Capítulo XXXI

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  No meio do caminho meu pai ligou para Caíque avisando que estávamos indo para casa. Eu não quis falar com ele pelo celular, queria que nosso reencontro fosse pessoalmente. Paramos para abastecer o carro e também em um mercado no caminho para comprar umas coisas. Meu pai não me perdia de vista parecia com medo de piscar os olhos e eu sumir de novo.

  Chegamos na nova casa. Na minha  nova casa, era bem distante da outra. Meu pai me entregou a chave e pediu que eu abrisse a porta enquanto ele tirava as compras da mala do carro. Fiz o que ele pediu.
  Não havia móveis, apenas um monte de caixas espalhadas pelos vãos.
  - Sei que não é o ideal de boas vindas, - disse meu pai colocando as sacolas no chão - mas estávamos tão preocupados em achar você, que não nos preocupamos com a mudança.
  - Não tem problema, - falei lhe dando um sorriso - a gente organiza tudo. Juntos.
  - Senti tanto a sua falta. - disse ele.
  - Também senti sua falta, papai.
  - Obrigado por me dá uma segunda chance.
  - Não me faça chorar de novo. - reclamei. Ele sorriu.
  Estava feliz por sua expressão está voltando ao normal, as rugas de preocupação haviam desaparecido, e a sua aparência estava bem melhor.
  Ouvi um barulho de passos descendo correndo a escada, não tive tempo para me preparar para o mais apertado abraço de urso da história que meu irmão me deu.
  - Caíque! - gritei feliz por vê-lo.
  - Você me deixou apavorado! Nunca mais me deixe! Nunca mais faça isso! - reclamou meu irmão, mas com um tom amável.
  - Nunca mais vou fugir. - falei.
  - Vou levar as coisas para cozinha. - disse Sebastian como desculpa para nos deixar a sós.
  Quando ele desapareceu pelo corredor Caíque começou a falar:
  - Sinto muito por ter te deixado no momento que mais precisava de mim, me perdoa, irmãzinha. - ele sempre usava o termo "irmãzinha" quando aprontava comigo e queria fazer as pazes.
  - Não precisa pedir perdão...
  - Claro que preciso. Eu te deixei, aceitei fingir não te conhecer para me tornar popular, eu nunca devia ter aceitado porquê você é mais importante que popularidade, que todos eles. Eu devia ter ouvido você quando disse que Tati não prestava, e não ficar chateado, devia ter contado há muitos anos o que minha mãe fazia com você ao nosso pai. Então eu preciso sim pedir perdão, porquê fui um idiota e tão babaca quanto Diego.
  Caíque estava com os olhos marejados, a aparência dele não estava tão melhor quanto a do meu pai mais cedo. E novamente senti a onda de culpa me atingir, eles estavam preocupados, com medo por meu bem estar, eles estavam sofrendo, como é que achei que uma mensagem podia tranquilizar eles? E ainda tinha Diego. Só do meu irmão falar o nome dele o meu coração acelerou. Por mais que Diego tivesse deixado ele em pedacinhos meu coração insistia em manter o sentimento intacto. Mas eu não pensaria em Diego agora, pensaria no meu pai e em meu irmão e cuidaria para que eles ficassem bem.
  - Então eu te perdoo, - falei - se precisa ouvir isso, eu te perdoo, eu te amo Caíque. Você sempre foi meu porto seguro, a pessoa que me erguia quando eu não conseguia levantar, se em minha história houvesse um príncipe, esse seria você. Você é meu anjo, sempre me protegendo, me consolando, me ajudando a superar, me fazendo rir quando eu estava péssima, você é uma das pessoas que mais amo nesse mundo. Mas acima de tudo você é humano, e nós erramos, somos falhos por natureza. Também tenho que pedir desculpas por ter fugido e te deixado. E agradecer por ter contado tudo que sua mãe fez comigo, eu sei que foi difícil para você. Preciso agradecer por tudo que fez por mim, desde sempre.
  - Foi um alívio contar para o nosso pai. Parecia que eu estava carregando uma mala cheia de chumbo nas costas e falar tudo me trouxe alívio. Minha mãe nunca mereceu nosso pai, nem o afeto que você queria dar a ela. Ah, Kate, se você visse... Nunca vi nosso pai tão furioso, eu tive que segurar ele, eu e o Diego, para que ele não avançasse em cima dela. E eu não consegui senti pena dela, não consegui sentir pena da minha mãe, ela plantou o que colheu.
  - Sinto muito que as coisas tenham chegado a esse ponto.
  - Eu também. Mas foi a escolha dela.
  Eu tive que concordar com ele e então lembrei de algo que ele falou um pouco antes e perguntei:
  - Vo-Você disse que descobriu que a Tati não prestava, como?
  - Diego. Ele descobriu que você fugiu, foi lá em casa furioso e jogou tudo para fora. Ele descobriu que Camille tinha feito outra aposta, dessa vez com Tati para te humilhar na frente da escola inteira e se vingar dele por ter desistido da aposta anterior, eu confirmei essa história, fui até a casa de Tati e vi as conversas dela com Camille em seu celular, e foi assim que também descobri que Tati me dopou com remédio para dormir para que eu não voltasse para casa no dia que você fugiu, tudo planejado com Camille. E ele também me contou o que ela fazia com você na escola. Nunca imaginei que era tão idiota. Você teve que fugir para que eu conseguisse enxergar. Diego me fez ter coragem de falar para o nosso pai tudo. Ele parecia uma fera furiosa. Diego errou muito com você, e eu queria matá-lo por ter te machucado, mas eu percebi nesses últimos dias que ele te ama de verdade, e que não posso condená-lo por errar. E ver a mãe dele puxando a orelha dele também me deixou bem satisfeito.
  Eu arregalei os olhos surpresa e indaguei:
  - A mãe de Diego puxou a orelha dele? 
  - Ah sim, ela puxou.
  Eu sorri.
  Era uma cena que eu adoraria ter presenciado.
  - Ele me ligava umas cem vezes por dia para saber se tinha alguma notícia sua. - disse Caíque.
  - Tem certeza que não era só remorso pelo que me fez?
  - Não. É amor. Ele estava devastado, Kate. Arrasado. Quando vi o carro do papai chegando eu liguei para ele e disse que você tinha chegado, para Denise também. Estão loucos para te ver.
  - Pode pedir para Denise vim? Estou com saudades dela.
  Ele assentiu e perguntou:
  - E o Diego?
  - Não quero pensar nele agora, tudo que você me disse... Eu preciso pensar direito e agora tudo que quero é não pensar nele e te contar o quão maravilhosa é minha mãe.
  - Então você realmente encontrou sua mãe?! - perguntou ele surpreso e feliz.
  Ele sabia o quanto era importante para mim encontrá-la.
  - Sim! E eu tenho um irmãozinho chamado Benjamin, ele tem cinco anos e é muito fofo, tenho certeza que ele vai gostar de você. - eu disse animada.
  - Mas não quero um resumo, pode me contar tim-tim-por-tim-tim.
  - Eu vou contar. Mas primeiro preciso ligar para minha mãe.

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