou ele elevando a voz.
  - Não queria atrapalhar sua viagem, era importante. - respondeu Liz.
  - Meu Deus, Liz! Minha filha sumiu, isso é mais importante que qualquer coisa! Falaram com a polícia?
  - Eu queria falar. - disse Caíque - Mas minha mãe se recusou a ir comigo até a delegacia.
  - Achava que quem tinha que decidir qualquer coisa sobre Katherina era você! Você é o responsável por ela, Sebastian! - tentou se defender Liz.
  - Se algo tiver acontecido a ela... - ele não terminou a frase - Caíque você vai na polícia comigo agora mesmo. E no caminho vai me contar tudo. Ela deixou algum bilhete? Algo?
  - Sim. Uma mensagem. Ela pediu que eu dissesse ao senhor que o ama, que é o melhor pai do mundo e que o senhor nunca falhou com ela.
  - Vamos logo na delegacia.
  - Sebastian, não acha melhor descansar um pouco antes de ir?
  - Liz, a única coisa que quero nesse momento é encontrar minha filha. Não posso mais perder tempo. Vamos Caíque.
  Quando Caíque abriu a porta, quase colidiu com Diego. Ele tinha vindo com a mãe dele.
  - Caíque quero saber sobre, Katherina. Eu só não vim ontem mesmo...
  - Porque eu não permiti. - completou a mãe dele - Mas confesso que fiquei muito preocupada, por isso vim também. Quero saber sobre ela e ajudar de alguma forma.
  - Entrem. - disse Sebastian.
  Diego olhou para Camille e para Liz, e a raiva imediatamente tomou conta dele.
  - Vocês fizeram algo contra ela, não foi? - ele afirmava, apesar de ter feito uma pergunta - Tenho certeza.
  - Do que você está falando? - questionou Liz - O término do namoro abalou seu juízo?
  - Vocês terminaram? - perguntou Sebastian - Parece que minha ausência foi longa o bastante para vocês. Quero que me expliquem tudo. Agora.
  - Então vamos contar tudo. - disse Diego com um olhar feroz para as duas.
 

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