- Você está brincando, não está? - falei me sentando na cama - Caíque, me diga que tá brincando.
- Eu não tô brincando. - disse ele simplesmente.
Peguei meu travesseiro e bati nele três vezes, bateria a quarta se ele não tivesse agarrado o travesseiro e tomado de mim.
- E só me conta isso agora! - praticamente gritei.
- Tentei contar à tarde, mas você estava com pressa.
Eu o fuzilei com os olhos.
- Isso não pode tá acontecendo.
- Sabia que reagiria assim.
- Claro! De que modo quer que eu reaja?! Ela vai descobrir que somos irmãos, Caíque!
- Kate, uma hora ela terá que descobrir, quero namorar sério com ela e ela quer conhecer minha família. Chegou a hora.
- Isso será muito esquisito, um desastre! Posso ficar de fora?
- Não, Kate. Mas já pensei em uma solução.
- Pode me dizer qual antes que eu surte de vez?
- Vou pedir a ela segredo. Está bem? Está mais calma?
- Continuo histérica por dentro.
Ele riu.
- Kate...
- Como pode estar tão calmo?
- Não tô totalmente calmo, tá? Estou nervoso, não sei qual será a reação dela.
Eu sei qual será.
- Tem certeza que ela vai guardar segredo? - perguntei.
- Confio nela. - ele sentou-se também - Quero te fazer uma pergunta.
- Faça.
- Tem algo contra a Tati?
Não atrapalhe a felicidade do seu irmão.
- Não. - Sim. - Só não quero que as coisas se compliquem. Sabe, acho melhor você contar um pouco antes a ela. Para não ser tão surpreendente.
- Como quiser.
- De que horas vocês vão vim?
- No jantar.
Suspirei.
- Ok.
- Você parece cansada, vou deixar você descansar. - ele me deu um beijo na bochecha - Boa noite, Kate.
- Boa noite.
Ele desceu da cama, fiquei encarando meu irmão subir os degraus e só quando ouvi o rangido da porta fechando é que desabei na cama e enfiei minha cabeça em baixo do travesseiro.
- Isso não pode tá acontecendo, não pode.○○○
Dizer que passei a noite sem conseguir dormir pensando em todas as versões que consegui imaginar de Tati me vendo pela primeira vez não apenas como a esquisita da classe, mas irmã do seu namorado, sua cunhada, foi basicamente um seriado de terror.
Levantei da cama antes do meu despertador tocar. Hoje era sábado e eu trabalhava na floricultura do sr.Fillipo. Tomei banho para tentar melhorar a aparência e matar o sono. Joguei na bolsa meu celular, um caderno de anotações, um livro sobre flores que peguei na biblioteca pública da cidade, prendi meu cabelo em um rabo-de-cavalo e me arrastei para cozinha.
Para minha surpresa meu pai não estava acordado às seis e meia da manhã, então peguei uma maçã na fruteira da mesa, sai pela porta dos fundos, peguei minha bicicleta, coloquei a bolsa na cesta dela e pedalei até a floricultura.
Quando cheguei sr.Fillipo já tinha aberto seu estabelecimento, tinha começado a ajeitar os jarros com as flores na calçada.
- Bom dia, sr.Fillipo. - falei descendo da bicicleta.
- Bom dia, Kate.
- O dia está lindo hoje, não acha?
- Está mesmo. Hoje tenho uma encomenda para levar ao outro lado da cidade então você hoje vai ficar tomando conta da floricultura.
- Sim senhor.
Meia hora depois quando carregamos a van com as flores sr.Fillipo partiu e me deixou sozinha com as flores e meus pensamentos. Ah e como meus pensamentos me torturavam pensando em como seria o jantar...Seria tão desconfortável...Uma catástrofe.
Tati sabia que Caíque e Camille eram irmãos, minha irmã estava no segundo ano, e ficou super feliz por eu preferir fingir não ser irmã dela. A semelhança entre meus dois irmãos era evidente, o mesmo formato do rosto, os cabelos quase louros, como os de Sebastian e Liz, os olhos azulados como o céu, até o sorriso deles eram parecidos, fora a beleza. Já eu, herdei de Sebastian apenas a cor de um dos olhos que era verde musgo, eu tinha uma anomalia genética nos olhos chamada heterocromia, um dos meus olhos era verde e o outro castanho-escuro. Meu cabelo era castanho-avermelhado, quase ruivo, eu tinha sardas espelhadas pelo nariz, nas bochechas e pelos ombros, usava óculos por ser míope e por conta de uma "brincadeira" de Camille, um corte horrível em meu cabelo, tive que usar franja, ainda tinha o fato de ser uma magricela. Enfim, eu não era nem de longe um exemplo de beleza. Então, por essa grande diferença de aparência entre eu e meus irmãos foi super fácil fingir não ser irmã deles. Além de nossos nomes - eu não tinha o sobrenome do meu pai - como quando fui deixada na porta do meu pai eu já tinha sido registrada, Sebastian não se importou em mudar meu registro com seu sobrenome. A única coisa que posso dizer que tenho em comum realmente com meu pai e até Caíque é um sinal de nascença nas costas que mais parece uma estrela.
Eu continuava pensando em como Tati reagiria quando descobrisse que eu, a garota que ela mais amava infernizar, era irmã do namorado dela. Provavelmente ficaria apavorada. Não resisti a vontade de rir.
- Posso saber do que está rindo?
A voz que me arrancou dos meus pensamentos era bastante familiar.
Olhei para a porta surpresa por não ter ouvido o sino soar e por alguém está me observando. Posso dizer que minha surpresa maior foi meus olhos se depararem com Diego.
- O-o que vo-você tá fazendo aqui? - me odiei por gaguejar e o odiei por sorrir.
- Ora Katherina, que pergunta tola, o que se faz em uma floricultura?
Senti o rosto queimar. Ele parecia se divertir com minha falta de jeito. Recuperei o máximo que consegui da minha dignidade e perguntei:
- Do que está a procura?
- Flores.
O fulminei com os olhos o que o fez rir.
- Que tipo exatamente de flores? - perguntei entredentes.
Cruzei os braços para não pegar o jarro com terra mais próximo e atirar nele.
- Não faço ideia. - disse ele se aproximando do balcão onde eu estava apoiada - Mas você pode me mostrar as mais belas.
- Por acaso sabia que eu trabalho aqui?
- Não. - respondeu com um ar insolente e inocente. - Foi uma baita coincidência, não acha Katherina?
- Não, eu não acho.
Ele apenas deu de ombros e deu mais um de seus sorrisos.
Sai de trás do balcão e acenei para que me seguisse até as prateleiras carregadas com as mais variadas flores de cores e tons diferentes e uma mistura de cheiros espetaculares.
- Bem - iniciei - acho que beleza é algo subjetivo, vai de gosto e preferência, mas se quiser minha opinião eu acho linda as rosas do deserto, também tem o clichê das flores, as rosas vermelhas, elas tem um perfume encantador, também tem as tulipas, eu tenho uma paixão secreta por elas...- suspirei e lembrei com quem estava falando, recuperei a compostura - Posso passar o dia inteiro falando sobre flores, então se você disser quem quer presentear posso lhe sugerir alguma em especial.
- Você fala com paixão sobre as flores, parece saber muito sobre elas.
- Sou uma apreciadora e tenho estudado bastante sobre elas.
Ele me lançou um sorriso torto.
Desviei os olhos daquela boca que parecia provocar com sorrisos.
- Notei. - ele enfiou as mãos nos bolsos da bermuda jeans.
- Então...
- É para uma amiga, ela faz aniversário hoje e eu devo um pedido enorme de desculpas a ela. Soube que flores são excelentes para iniciar um pedido de desculpas. Então, qual me sugere?
- Bem...uma amiga...- percorri meus olhos pelas prateleiras - Deixe-me ver...Orquídeas! Que tal orquídeas? - mostrei a ele - São lindas, não são? Ou astromélias...
Coloquei as mãos na cintura decidindo entre qual optaria.
- Qual você escolheria? - perguntou Diego.
- Orquídeas. - respondi - Sabe se ela é alérgica a algum tipo de flor?
- Não, ela não é alérgica. - respondeu ele - Então vou ficar com as orquídeas.
Preparei um buquê para ele.
- Deveria levar uma caixa de bombons, chocolate é um ponto fraco para a maior parte da população, e se quer amolecer...adoçar o coração dela...
- Você é uma ótima vendedora.
- Obrigada.
- Se acha que ela vai me perdoar, eu levo a caixa.
Entreguei o buquê e a caixa de bombons.
Ele me pagou e me deu mais um de seus sorrisos.
- Obrigada pela preferência. - falei.
- Te vejo segunda, Kate. - disse Diego ao passar pela porta.
- Para você é Katherina! - gritei.
E ele ouviu, pois mesmo já com certa distância ouvi sua risada.
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Uma Chance para Recomeçar
Storie d'amoreA felicidade nunca caminhou lado a lado com Katherina Thomson, ela podia dizer que sua infelicidade começou quando foi abandonada pela mãe. A sorte também não parecia simpatizar muito com ela, era criada pelo pai e uma madrasta que a odiava. O mundo...