Termino de colocar a mesa do café. Vou até o pé da escada e chamo os meninos que já estão atrasados mais uma vez.
— Helena e Júnior se apressem!
Volto para a cozinha e encho minha xícara de café pela segunda vez no dia. Sei que estou com olheiras e que o aspecto cansado e cada linha de expressão do meu rosto denuncia a noite terrível que passei.
Os pesadelos me fizeram encharcar o lençol da cama de suor e lágrimas, e sei que cheguei a gritar algumas vezes. Sorte que os meninos dormem feito uma pedra, e não me ouviram.
Júnior entra na cozinha, com a mochila pendendo no ombro e se aproxima, beijando o topo da minha cabeça.
— Bom dia, mãe.
— Bom dia querido — respondo, evitando olhar diretamente para ele — Quer que te faça algo mais?
Ele ergue a sobrancelha grossa e diz apontando para a mesa que está com comida posta para no mínimo cinco pessoas:
— Algo mais?
Dou de ombros e dou outro gole no café fumegante.
Ele deixa a mochila escorregar para o chão, e se senta. Pega a jarra de suco de laranja e enche seu copo. Então, como se estivesse comentando sobre o tempo, ele segura uma torrada e enquanto passa geleia de morango, a sua preferida, diz sem me olhar nos olhos:
— Vai me contar o que houve?
Dou outro gole e seguro mais firmemente a xícara com as duas mãos.
— Não houve nada. Do que você está falando?
Ele me olha atentamente. E não pela primeira vez, me surpreendo com a maturidade que vejo no seu olhar. Quando foi que meu menino tornou-se um homem? Indago mentalmente.
— Tive pesadelos — conto — e perdi o sono. — completo.
Ele morde a torrada, toma um gole do suco, e só então me olha.
— Ouvi seus gritos, mãezinha.
— Foram pesadelos. Apenas isso. — retruco.
Ele assente e continua comendo em silêncio. Helena entra na cozinha, e vem em minha direção e me beija no rosto desejando um bom dia. Vai até o sofá da sala, e deixa lá sua mochila, mas traz o celular consigo para a mesa.
— Nem pensar mocinha. Nada de usar o celular na mesa.
Ela revira os olhos e volta para guardar o aparelho. Então, senta-se e olha para a mesa, mas ao contrário do Júnior, indaga me olhando:
— O que foi mãe?
— O que foi o quê?
Outra revirada nos olhos, e enquanto enche o copo de suco, ela diz:
— Você só cozinha feito uma louca quando algo a perturba. O que foi? — repete a pergunta.
— Não é da sua conta sua pirralha — responde o Júnior.
Ela nem mesmo pisca. Ignorando-o totalmente, diz:
— Ficou triste porque convidei a vovó Dália para a inauguração?
— Logo vi que tinha um dedo seu nisso. — diz o Júnior com raiva — Porra Helena, você é idiota ou o quê?
Quando ela vai abrir a boca para refutar, eu me intrometo. Já os conheço bem o suficiente que vão discutir por muito tempo se deixar essa conversa se prolongar.
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O Silêncio da Alma
RomanceAtenção, este livro está disponível em e-book pela Amazon e em formato físico, no site da autora. O livro será postado aqui até a sua conclusão, e após a postagem do último capítulo, ficará disponível por 3 dias. completo, e após só para degust...