Eu e Diego criamos uma rotina, quando eu não dava monitorias para ele, a gente ia até o Central Parque - sentávamos para assistir o pôr-do-sol, ou caminhávamos, ou andávamos de bicicleta - ou a gente ia ao cinema, ou na lanchonete que eu considerava meu refúgio, ele até passou um sábado inteiro comigo na floricultura, a gente sempre arrumava algum lugar ou algum tempinho para ficarmos juntos, e na escola, quando ninguém estava por perto, e nós perto o suficiente ele me roubava beijos, ou me abraçava, ou me dava um carinhoso beijo na testa, todos os dias eu acordava dizendo à mim mesma que era impossível se apaixonar ainda mais por ele, todos os dias eu ia dormir tendo a mais total e plena certeza que eu estava mais e mais apaixonada.
Me sentia como se andasse de olhos vendados à beira de um precipício. Como se estivesse em um sonho e a qualquer momento soubesse que o despertador iria tocar e me despertar para a realidade.
Para mim era difícil aceitar que finalmente eu podia ser completamente feliz, porquê eu sentia-me transbordando de felicidade. Estava tão feliz que não dava a mínima para as provocações da minha irmã, nem para o desprezo da minha madrasta, nem para as ofensas de Dylan, Tati e sua turma. Todos os problemas pareciam desaparecer quando eu estava com ele. E isso me dava medo, Diego era como meu porto seguro, quando eu estava com ele tudo que existia era felicidade, calma, o coração batendo forte, as borboletas fazendo de meu estômago jardim, com ele as coisas pareciam ser simples e um sorriso dele parecia iluminar tudo. Eu estava perdidamente apaixonada por ele. Então, se ele partisse meu coração, se eu caísse do precipício, se eu acordasse do sonho, não sabia o que restaria de mim, não sabia se conseguia juntar todos os caquinhos do meu coração. Não sabia se conseguiria lidar com tanta dor. E era por conta desses pensamentos que eu não tinha entregado meu coração nas mãos dele.
E foi no meio desses pensamentos que Diego me encontrou. Ele me deu um sorriso, depois ficou mais sério.
- O que foi? - ele perguntou - Está tão séria, aconteceu algo?
Ele me deu um beijo na testa.
- Ah, não. Tá tudo bem, estava só...pensando.
Ele inclinou a cabeça de lado.
- Pensando...Posso saber em quê?
Eu olhei para os dois lados, sem ninguém em vista lhe dei um selinho e disse:
- Não, não pode seu curioso.
Ele riu.
- Tudo bem. Mas se quiser que eu não insista em saber e olha que eu posso ser bem insistente, vai ter que me dá mais um beijo.
- Você é muito espertinho, sabia?
Ele riu e abaixou sua boca até a minha.
- A gente podia ir a algum lugar hoje. - ele sugeriu se afastando um pouco e brincando com uma mecha do meu cabelo.
- Hoje não dá. Tenho que monitorar o Dylan.
Ele ficou bem sério, como sempre que eu mencionava Dylan.
- Ele tem se comportado com você? - perguntou ele um pouco tenso.
- O suficiente para você não se preocupar. - respondi.
Nem ele e nem Caíque. Mas os dois não pareciam ouvir quando eu dizia para não se preocuparem. Quando eu dava aulas para Dylan na biblioteca, Caíque ia lá fingindo ir pegar um livro, uma, duas, até cinco vezes! Até eu o fuzilar com os olhos. Diego não saia por baixo, eu o via circulando pela frente da biblioteca. Já tinha falado com os dois para me deixarem lidar com Dylan sozinha.
- O suficiente...- ele resmungou repetindo.
Dei uma cotovelada nas costelas dele.
- Ai!
- E você também tem que estudar, as monitorias não são o suficiente e as provas estão se aproximando.
- Assim como o campeonato... - ele suspirou - Eu vou estudar. E lhe prometi um dez lembra?
- E pode apostar que vou cobrar.
Ouvi passos se aproximando e me afastei dele.
- Preciso ir. - falei.
- Ligo para você mais tarde. - ele disse.○○○
Já passava das cinco quando terminei a monitoria com Dylan - porquê ele se atrasou, o que já era de costume. Dylan era muito bonito, mas tão canalha, tão babaca, que eu não me sentia bem ao seu lado, nem tentava uma amizade. Diferente de Diego, Dylan era exatamente quem se mostrava ser, cruel, arrogante e cheio de si.
Ele jogou seu caderno e o livro na mochila e saiu da biblioteca.
Mandei uma mensagem para o Diego:
"Estou saindo agora da escola, quando eu chegar em casa falo com você. <3"
Ele respondeu imediatamente:
"Agora? Dylan já foi embora?"
Respondi:
"Sim, ele já foi. Por quê?"
"Quer que eu passe aí para te buscar? Não estou longe daí, podemos comer no Joe&Mary, donuts..."
Eu tinha saído da biblioteca, descido a escada, caminhava pelo corredor principal quando respondi:
"Você sabe que não consigo dizer não a donuts, muito menos no Joe&Mary! Vou te esperar em frente a escola.;-)"
Aproveitei e mandei uma mensagem para o Caíque avisando que tinha acabado de sair da escola e que ia sair com Diego. Mas ele não estava online.
Assim que cheguei no portão da escola e olhei para esquina vi Dylan parado, escorado no muro. Decidi que atravessaria a rua e ficaria do outro lado, assim eu veria quando Diego chegasse e não ficaria perto do Dylan. Mas mal dei alguns passos quando vi alguém do outro lado, era um dos amigos de Dylan, e na outra esquina tinha outro. Foi nesse momento que comecei a sentir medo, senti um calafrio. E fiquei ainda mais apavorada quando ele disse:
- Olá de novo, Katherina. Estávamos esperando você.
Decidi que era melhor fingir não está apavorada. Enxuguei as mãos suadas no jeans e o encarei.
- Me esperando?
- Sim. Queria conversar com você.
- Passou a tarde inteira ao meu lado e não disse nada. Agora tenho um compromisso.
Ele ignorou o que eu disse e falou:
- Sabe, fiquei perplexo com uma cena que vi hoje.
Não perguntei o que ele tinha visto como ele esperava, então ele esclareceu:
- Você e o Diego se beijando. Jamais imaginei ver isso. Não imaginava que Diego tinha um gosto tão peculiar.
- Minha vida pessoal não lhe interessa. Era só isso? Tchau.
Mas ele segurou meu pulso antes que eu desse as costas para ele.
- Dylan, você está me machucando, me solte! - ordenei - Se não...
- Se não vai relatar ao professor? - ele riu - Hoje vou lhe mostrar como lido com ameaças, e também descobrir o que Diego viu em você...Somos inimigos, mas sei que ele é refinado o bastante para não pegar qualquer coisa.
- Me solta! - gritei apavorada.
Os amigos dele se aproximaram rindo.
- Largue ela agora! - uma voz tempestuosa berrou e eu reconheci imediatamente de quem era.
Diego.
Só precisei olhar para ele para sentir o pavor diminuir, mas logo percebi que Diego estava em desvantagem e eles se odiavam. Voltei a ficar aflita.
Tentei me desvencilhar de Dylan e correr para Diego, mas ele cerrou ainda mais sua mão em meu pulso. Contive um grito de dor.
Diego parecia a fúria em pessoa, eu o encarava pedindo em silêncio para ele não fazer nenhuma besteira, mas percebi que minhas preces não seriam ouvidas quando jurei ter visto um raio cruzar aqueles olhos castanhos enfurecidos.
Mas Dylan não pareceu se intimidar nem um pouco, mantinha um sorriso provocativo estampado no rosto. E então falou:
- Ora, ora! Acho que a sorte está mesmo do meu lado. Queria mesmo falar com você, na verdade quero fazer uma pergunta. O que ela tem que o atraiu? Vi vocês dois se beijando, qual é o encanto que você tem Katherina? - perguntou ele deslizando os dedos em meu braço. Senti um tremor percorrer todo meu corpo.
- Tire as mãos dela! - gritou Diego avançando como um furacão em nossa direção, os amigos de Dylan tentaram formar uma barreira de frente, mas Diego desviou de um e deu um soco no queixo do outro e então mirou outro soco mas esse direcionado a Dylan, mas esse me puxou e passou o braço em volta do meu pescoço me fazendo seu escudo.
- Dylan, eu juro que se não soltá-la agora eu acabo com você! Acabo com você! Seu problema é comigo, então resolva comigo, ela não tem nada haver com isso.
- Ai é que você se engana meu caro, tenho minhas pendências com ela também. Mas é divertido ver seu desespero para que eu a solte. Ela é tão importante para você assim? Não me diga que se apaixonou pela esquisita da escola, isso eu não esperava nem de você.
Aproveitando que ele folgou um pouco o aperto em meu pescoço eu mordi o braço dele, ele gritou, eu sai correndo na direção de Diego, mas antes que eu o abraçasse ele me deteve pelos braços e disse:
- Vá para casa, preciso ter certeza que estará segura. Vá!
- Você vem comigo! Não vou deixá-lo aqui com eles!
- Vá! - gritou ele e me empurrou se esquivando de um soco de Dylan. Eu me desequilibrei e cai, estava me levantando quando Dylan vinha em minha direção furioso.
- Sua vaca baranga, vai se arrepender de ter me mordi...- Dylan não conseguiu terminar pois levou um soco de direita na boca. Diego parecendo um touro derrubou Dylan e lhe acertou mais dois socos, então os amigos de Dylan que só esperavam o comando dele foram interferir, agarraram Diego, cada um por um braço e o tiraram de cima do Dylan. E foi a vez de Dylan bater em Diego, ele lhe deu dois chutes no estômago e lhe deu dois murros. Ia dar o terceiro quando gritei:
- Deixe ele em paz!
Corri até a briga e pulei nas costas de Dylan, puxei o cabelo dele e arranhei seu rosto, ele se afastou de Diego tentando se livrar de mim.
- Continuem batendo nele! - ordenou Dylan aos que seguravam Diego.
Eu olhei para Diego, o rosto sangrando e inchado. Meus olhos encontraram os dele e eu fui tomada por uma raiva que nunca achei poder sentir e cravei ainda mais forte minhas unhas na pele de Dylan, ele gritou e conseguiu me arrancar de suas costas, depois torceu meu braço e me fez assistir os outros dois batendo em Diego, ele também batia, mas não podia dar conta dos dois. Eu esperniava e gritava sem parar pedindo à Deus que alguém ajudasse meu Diego.
Essa prece foi ouvida.
Caíque apareceu, e só bastou um único olhar para mim para sua expressão de preocupada se tornar furiosa.
- Ajude Diego! - gritei. Mas uma vez Dylan vacilou comigo o suficiente para eu me soltar e lhe acertar um chute no meio das pernas, ele gemeu e caiu no chão. Eu lhe dei mais dois chutes, um exatamente no mesmo local e outro no estômago, como ele deu em Diego.
Corri para longe dele. Uma sirene soou alta, os amigos de Dylan correram e arrastaram Dylan com eles.
Era apenas uma ambulância.
Mas agradeci a Deus por eles não terem percebido a diferença.
Corri e me ajoelhei ao lado de Diego.
- Você tá bem? - ele perguntou com a voz arrastada.
- Estou. Mas você não tá nada bem. Me desculpe.
- Você não tem culpa do Dylan ser um canalha.
- Obrigada Caí. - falei com a voz trêmula.
Então senti algo se quebrar dentro de mim e comecei a chorar. Caíque se ajoelhou ao nosso lado, eu o olhei com os olhos marejados,
- Ah, dane-se - disse ele e me puxou para um abraço forte - Tá tudo bem, tá tudo bem Kate. Eu tô aqui. Eu tô aqui, meu amor.
- Meu amor? - indagou Diego.
Eu me afastei de Caíque e abracei Diego, delicadamente para não machucá-lo.
- A gente vai te explicar. - eu disse para ele - Mas primeiro vou cuidar de você. Caí, me ajude a levantá-lo, vamos levar ele para nossa casa.
- Nossa casa? Acho que bateram minha cabeça no asfalto, só pode. - murmurou Diego.
O que ele pensaria quando soubesse a verdade?
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Uma Chance para Recomeçar
RomanceA felicidade nunca caminhou lado a lado com Katherina Thomson, ela podia dizer que sua infelicidade começou quando foi abandonada pela mãe. A sorte também não parecia simpatizar muito com ela, era criada pelo pai e uma madrasta que a odiava. O mundo...