Era uma sexta-feira a noite, o dia do campeonato de futebol. As líderes de torcida passeavam pelos corredores com seus uniformes e pom-poms prontas para agitar a torcida, e falando em torcida estávamos com o rosto pintado de vermelho e preto as cores da escola em duas listas como se fôssemos para guerra, e tinha apitos e muito barulho, havia algo de emocionante nisso tudo e até eu que nunca fui muito fã de jogos estava na expectativa. Caíque mal se continha de tanta empolgação, e também estava super nervoso, então decidi ir com Denise até onde o time estava para desejar um bom jogo e ir procurar um lugar para sentar na arquibancada, mas assim que nos aproximamos vi que havia algo errado, primeiro que o treinador suava descontroladamente, depois a cara dos jogadores.
- Ele não está atendendo! - berrou um dos jogadores mais lá trás - E agora?
- Diego não se atrasaria para algo tão importante. - ouvi o treinador falar.
Droga! Então ele realmente decidiu não vim jogar?!
Arrastei Denise pelo braço até chegar em meu irmão.
- Caí, o que houve? - perguntei.
- É verdade que Diego não apareceu? - indagou Denise.
- Ele resolveu tomar chá de sumiço logo hoje. Não atende as ligações, nem responde as milhares de mensagens que deixamos. Droga, o que deu nele?
Ele tinha falado que não jogaria, mas achei que ele não estava falando sério. Ele amava jogar e era importante para ele aquele jogo.
- E agora? - perguntou Denise.
- Eu ia atrás dele, mas não posso ir o time vai ficar ainda mais desequilibrado. - disse Caíque parecendo aflito. Vi nos olhos do meu irmão toda a empolgação e alegria ir sumindo.
Ah, não. Diego apareceria naquele jogo. Ele não faria essa desfeita com meu irmão.
- Quanto tempo falta para o jogo começar? - perguntei.
- Menos de uma hora. - respondeu meu irmão desanimado.
- Ei, ei, nada de desanimar. Não pira. - falei e respirei fundo - Vou buscar seu capitão e o trarei para esse jogo nem que seja arrastado.
- Vai mesmo? - questionou meu irmão surpreso.
- Ah vou. Pode ter certeza. Tranquilize seu treinador e os seus parceiros. Eu cuido do Diego. Foque no jogo. Vai dar tudo certo.
Ele me deu um sorriso tão largo que só me encheu de determinação. E um beijo em minha testa.
- Te amo. - disse ele.
- Também te amo.○○○
Vinte e cinco minutos depois eu estava em frente à casa de Diego. Felizmente ele não morava longe da escola, agora torcia que a sorte só dessa vez estivesse ao meu favor e ele estivesse em casa. Arrumei coragem não sei de onde e toquei a campanhia.
A mãe de Diego abriu a porta instantes depois.
- Kate! É tão bom te ver! - ela me abraçou.
Desde que tinha voltado eu não a tinha visto pessoalmente, mas tinha falado com ela pelo celular.
- Também é muito bom vê-la. - falei gentilmente - Estava com saudades e queria muito ficar conversando com a senhora, mas estou meio sem tempo e com urgência de encontrar seu filho.
Ela me deu passagem para entrar dentro da casa e fechou a porta depois.
- Urgência? - ecoou ela.
- Sim. Ele não apareceu para o campeonato de futebol que está para iniciar a alguns minutos.
Ela suspirou.
- Ele está fazendo isso por você. - disse ela.
- Por mim? Mas eu já o perdoei por tudo que ele fez...
- Mas ele não se perdoo. Nem sei se um dia ele vai.
- É por isso que ele não apareceu para o campeonato? Está tentando se castigar pelo que fez comigo?
- Sim. Sei que o que meu filho fez foi horrível, mas Kate, ele te ama de verdade e conhecendo ele como conheço sei que ele faria qualquer coisa para consertar o que fez se pudesse.
- Ele está aqui, não está?
- Ele pediu para eu não dizer que ele estava em casa, mas não falou nada em dizer que está no quarto em baixo das cobertas remoendo sua culpa.
Eu sorri em agradecimento.
- Muito obrigada.
Subi correndo e entrei no quarto dele.
As cortinas estavam fechadas e a luz desligada. Acendi a luz do quarto e abri as cortinas deixando a luz da lua iluminar. Puxei o edredom, mas ele segurou mantendo onde estava.
- Mãe! Pedi para que me deixasse sozinho. - disse ele.
Revirei os olhos.
- Diego... levante imediatamente e pare de agir feito uma criança! - gritei puxando o edredom, e dessa vez para meu azar ele tinha soltado e eu cai com a bunda no chão e o edredom em cima de mim.
- Kate! - ele pulou da cama e um segundo depois estava me ajudando a levantar do chão. - Você está bem? Se machucou? Me desculpe! Achei que fosse...
- Sua mãe. - falei - Eu ouvi.
Lá estava ele, sem camisa deixando seu abdômen malhado exposto e com uma Samba-Canção com estampa de Popeye. Se a situação não fosse realmente imediata eu teria caído na risada e passado mais um tempinho admirando aquele corpo maravilhoso, mas...
- O que está fazendo aqui? - indagou ele.
- O que acha que estou fazendo aqui?! Vim te buscar. Tem que participar do campeonato, Diego. O time precisa de você! Não pode fazer isso com eles, meu irmão está tão entusiasmado com esse jogo, é o primeiro jogo importante do Caí e você vai fazer isso com ele?
- Kate, você não entende...
- Eu entendo! Sei que está tentando se torturar pelo que fez, mas eu não vou deixar fazer isso. Eu já te perdoei, você tem que se perdoar também!
- Eu estraguei a coisa mais linda que aconteceu em minha vida, eu tinha você e eu te perdi. Não posso me perdoar por isso. Nunca. Eu perdi o amor da minha vida e minha felicidade. Você nunca vai voltar a confiar em mim, não é?
- Diego, não é hora para falarmos de nós dois, mas se gosta de mim como diz, então por favor vá para aquele campeonato e guie aquele time tão determinado.
- Não quer que eu sofra? Por tudo que eu fiz com você?
- Eu sei que está sofrendo. E eu odeio isso, porque apesar de tudo eu ainda amo você. E acredite, também não está sendo fácil para mim.
- Kate...
- Não vamos falar mais sobre isso, tá bem. Não agora. Só vamos logo, o jogo já deve está perto de começar.
- Quais as chances de me deixar voltar para cama?
- Não há chance nenhuma. Você vai para aquele jogo e vai guiar o time para vitória. Fim de papo.
Ele suspirou. Mas depois sorriu para mim.
- Me dê um minuto para me vestir de forma...Mais apresentável.
- Você tem trinta segundos. - falei saindo do quarto.○○○
Eu acho que nunca gritei tanto em minha vida, mas valeu a pena. O jogo não foi fácil, o time rival era tão bom quanto o nosso. Mas apesar disso nós levamos o troféu. Nosso time ganhou de 3×2. A comemoração da escola se deslocou para casa do Alex, um dos jogadores do time. Apesar do meu irmão ter insistido para eu ir para festa, eu decidi ir para casa, não gostava de festas colegiais. Então passei na minha lanchonete favorita, comprei donuts e fui caminhando até a parada de ônibus. Tarde demais reparei em Diego parado encostado em sua moto olhando para mim.
Meu coração foi parar na garganta.
- Tá me seguindo? - indaguei com a sobrancelha erguida.
- De forma alguma. - respondeu ele - Estava indo para casa quando a vi entrar na lanchonete, então decidi esperar você sair e te oferecer uma carona.
- Achei que iria para festa. Comemorar a vitória do time.
- Estou feliz pela vitória. Mas... Lá não há nada que me interesse. A única pessoa com quem quero estar está bem que aqui em minha frente.
- Diego...
- Fiz escolhas erradas, Kate. Amizades erradas. Mas você conseguiu me mudar, conseguiu me fazer enxergar coisas que jamais dei importância, me fez amadurecer. E sei que não quer me ouvir falar, mas está sendo insuportável ficar longe de você, e dói tanto...
- Diego, também sinto sua falta. Sinto falta de sua companhia, de seus abraços... De sentir seu cheiro, dos beijos, das conversas... - ele se aproximou ficando apenas a três passos de mim - E é extremamente difícil me manter firme em ficar longe de você...
Ele segurou meu rosto com suas mãos e disse:
- Então não fique.
- Diego, eu já te expliquei. Preciso voltar a confiar inteiramente em você.
- Eu entendo. - disse ele de forma compreensiva, me deu um beijo na testa e prosseguiu: - Então, por ora, ao menos aceite minha carona ou ficarei aqui até que pegue o ônibus.
- Por ora, eu aceito a carona.
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Uma Chance para Recomeçar
RomanceA felicidade nunca caminhou lado a lado com Katherina Thomson, ela podia dizer que sua infelicidade começou quando foi abandonada pela mãe. A sorte também não parecia simpatizar muito com ela, era criada pelo pai e uma madrasta que a odiava. O mundo...