Capítulo VIII

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  Toquei a campanhia da casa de Diego às três em ponto. Ele abriu a porta instantes depois.
  - E aí, ainda de mau-humor? - perguntou ele.
  - Olá Diego, boa tarde para você também! E sim, eu ainda tô de mau-humor, então nada de gracinhas.
  - Tudo bem. Entra.
  Entrei.
  Subimos para o quarto dele, o livro de álgebra e o caderno já estavam abertos sobre a mesa de estudos dele. Ele notou que eu olhava para lá porquê falou:
  - Estava estudando sozinho, para relembrar a sua aula passada.
  - Muito bem, hoje vamos dar início a matrizes.
  - Ok.
  Abri minha mochila, retirei meu livro e meu caderno. Estava tentando ignorar o fato de Diego está me encarando. Virei-me para ele irritada.
  - O que é? - perguntei.
  - Estava me perguntando o que a deixou tão mal-humorada.
  - As pessoas tendem a me deixar assim.
  - Alguém em específico?
  - Que tal voltarmos para o assunto que me trouxe aqui. - falei mudando de assunto - Álgebra.
  - Vai mesmo desconversar?
  - O capítulo começa na página 54.
  - Katherina!
  - Hum? - olhei para ele.
  - Me conta o que aconteceu.
  - Não tem importância, tá bom? Mas o campeonato de futebol sim, e para o time ter uma chance maior você precisa liderar, então por favor, vamos focar em álgebra.
  Ele suspirou vencido.
  - Tá, foco em álgebra.

○○○

  - Entendeu tudo direitinho? - perguntei guardando meu material.
  - Perfeitamente. Você faz parecer tão simples. - respondeu Diego.
  - É só questão de dedicação.
  Ele riu e fechou o caderno.
  - Você é uma professora excelente.
  - Só vou acreditar quando ver no mínimo oito em sua prova.
  - Dedicarei meu dez a você.
  - Muito otimista de sua parte e fico ligeiramente lisonjeada. Mas se quiser tirar dez precisa estudar mais.
  - Eu vou.
  Eu sorri.
  - É o primeiro sorriso que vejo você dar hoje.
  - Não tinha tido motivos para sorrir.
  - Comigo sempre terá. - Eu ri de novo. - Viu só?
  Ele levantou e ficou em pé em minha frente, obrigando-me a inclinar a cabeça para cima para encará-lo.
  Com a testa franzida perguntei:
  - Diga-me se estou louca ou você está flertando comigo?
  Ele esboçou um daqueles sorrisos encantadores dele.
  - Eu estou?
  - Se estiver possivelmente é você que está louco.
  - Possivelmente eu estou flertando com você.
  - Você é inacreditável. - falei, mas não consegui conter um sorriso.
  Ele se inclinou em minha direção, só um pouco, o suficiente para meu coração disparar.
  - Não ache que só porquê é bonito e popular que todas as garotas são afim de você. Então seja lá o que está pensando, pode parar
  - Me acha bonito? - indagou ele com um sorriso que me fez ter vontade de bater nele.
  Senti meu rosto queimar.
  - Acho, mas isso não quer dizer que eu goste de você.
  - Nem um pouquinho?
  - Não.
  Ele aproximou seu rosto ainda mais do meu.
  - Diego...- queria que saísse como um aviso, mas saiu quase como um sussurro.
  - O quê? - ele perguntou.
  - Pare de me atormentar ou não vou voltar para lhe dar aulas. - consegui dizer.
  - Isso lhe atormenta?
  Ele roçou levemente seus lábios nos meus.
  Meu coração batia forte, as pernas pareciam que tinham desaprendido a andar, eu não conseguia sair dali, e o pior, eu não queria sair dali. Apesar da minha razão está berrando para eu me afastar dele.
  - Eu...Eu preciso ir. - falei com muita dificuldade.
  - Precisa mesmo?
  Ele estava me enlouquecendo.
  Eu o encarei.
  - Eu...
  - Não quer que eu a beije? - questionou ele tão direto que arregalei os olhos surpresa. Não era apenas provocação?
  - Não é isso. - ouvi minha voz falar. Voz traidora!
  - Então qual é o problema?
  - Nunca fui beijada. - confessei em um sussurro - Vai rir de mim?
  - Não vou rir. E isso não é problema. - ele segurou meu rosto com suas mãos - Me permite?
  Ele realmente era irresistível, e naquele momento, com o rosto dele tão pertinho do meu, aqueles belos olhos fixos nos meus, eu achava que a única coisa que podia fazer era assentir, foi o que fiz e ele sorriu.
  No segundo seguinte nossos lábios se encontraram, primeiro Diego me beijou lentamente, e eu senti todas as borboletas do mundo voarem em meu estômago, depois ele começou a intensificar o beijo e eu tentava retribuir da melhor forma possível, senti os braços dele em minha cintura, me puxando para mais junto de si, meus braços estavam em volta do pescoço dele. Perdi a noção do tempo, perdi qualquer razão que podia restar em mim, até que...
  - Minha nossa!
  Eu me desvencilhei de Diego e encarei a mãe dele com o rosto queimando, eu tinha certeza que minha cara era como a de uma criança sendo pega em flagrante enquanto fazia algo errado.
  - Mãe! - disse Diego repreendendo ela.
  - Desculpe, eu só vim perguntar se queriam um lanche.
  - Eu já estou de saída. - falei quando lembrei como se fazia isso.
  Peguei minha mochila do chão - não lembrava de ter soltado ela - e tomei ainda mais distância de Diego, que sorriu para mim.
  - Mãe, pode nos dar um minuto? - pediu Diego.
  - Sim, claro...
  - Não, não precisa! - falei segurando o braço dela impedindo que saísse do quarto.
  - Eu fico ou vou? - indagou ela olhando de mim para Diego e de volta para mim. Eu olhei para Diego e então falei:
  - Fica. - no momento em que ele disse vai.
  - Katherina, um minuto, por favor. - pediu ele.
  Suspirei.
  - Tudo bem.
  Soltei o braço da mãe de Diego que saiu e escorou a porta.
  Ele fez menção de se aproximar, mas eu levantei as mãos pedindo que parasse.
  - Dá para me explicar o que está acontecendo? - pediu ele com os braços cruzados.
  - Voltei a minha razão. - disse eu.
  - Hã?
  - Vamos esquecer tudo isso tá.
  - Kate...
  - Katherina, para você é Katherina! E acho que já deu por hoje. Tchau.
  Antes que ele pudesse falar mais qualquer coisa sai do quarto dele, desci as escadas praticamente voando. Já estava alcançando a porta quando avistei a mãe dele.
  Ela riu para mim e indagou com um sorriso malicioso:
  - A última garota da galáxia?
  Nesse dia descobri que poderia amar a mãe de Diego.
  Eu dei uma risada.
  - Seu filho enlouqueceu. - disse eu lhe dando um sorriso.
  O ouvi descendo e me apressei.
  - Até qualquer dia. - falei.
  - Tchau Katherina.

○○○

  Corri até me distanciar o suficiente da casa de Diego. Quando voltei a caminhar, com a respiração entrecortada, e o coração disparado foi que me permitir pensar no que aconteceu. Foi tudo tão rápido...Menos o beijo. No momento em que senti os lábios dele nos meus o mundo pareceu ficar em câmera lenta, por alguns segundos pareceu que só existia nós dois. Eu sempre imaginei esse momento, mas nunca pensei que seria tão...maravilhoso.
  Tentei conter o sorriso, mas não consegui.
  Mas não estava nada feliz por não ter sido mais forte e por não ter resistido ao charme de Diego. Ele era lindo, alto, esbelto porém musculoso, e quando sorria...E tinha aqueles olhos que hipnotizam, os cílios longos de dar inveja. Mas era um mulherengo, o coração dele não pertencia a ninguém, e achava muito pouco provável que o coração dele sossegasse comigo. Ah, por favor, quanta besteira passava-se em minha cabeça. Para começo de história para ele isso foi apenas um beijo, eu fui apenas mais uma, eu deveria encarar de forma madura e não criar expectativa, nem ilusão, nem nada! Eu nem gostava dele.
  Ou era nisso que eu queria acreditar? Afinal, porquê eu estava tão irritada? Eu que fui uma boba por ter me rendido aos encantos dele e ter permitido que me beijasse. Permiti ser mais uma da listinha dele.
  Cheguei em casa tão irritada comigo mesma que nem lembrei de entrar pela porta de trás. Só me dei conta disso ao me deparar com Sebastian e Liz na sala.
  - Voltou a usar a porta da frente? - perguntou ele.
  - Só hoje. - respondi.
  - Como foi seu dia?
  - Foi...Razoável.
  - Razoável?
  - Isso. Eu tenho um monte de dever de casa...E...
  - Claro, pode ir.
  Fui para meu quarto e me joguei na cama.
  A pergunta que agora martelava em minha cabeça era:
  Por que ele tinha me beijado? Eu tinha certeza que não era o tipo de garota que costumava atrair o interesse de ninguém, então porquê?
  E com que cara eu o encararia, depois de ter saído correndo que nem uma maluca?
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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