CAPÍTULO VINTE E UM

120 7 6
                                    


Abro os olhos e tento me acostumar com a fraca luminosidade.

Um quarto que não é o meu. Fecho os olhos novamente, e tento acalmar minha respiração quando tudo volta à tona. O Pedro, sua mão apertando furiosamente meu pescoço. O ar se esvaindo dos meus pulmões, e então a dor. Dor e mais dor em cada soco e puxão de cabelo. Minha cabeça dói, e é como se o meu couro cabeludo tivesse sito arrancado da minha cabeça. Ainda de olhos fechado, tento lembrar do que aconteceu. A Bruna e o Fernando. Eu pedi socorro, e eles vieram.

Uma lágrima silenciosa escorre quando o entendimento que não poderei voltar para casa me assola. Preciso falar com as crianças. Imediatamente.

— Calma, Nina ... — diz Bruna ao lado da cama onde estou deitada — Fica calma... está tudo sob controle.

Então abro os olhos e vejo estampado nas feições da minha irmã, todo o horror que passei. Há tanta tristeza e desilusão no seu semblante que imediatamente me arrependo de tê-la chamado. Ela já tem suas batalhas, não precisa lutar as minhas. Sinto vergonha mais uma vez, por ser tão frágil e desprotegida.

Ela senta ao meu lado, e uma lágrima escorre lentamente pelo seu rosto bonito.

— Não chora, Bruna — tento consolá-la — Me desculpa — peço sem nem ao menos saber o porquê.

Ela ergue o rosto rapidamente e seus olhos tristes encontram os meus.

— Não seja idiota, Nina. Se alguém aqui precisa te pedir perdão, esse alguém sou eu. — ela baixa a cabeça e continua — Eu não deveria ter deixado você casar com ele... eu deveria ter tentado impedir... deveria ter contado tudo que sabia...

Sento na cama e seguro as mãos dela entre as minhas.

— Você sabe que eu não acreditaria. Sabe que eu estava apaixonada demais para dar ouvidos a qualquer pessoa.

— Mas eu deveria ter tentado, Nina. Deveria...

Me aproximo dela e a braço apertado.

— Eu não acreditaria — repito e confesso — Eu achava que você era apaixonada por ele. Nada do que dissesse teria me impedido de casar. E você tentou. Tentou muito me alertar.

Então choramos uma nos braços da outra por longos minutos. E quando nos acalmamos, ela se afasta um pouco e me olha nos olhos.

— Você precisa denunciá-lo, Nina.

Sinto medo e vergonha. Baixo os olhos e murmuro baixinho.

— Não, não posso.

— Pode — ela diz e emenda — Deve.

Tento ficar de pé. Meu corpo está totalmente machucado. E tudo dói terrivelmente.

— Preciso falar com as crianças. Devem estar desesperadas.

— Eu já falei com elas. A Helena dormiu na casa da amiga. Ela estava lá fazendo um trabalho da escola, e o Júnior pediu a mãe da garota para deixa-la dormir por lá.

— Graças a Deus — murmuro.

— E o Júnior está lá em baixo. Ele dormiu aqui. O Nando o trouxe.

— Ele me viu? — pergunto assombrada.

Ela assente tristemente e diz:

O Silêncio da AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora