Capítulo XIV

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  - Estou tão feliz de está aqui, Caíque! - falei depois que descemos da roda gigante.
  - Eu também estou muito feliz. - respondeu Caíque passando o braço pelo meu ombro.
  Caíque tinha me levado para o parque de diversões que ficava mais para o sul da cidade, perto de uma praia bem movimentada. Caminhávamos em meio as barracas de jogos e de comidas, compramos cachorros-quente, Caíque devorou o dele em instantes. Nos sentamos em um banquinho de frente a montanha-russa. Tínhamos dado três voltas nela.
  - Lembra quando o papai nos levou a primeira vez em um parque de diversões? - perguntei e depois dei uma mordida em meu cachorro-quente.
  Ele riu ao se recordar.
  - Claro que lembro, Também lembro de como seus olhos brilharam ao ver todas aquelas luzes, e os brinquedos...
  Eu ri.
  - Seus olhos brilhavam igualmente! - rebati.
  - Sabe do que também me lembro? Da cara do papai quando perguntou em que brinquedo você queria ir primeiro, e você apontou para a montanha-russa. Kate, você era uma garota, de seis anos, magrela que deveria só ter olhos para o carrosel - disse ele rindo.
  - Nunca fui uma criança normal. - falei rindo também - Eu nunca teria sugerido isso se soubesse que o papai morre de medo altura.
  - E ainda assim ele foi com nós dois. 
  - Ainda assim ele foi...- comecei a rir de novo e então falei - O mais engraçado foi ele tentando parecer indiferente, quando na verdade estava nauseado ao descermos.
  - Aquele dia foi um dos melhores.
  - Com certeza foi.
  Normalmente em minhas melhores lembranças minha madrasta não se encontrava conosco, nem infelizmente minha irmã. Sempre que saíamos eu, Caíque e nosso pai apenas, o dia era maravilhoso, eu até esquecia que não éramos uma família feliz, que eu não pertencia aquela família - apesar da insistência do Sebatian de me dizer que faço parte.
  Joguei o saquinho do cachorro-quente na lata de lixo ao lado, pus minhas pernas para cima do banquinho e as cruzei.
  Ficamos alguns minutos apenas observando o subir, descer e girar da montanha-russa e rimos da cara das pessoas saindo. Peguei na mão do meu irmão e apertei um pouco para que ele olhasse para mim.
  - Caíque...Você está feliz? - perguntei. Precisava ouví-lo dizer.
  - Com você?
  - Não, me refiro a sua vida, você está no ápice de seu momento do ensino médio, está feliz?
  - Kate, eu estou feliz, muito feliz. Só não estou completamente feliz porquê ainda temos que esconder o que somos um do outro. Odeio fingir que não a conheço.
  - Também não me agrada, mas era a única forma de você ter uma vida social. E Camille também - suspirei - , sabe, eu tinha esperança que quando eu dissesse sobre o plano de vocês fingirem nem me conhecer eu ganharia alguns pontinhos com ela.
  - Camille é envenenada por minha mãe, ela não percebe. Mas espero que ela amadureça logo e que perceba o quanto foi cruel e injusta com você.
  Eu estava a ponto de agradecer ao meu irmão e continuar a conversa, mas qualquer frase que eu tinha a intenção de falar se evaporou da minha mente ao ver Diego a poucos metros de nós. Ele estava de costas, provavelmente rindo, estava com mais algumas pessoas. Meu coração disparou no mesmo instante. Caíque seguiu meu olhar, parecia tão surpreso quanto eu. E então, como se sentisse nossos olhares em suas costas ele virou-se. Lembrei-me tarde demais que estava de mãos dadas com Caíque. Meu irmão pareceu lembrar-se no mesmo momento porquê soltamos nossas mãos como se tivéssemos levado choque. Esperava que Diego não tivesse prestado atenção nesse pequeno detalhe.
  Diego nos olhou primeiro surpresos, depois com curiosidade. Ele falou algo com o seu grupo e começou a vim até nós.
  - E agora? - sussurrei em pergunta ao meu irmão.
  - Vamos improvisar. Deixa que eu começo. - retrucou ele já se levantando para cumprimentar seu amigo, daquela forma que só os meninos se cumprimentam.
  Ajeitei meu óculos, mesmo sabendo que estava no lugar. Estava nervosa, nervosa pelo fato de Diego ter me pego com Caíque, e poder começar a criar teorias, nervosa pelo fato de Diego poder soltar algo e Caíque começar a criar teorias, nervosa com o fato de Diego me deixar totalmente descomposta.
  - Achei que hoje ficaria em casa. - foi o que Diego falava quando comecei a prestar atenção na conversa dos dois - Nem quis ir a festa do Maicon.
  - Eu ia ficar em casa, mas fui tomado por um tédio tão grande que decidi sair...E acabei aqui. E você porquê não foi para festa?
  - Porque descobri uma festa melhor que será hoje a noite na casa da Bianca, você não vai? Tati não te falou nada? E cadê a Tati? Ela tá aqui, não é?
  - Quantas perguntas! Ela deve ter falado, mas eu esqueci o celular em casa. E eu vim sozinho, queria um tempo comigo mesmo.
  - Ahh. - Diego disse apenas, e então voltou sua atenção para mim.
  É claro que ele iria querer saber o que Caíque e eu fazíamos no fim de uma tarde de um domingo, sentados bem juntinhos em um banquinho de um parque de diversões.
  Caíque notou o olhar interrogativo de Diego para mim.
  - Acabei encontrando Katherina. - disse Caíque explicando.
  Entrando em cena, acenei para ele.
  - Olá Katherina, não sabia que gostava de lugares assim. - disse Diego com um sorrisinho.
  Caíque me lançou um olhar curioso e depois voltou a olhar para o amigo.
  - Não sabia que eram próximos. - comentou Caíque com a expressão se tornando um pouco mais séria.
  - Não somos. - respondi rapidamente no momento que Diego disse "um pouco".
  Naquele momento eu tive a sensação que Diego poderia falar sobre os beijos e senti o estômago se embrulhar.
  Queria chutar a canela dele.
  Caíque me olhou de novo. Não parecia nenhum pouco humorado. Meu irmão queria uma explicação.
  Fuzilei Diego com os olhos e falei para meu irmão:
  - O que Diego quis dizer é que eu dou monitoria a ele algumas tardes. - estava bastante irritada com Diego por estar estragando meu passeio com meu irmão - Isso não nos torna próximos - deixei claro.
  - Não? - indagou Diego, e eu sabia que ele se referia aos beijos, a nossas conversas, a cada risada que já demos juntos, por mais que eu estivesse negando, estávamos nos tornando próximos, e isso não era nada bom. Haveria corações partidos, ou melhor, haveria meu coração partido.
  E afinal, porquê ele estava falando sobre isso e insistindo que somos um pouco próximos? Não era ele mesmo que queria que fosse tudo em segredo? Não era ele que tinha vergonha de mim?
  - Nunca os vi juntos na escola. - falou Caíque, parecendo agora super interessado nesse assunto.
  - Ela me dá aulas em minha casa. - disse Diego.
  Tinha sido impressão minha ou Diego tinha dado ênfase em "minha casa"?
  - Em sua casa? Nossa, que interessante, fico me perguntando porquê só soube disso agora - aquilo era uma indireta para mim - Se soubesse que dava monitorias, Katherina, teria pedido sua ajuda. Estou com dificuldades em alguns assuntos.
  Diego iria me ouvir por me colocar nessa situação.
  - Quer roubar minha professora de mim? - perguntou Diego com um sorriso, mas tinha algo nos olhos dele que me fez perceber que ele não estava falando totalmente brincando.
  - Jamais! Seriam apenas algumas aulas, até parece com ciúmes da Katherina.
  Eu engasguei. Os dois me olharam. Com vergonha, me recompus e falei:
  - Sinto muito, Caíque, - queria acabar logo com aquela conversa e com o rumo que ela estava tomando - não poderei lhe monitorar, o professor Renato, me pediu para monitorar Dylan. Vou ficar meio sem tempo, mas posso tirar algumas dúvidas suas.
  Me arrependi imediatamente de ter comentado sobre Dylan. Esse assunto eu tinha programado para falar com Caíque mais tarde, sabia que ele não ia gostar. Dylan era o maior canalha da escola, uma pessoa difícil e horrível. Mas o professor insistiu tanto que não tive como recusar.
  Os dois me encararam.
  Diego que tinha mantido um sorriso desde que tinha começado aquela conversa, ficou sério, seu corpo ficou tenso.
  - Não quero você perto dele. - disse firmemente Caíque. Diego o encarou - Nenhuma garota deve ficar perto dele, Dylan é um verme traiçoeiro.
  - Caíque tem razão, fique longe dele. - disse Diego. Agora Caíque que encarava Diego.
  Esses dois me enlouqueceriam.
  - Já dei minha palavra ao professor, e eu sei me cuidar, ele não me fará nada. E minhas, sem ofensa, decisões não importam a vocês.
  Levantei pondo um ponto final naquela conversa.
  - Agora - eu disse - acho que vocês vão ficar melhores sem minha presença, vou até uma daquelas barracas, tentar a sorte e ganhar o urso panda de pelúcia que vi lá mais cedo.
  - Acho melhor - começou Diego - nós dois irmos com você, como cavalheiros, podemos tentar a sorte também e lhe dar o urso caso não consiga. O que acha, Caíque?
  - Acho uma ótima ideia.
  Eu sabia que os dois voltariam a falar sobre o assunto Dylan, mas eu só podia conversar com cada um separado, não com essa pressão.
  - Então vamos.
 
 
 

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