CAPÍTULO 14

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 Hoje é o aniversário do Fernando, e esta será minha terceira encomenda do buffet que iniciei há pouco mais de um mês.

Nem consigo acreditar que o que antes parecia um delírio, está, pouco a pouco se tornando real.

Tudo foi tão rápido. No começo, rejeitei a ideia de cozinhar para estranhos. Mas então o chef Rodolfo me convenceu a testar.

No meu primeiro jantar para o aniversário de uma senhora simpática de oitenta anos, fiz pratos salgados, e uma sobremesa que aprendi com minha avó. O jantar foi um tremendo sucesso, e no dia seguinte, recebi um telefonema para outra encomenda.

O segundo cliente, foi uma das filhas da aniversariante. Ela quis fazer um jantar romântico para o marido, e me ligou para encomendar uma comida especial. Conversamos muito durante alguns dias sobre o cardápio, e quando o jantar aconteceu há pouco mais de quinze dias, ela veio até a minha casa me agradecer e acho que ganhei uma amiga. A Ana é uma mulher fantástica. Está no seu segundo casamento e completamente apaixonada. Ela é divertida e muito extrovertida. Me contou coisas sobre seu marido que me fizeram enrubescer e dar boas gargalhadas. Então, de lá para cá, nós temos nos falado bastante.

Ontem recebi a encomenda para um jantar de porte maior — uma amiga do marido da Ana — me ligou dizendo que foi muito bem recomendada pelo casal e estou nervosa para este que será, dentro de pouco mais de um mês, meu maior desafio. A Ana se prontificou em me ajudar, e a Bruna também.

Tento desfazer o sorriso bobo no rosto, mas está difícil. E apesar das mãos estarem tremulas de nervoso, meu coração bate acelerado com a expectativa.

Hoje então, será minha terceira encomenda oficial a ser executada. Bruna não deixou que eu fizesse as coisas gratuitamente e fez questão de encomendar alguns pratos para o almoço de aniversário do Fernando. Quando tentei recusar a aceitar o pagamento, ela ameaçou cancelar o pedido e fazer com outra pessoa. Cedi, porque de forma alguma, deixaria de fazer a torta que o Fernando tanto ama.

— Vamos crianças, estamos atrasados! — chamo da cozinha depois de empilhar as caixas com os pratos que preparei com tanto amor e carinho.

Será apenas um almoço para alguns amigos mais próximo e os familiares.

Fiz além da torta de camarão — meu carro chefe agora — um salpicão e um arroz à grega que faz muito sucesso.

Eles farão um churrasco para complementar.

O Júnior entra na cozinha radiante quando me olha de cima à baixo:

— O que foi? — indago confusa com o enorme sorriso estampado no rosto dele.

— Nada mãezinha — ele diz se aproximando — é que estou tão feliz por você!

— Ain, meu filho — digo emocionada, abraçando-o — obrigada pela ajuda. Não conseguiria sem você.

— Você nem parece a mesma pessoa mãe. Tudo mudou. É maravilhoso vê-la feliz. Acho que nunca a vi assim!

Sinto uma emoção contraditória travar minha garganta. Porque concordar com ele é admitir que não sou feliz, e não é bem assim. Nos últimos anos, minha vida não tem sido completamente infeliz, apenas tem oscilado muito. Como em uma gigantesca montanha russa. Meu casamento é algo inconstante e isso se reflete na personalidade do Pedro. O humor dele varia de acordo com o momento e consequentemente o meu também, e isso sem sombra de dúvida afeta as crianças e a percepção que eles têm da vida que levamos.

No entanto, resolvo sair pela tangente e encarando-o falo:

— Eu sou feliz filho... Só que a felicidade não é algo concreto nem constante. A felicidade é feita de fragmentos de momentos inesquecíveis e especiais que acumulamos ao longo da vida. Sei que você acha que seu pai me faz infeliz, mas não é verdade. Eu o amo muito.

O Silêncio da AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora