CAPÍTULO TREZE

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            Hoje será o meu primeiro compromisso de trabalho. É quase inacreditável que aos trinta e seis anos, finalmente eu esteja realmente começando algo meu.

Me olho pela milésima vez no espelho do meu quarto. Uma batida suave na porta e meus filhos entram.

Seus olhos brilham felizes e orgulhosos e um nó trava a minha garganta.

— Vocês acham que estou vestida adequadamente? — indago insegura.

Ambos me olham com um amor tão grande brilhando nos olhos, que faço uma força tremenda para não chorar.

— Você está linda mãe. — diz Helena me olhando através do espelho do quarto.

O Júnior, que me olha em silencio desde que entrou no quarto, se aproxima um pouco mais e diz com a voz embargada:

— Você é sem sombra de dúvida, a mulher mais linda que conheço.

— Ah meu filho, muito obrigada....

— Não mãe, é sério — diz me encarando — Você hoje está lindíssima. Este vestido é perfeito. Mas, muito mais do que a roupa que você está usando mãezinha, é a alegria interior que está estampada no seu rosto. Nunca pensei que te veria um dia assim....radiante.

— Estou nervosa — confesso para os dois que seguram firmemente minhas mãos.

— Nós sabemos — diz o Júnior — Mas nós sabemos também que você vai arrebentar.

— Sim, e este vestido que a Tia Bruna te emprestou...Uau mãe! Você está uma gata mesmo! Papai piraria! — comenta a Helena com toda a inocência.

Imediatamente sinto meu corpo ficar tenso, e uma lembrança antiga me assola.

Era nosso aniversário de casamento.

Me olho no espelho atentamente. Estou nervosa, e isso é meio ridículo considerando que será apenas um jantar em família. Mas é a família do Pedro que me deixa assim, tensa.

Hoje estamos comemorando nosso primeiro aniversário de casamento, e combinamos de sair para jantar. Eu estava radiante, até que os pais do Pedro ligaram nos convidando. Então, ele mudou de ideia. Confesso que estou um pouco chateada por ele não ter me consultado à respeito, afinal é nosso aniversário de casamento e acho tão inadequado passar esta data tão especial com outras pessoas... mesmo que estas pessoas sejam os pais dele.

Mas, para não chateá-lo optei por não dizer nada.

Me olho mais uma vez no espelho do nosso quarto e vejo na imagem refletida uma pessoa completamente apaixonada. Muitos acham que o que fizemos foi uma loucura. Minha família — principalmente minha irmã — acha que enlouqueci de vez, mas se você está apaixonada não existe motivo para adiar o que fatalmente aconteceria. Então, estou aos dezenove anos de idade, comemorando meu primeiro ano de casada. E quer saber? Não me arrependo nem um pouco por minha decisão.

O Pedro é muito carinhoso e protetor. Não é o cara romântico que eu sempre desejei, mas também não é ninguém insensível. Inclusive vive tendo rompantes de ciúmes que eu adoro presenciar. Afinal, ver um homem intenso como ele, chateado porque alguém me olhou com admiração é algo no mínimo fofo.

Como se lesse meus pensamentos, ele entra em nosso quarto vestindo apenas a calça jeans que aliás, lhe cai muito, muito bem. Ele é tão absurdamente lindo, que muitas e muitas vezes me pergunto o que ele viu em mim. Sou uma pessoa tão comum.

O Silêncio da AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora