Nunca tive uma festa de aniversário. Até que o Sebastian sugeriu em alguns anos mas eu disse claramente que não queria. Ao invés disso eu sempre comemorava com Caíque, a gente saia, tomava um sorvete, ficava rindo feito dois malucos na rua e falando em assuntos aleatórios. Eu amava isso. Não trocaria esses momentos com meu irmão por nenhuma festa. Mas então, eu cheguei em casa, - depois daquele episódio com Diego- fui para o meu quarto e lá estava Caíque.
- Você tem que parar de ficar no meu quarto parado como uma estátua, - reclamei - qualquer dia vai me matar de susto.
Ele tentou sorrir, mas eu vi em seu semblante que ele tinha algo sério para me contar.
- Kate, estou me sentindo péssimo. - começou ele.
- O que aconteceu? - perguntei já um pouco nervosa.
- Amanhã é seu aniversário.
- É, eu sei. Estava pensando em alguns lugares para gente ir... - parei ao ver a expressão de dor no rosto dele - Me diz o que é está acontecendo, Caíque.
- A mãe da Tati completa ano amanhã também. E ela me chamou para uma festa que vai dar...E na hora eu não lembrei e acabei aceitando. - ele tampou com as mãos o rosto e depois me encarou - Eu não lembrei do seu aniversário, Kate, eu sou o pior irmão do mundo! Como fui egoísta em pensar só em mim.
Um pequeno sorriso que eu mantinha no rosto se foi. Mas eu tinha que ser forte. Por mais doloroso que fosse essa notícia eu não podia pensar apenas em mim. Caíque não merecia se martirizar pela culpa. Então segurei a dor que sentia e segurei suas mãos.
- Ei, tá tudo bem. - eu disse - Agora você tem outros compromissos, eu entendo, tá? Você sempre esteve comigo, sempre. Você comemorou comigo em todos esses anos. Caíque, você não é um irmão ruim, pelo contrário, é o melhor irmão que eu poderia ter. E está certo em pensar em você ao menos uma vez em primeiro lugar, para de se culpar.
- Eu vou desmarcar com a Tati.
- Não. Você vai. O que é uma tarde tomando sorvete com sua irmã esquisita comparada ao festão que a sua sogra vai dar?
- Kate...
- Não pode ficar mal com sua sogra.
Ele suspirou.
- Também não posso ficar mal com você.
Eu o abracei.
- Seu tonto, sou eu que estou te dizendo para ir.
- Só vou se você me prometer que vai ficar bem.
Eu forcei um sorriso.
- Eu vou ficar, você vai se divertir, vai ganhar o coração da sua sogra e eu vou...Vou pensar no que fazer.
- Eu te amo muito.
- Eu te amo mais.○○○
No outro dia acordei com o despertador, desliguei o alarme, me espreguicei, levantei da cama, encarei o reflexo no espelho de uma Kate despenteada e sorri para ela.
- Parabéns Katherina. - disse para ela. Ou melhor, para mim mesma.
Me arrumei e fui para escola ainda mais cedo do que de costume. Decidi não pegar o ônibus, fui caminhando, peguei o caminho mais longo.
Queria pensar no que faria hoje. Com certeza não ficaria em casa, pensei em ir para minha lanchonete favorita. Mas ficar a tarde inteira lá? Sozinha?
Pensando em minhas alternativas, um rosto surgiu em minha mente.
Diego.
- Não, Kate, não mesmo.
Mas eu não podia negar, aquele dia na praia eu tinha me divertido muito, e sim, eu gostaria de passar o dia de hoje com ele. Um sorriso surgiu em meus lábios antes que eu conseguisse me conter.
E como se meus pensamentos fossem uma deixa avistei Diego sentado no terceiro degrau da escada da escola, estava sozinho com o fone de ouvido. Ele sorriu ao me ver e acenou para que eu fosse até ele.
Olhei para os lados, não tinha quase ninguém ainda na escola então eu fui.
- Bom dia, Katherina.
- Bom dia, Diego. - respondi - Não tem medo de ser visto comigo?
- Não tem quase ninguém aqui.
- O que quer?
- Saber se vai poder me dar aula hoje.
Levei meio segundo para pensar, eu não tinha nada para fazer hoje, e apesar de ter dito ao Caíque que ficaria bem sozinha eu não ficaria. Além disso, por mais que odiasse admitir eu estava começando a apreciar a companhia de Diego. Eu teria que ter uma conversa muito séria comigo mesma sobre isso. Mas não hoje.
- Posso. No mesmo horário, o.k?
- O.k.
- Agora vou entrar...
- Eu também vou. - disse ele se levantando.
- Então vamos.
Entramos no corredor da escola juntos, andávamos lado a lado, eu estava prestes a dizer "até mais" ao Diego e subir até a biblioteca quando Denise dobrou no corredor e nos viu.
Ah não, não, não!
Ela abriu um sorriso enorme e veio ao meu encontro, me deu um abraço forte e falou:
- Feliz aniversário!!!
- Obrigada.
- Está completando ano hoje? - indagou Diego.
- É, eu estou. - respondi.
Ele me puxou para um abraço.
- Feliz aniversário!!
O cheiro dele era maravilhoso, o abraço era quente e acolhedor...E eu estava devendo uma resposta...
Me afastei com o rosto levemente corado.
- Obrigada.
Denise me olhou desconfiada, olhou para Diego, voltou a olhar para mim.
Eu pigarriei e depois falei:
- É...hum...Acho melhor a gente ir Denise.
- Claro.
- Até mais Diego. - falei.
- Até.
- O que vai fazer hoje? - perguntou Denise.
- Nada. Meu pai vai está trabalhando - com a voz reduzida a quase um sussurro completei - e Caíque vai para festa da sogra, então eu vou ficar sozinha.
- Kate, se eu não fosse viajar...
- Não se desculpe.
Quando íamos dobrar no corredor, olhei para trás, Diego continuava onde estávamos pouco antes, ele me deu um sorriso e uma piscada de olho. Com o rosto vermelho desviei os olhos e continuei a andar ao lado da minha amiga.
- Agora já estamos longe o bastante. - disse ela.
- O quê? De quê? - perguntei confusa.
- Não sabia que andava com Diego.
- Eu não ando.
- E o que foi a cena que eu vi? Vocês dois andando um do lado do outro...
- Apenas entramos na mesma hora.
- E o abraço? Desde quando os populares nos dão feliz aniversário? E um abraço?!
- Denise, eu estou dando aulas de álgebra para o Diego.
- Onde?
- Na casa dele.
- Desde quando?
- Há poucas semanas.
- E só me conta agora?
- É algo sem importância.
- Assim como esse rosto vermelho?
Eu lhe empurrei levemente.
- Pare, tá me deixando com vergonha.
- Só não se iluda, tá bom? Garotos como Diego destroem corações de garotas como nós. Então proteja este coração gentil e enorme que você tem.
- Claro. Você é uma amiga maravilhosa.
Ela me deu mais um abraço.
- Você que é. Vamos para sala?
- Vamos.○○○
Quando largamos fui para casa, Liz estava em casa, mas ao menos fingiu que eu não existia, preferia quando ela me ignorava. Desci até meu quarto, troquei os cadernos e livros que estavam na mochila pelos que levaria para casa de Diego. Tomei banho, vesti uma camisa de manga curta do Batman e um macacão jeans, fiz um rabo-de-cavalo alto em meu cabelo avermelhado e encarei-me no espelho. Notei que estava feliz, e temia que o motivo fosse alto, lindo e com um sorriso charmoso e irresistível. Denise me pediu para proteger meu coração, e ela estava certa sobre o que disse, o problema foi o que eu não disse:
Que talvez, só talvez, fosse um pouco tarde para protegê-lo.
Sai da frente do espelho, e só então percebi que tinha um envelope em cima da cômoda, fui até lá, estava escrito.
De: Um irmão tentando se redimir.
Para: A melhor e mais incrível irmã do mundo.
Um sorriso enorme surgiu em meu rosto. Caíque era tão fofo.
Abri o envelope, tirei a folha que continha lá dentro, desdobrei e comecei a ler:
Querida Kate,
Você não tem noção do quão triste fiquei por não passar o dia de hoje com você. E adianto que vou recompensá-la por ter sido um péssimo irmão. Mas vamos deixar essa parte para depois, pois o quero te dizer é:
Kate, você é a melhor irmã do universo, é a garota mais forte que conheço, e a mais gentil. É tão boa, tão maravilhosa, tão espetacular! Talvez boa parte das pessoas não tenham consciência do quão especial você é. Mas eu sei, e sou tão grato por ser seu irmão. Sou honrado por tê-la. Sei que sou uma pessoa melhor por ter você por perto, sempre me trazendo luz, me fazendo enxergar as coisas de forma mais ampla e mais colorida. Sempre me dando sermões - e eu os amo - sempre sendo você. Sendo esse ser tão imensamente iluminado.
Eu te amo muito, muito, muito, infinitamente muito. Feliz Aniversário!!
P.S Como disse vou recompensá-la. Domingo.
E antes de terminar o dia vou lhe dar um abraço super forte. Prepare as costelas.
Com amor, Caíque.
Quando terminei de ler minha vista estava embaçada pelas lágrimas, e um sorriso tinha enfeitado meu rosto.
- Ah, Caíque também te amo muito. - sussurrei.
Dobrei minha carta, enfiei novamente no envelope e guardei na terceira gaveta da minha cômoda.
Enxuguei as lágrimas, me recompus, peguei minha mochila e comecei minha caminhada até a casa de Diego.
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Uma Chance para Recomeçar
RomanceA felicidade nunca caminhou lado a lado com Katherina Thomson, ela podia dizer que sua infelicidade começou quando foi abandonada pela mãe. A sorte também não parecia simpatizar muito com ela, era criada pelo pai e uma madrasta que a odiava. O mundo...