Capítulo XXIX

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  - Tem certeza que seu marido não vai se incomodar por você me trazer? - perguntei me sentindo um pouco deslocada ao Daphine parar o carro em frente a sua casa.
  - Confie em mim. - disse ela - Ele não vai se incomodar.
  - Se você diz...
  Ela estacionou o carro na garagem e depois entramos por uma porta lá que dava para cozinha.
  - Quer alguma coisa? - perguntou minha mãe abrindo a geladeira - Um sanduíche? Um chocolate quente?
  - Eu realmente não quero... - comecei.
  - Incomodar. - completou ela - Não parou de repetir essa palavra por todo o caminho e não, não vai me incomodar em nada preparar algo para você comer, e eu também estou com fome. Você pode me ajudar.
  Para trair minhas próximas palavras que seriam "não tô com fome, obrigada." minha barriga roncou, parecia que barras de chocolate como refeição não estava agradando meu estômago.
  Daphine ergueu uma sobrancelha esperando minha resposta.
  - Tudo bem. - respondi e sorri.
  Daphine separou os ingredientes do sanduíche e colocou na bancada. Sentei em um dos banquinhos da bancada e preparei os sanduíches enquanto Daphine esquentava o leite e preparava duas xícaras para o chocolate quente. Com tudo pronto, ela sentou ao meu lado e pegou seu sanduíche.
  - Katherina, você me contou as atrocidades que sua madrasta e sua meia-irmã fizeram com você. E o que Camille aprontou por último. A aposta.
  Só de ouvir essa palavra sentia um latejar no coração.
  - É, a aposta. Me desculpe ter jogado tudo em cima de você é que...
  - Você precisava desabafar. E de hoje em diante espero ser sua melhor ouvinte. Então por favor não se desculpe. - eu assenti - E como ouvinte eu tenho que ser uma boa conselheira. Foi horrível o que sua meia-irmã fez com você, não quero aliviar a barra do rapaz... do Diego, mas você me disse que ele te procurou e insistiu em dizer que te ama. Não acredita que ele te ame de verdade?
  - Eu não confio mais nele, e mesmo que ele esteja falando a verdade... - algo que eu me recusava a acreditar - Ele mentiu para mim, eu contei tanta coisa para ele, e ele não disse. Somos diferentes demais, eu devia ter previsto desde o início que isso não daria certo, na verdade acho que eu sempre soube só me deixei levar pela paixão, a felicidade...
  Eu suspirei.
  - O que você pretende fazer com sua vida? Nem terminou o ensino médio.
  - Não era minha intenção fugir agora, era algo para daqui a um ano. Mas tudo fugiu do controle, eu não suportei tanta dor... Confesso que não pensei muito nesse assunto, mas eu vou ficar bem, me considero uma sobrevivente, vivo levando rasteiras e surras da vida, mas continuo me levantando e seguindo em frente. Vai ser assim. Eu vou me virar. Não se preocupe.
  - E seu pai, seu irmão que tanto gosta?
  - Eu estou morrendo de saudades deles. Mas ficar longe é melhor para todos nós. E eu preciso te pedir uma coisa, queria que me prometesse que não vai tentar falar com Sebastian, não agora. Quando eu partir amanhã, após cinco horas da minha partida, você liga para ele e diz que eu estava bem, que vou continuar bem e que sempre vou dar um jeito de mandar algum recado para provar que tá tudo certo. Você promete?
  - Eu prometo.
  - Obrigada. De verdade.
  - Você é uma garota muito especial, Kate. Posso chamá-la assim?
  - Pode.
  - Deveria ter tido uma vida feliz. Mas saiba que eu vou acertar minhas contas com a tal da Liz.
  - Não se incomode com isso, existe a lei do retorno, toda ação tem sua reação, a vida vai tratar de retribuir a ela tudo de ruim que ela já fez comigo.
  - Ainda assim, eu quero olhar na cara daquela megera e perguntar como ela teve coragem de te tratar como te tratou desde que você era apenas uma criança. - eu olhei para ela e sorrir em agradecimento - Você quer descansar? Já está tarde e parece cansada.
  E eu estava.
  - Esses dias foram bem puxados. - confessei.
  - Então você vai descansar e amanhã a gente continua a conversar. Vou te levar para o quarto de hóspedes.
  - Ah não, eu durmo no sofá... - comecei a protestar, mas ela levantou a mão me interrompendo.
  - Não mesmo! No quarto de hóspedes. - disse ela firmemente.
  - Eu...Não sei como te agradecer por tudo que tá fazendo por mim. - falei.
  - Que tal com um abraço. - sugeriu ela.
  Eu a abracei. Da mesma forma que o abraço do meu pai, o abraço dela era acolhedor, me trouxe uma paz.
  Eu a segui até o quarto de hóspedes. Ela foi até o quarto dela e voltou com um lençol e uma toalha.
  - Se precisar de qualquer coisa pode falar. - disse ela.
  - Não, tá tudo ótimo. Mais que ótimo. - falei.
  Ela colocou o lençol e a toalha em cima da cama e me deu um beijo na testa.
  - Durma bem, querida.
  - Boa noite.
  Tomei banho e depois me joguei na cama. Demorei a pegar no sono, um turbilhão de pensamentos passavam em minha cabeça, emoções variadas vinham e iam em meu coração. Eu tinha conhecido a minha mãe, e saber o que nos separou foi essencial para me fortalecer, queria ser tão forte quanto ela para superar qualquer coisa. E eu seria.

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