Abro os olhos e tento me acostumar com a fraca luminosidade.
Um quarto que não é o meu. Fecho os olhos novamente, e tento acalmar minha respiração quando tudo volta à tona. O Pedro, sua mão apertando furiosamente meu pescoço. O ar se esvaindo dos meus pulmões, e então a dor. Dor e mais dor em cada soco e puxão de cabelo. Minha cabeça dói, e é como se o meu couro cabeludo tivesse sito arrancado da minha cabeça. Ainda de olhos fechado, tento lembrar do que aconteceu. A Bruna e o Fernando. Eu pedi socorro, e eles vieram.
Uma lágrima silenciosa escorre quando o entendimento que não poderei voltar para casa me assola. Preciso falar com as crianças. Imediatamente.
— Calma, Nina ... — diz Bruna ao lado da cama onde estou deitada — Fica calma... está tudo sob controle.
Então abro os olhos e vejo estampado nas feições da minha irmã, todo o horror que passei. Há tanta tristeza e desilusão no seu semblante que imediatamente me arrependo de tê-la chamado. Ela já tem suas batalhas, não precisa lutar as minhas. Sinto vergonha mais uma vez, por ser tão frágil e desprotegida.
Ela senta ao meu lado, e uma lágrima escorre lentamente pelo seu rosto bonito.
— Não chora, Bruna — tento consolá-la — Me desculpa — peço sem nem ao menos saber o porquê.
Ela ergue o rosto rapidamente e seus olhos tristes encontram os meus.
— Não seja idiota, Nina. Se alguém aqui precisa te pedir perdão, esse alguém sou eu. — ela baixa a cabeça e continua — Eu não deveria ter deixado você casar com ele... eu deveria ter tentado impedir... deveria ter contado tudo que sabia...
Sento na cama e seguro as mãos dela entre as minhas.
— Você sabe que eu não acreditaria. Sabe que eu estava apaixonada demais para dar ouvidos a qualquer pessoa.
— Mas eu deveria ter tentado, Nina. Deveria...
Me aproximo dela e a braço apertado.
— Eu não acreditaria — repito e confesso — Eu achava que você era apaixonada por ele. Nada do que dissesse teria me impedido de casar. E você tentou. Tentou muito me alertar.
Então choramos uma nos braços da outra por longos minutos. E quando nos acalmamos, ela se afasta um pouco e me olha nos olhos.
— Você precisa denunciá-lo, Nina.
Sinto medo e vergonha. Baixo os olhos e murmuro baixinho.
— Não, não posso.
— Pode — ela diz e emenda — Deve.
Tento ficar de pé. Meu corpo está totalmente machucado. E tudo dói terrivelmente.
— Preciso falar com as crianças. Devem estar desesperadas.
— Eu já falei com elas. A Helena dormiu na casa da amiga. Ela estava lá fazendo um trabalho da escola, e o Júnior pediu a mãe da garota para deixa-la dormir por lá.
— Graças a Deus — murmuro.
— E o Júnior está lá em baixo. Ele dormiu aqui. O Nando o trouxe.
— Ele me viu? — pergunto assombrada.
Ela assente tristemente e diz:
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Silêncio da Alma
RomanceAtenção, este livro está disponível em e-book pela Amazon e em formato físico, no site da autora. O livro será postado aqui até a sua conclusão, e após a postagem do último capítulo, ficará disponível por 3 dias. completo, e após só para degust...