capítulo 15

68 8 1
                                    


O som insistente do telefone me acorda. Olho para a cabeceira da cama e vejo ainda com os olhos turvos de sono, a hora. Sete e quinze. Muito cedo para alguém estar me ligando.

Saio da cama e ainda muito sonolenta dirijo-me à sala. O telefone continua a tocar insistentemente. Atendo.

— Alô?

— Marina? Onde você estava? — a voz do Pedro do outro lado da linha, espanta completamente o sono.

— Dormindo. Pedro? O que houve?

— Quero saber onde você estava ontem! Te liguei um milhão de vezes e não consegui falar com você! O que está acontecendo?

Fecho os olhos com força. Inspiro fundo e então, tomo uma decisão:

— Estava no aniversário do Fernando.

Silêncio.

— Pedro?

— Que Fernando?

Ele sabe muito bem quem é o Fernando, mas resolvo ser o mais direta possível.

— O marido da Bruna, Pedro. Foi o aniversário dele ontem, e eu e as crianças fomos.

Ouço o baque forte, como se ele tivesse socado alguma coisa e então ouço sua voz naquele tom que conheço muito bem e que faz todos os pelos do meu corpo eriçarem.

— O que está acontecendo Marina? Desde quando você e as crianças frequentam a casa da vadia da sua irmã.

Fecho os olhos com força. Uma raiva irracional sobe quando ouço ele falar da Bruna de forma tão desrespeitosa. Então, sem titubear, desligo o telefone na cara dele.

Todos os meus músculos tremem, e por um segundo chego a imaginar o que ele faria se estivesse perto.

O toque do telefone me causa um sobressalto.

Me afasto do aparelho e sento-me no sofá. Uma vez, duas, três... o telefone toca até parar por três vezes, mas não atendo.

Quando ele aparentemente desiste de falar comigo, sinto a avalanche de lágrimas inundar meus olhos e transbordar.

Choro compulsivamente por longos minutos. Uma dor lancinante toma conta de todo meu ser, quando compreendo que ele não aceitará as mudanças que aconteceram nos meses em que esteve fora.

Não importa que eu tente convencê-lo. Ele simplesmente jamais aceitará que eu assuma o controle da minha vida. Só que agora, eu tenho que enfrentar um outro grande problema: como me convencer a deixar novamente o controle da minha vida nas mãos dele se minha alma depois de anos adormecida, finalmente despertou.

***

Depois de chorar por horas após a ligação do Pedro, decido dar um basta no meu sofrimento. Tenho muita coisa para fazer, e não ficarei sentada no sofá chorando por algo que nem sei se irá acontecer.

Amanhã será um dia muito importante para mim. É o maior jantar que já organizei até agora, e estou muito tensa para que tudo corra bem.

Subo as escadas e entro no banheiro do meu quarto. Tiro a camisola que uso para dormir e entro embaixo do chuveiro. A água fria quase me faz soltar um grito, mas é necessário para que eu espante todo o sentimento de culpa que está me inundando agora.

Nunca agi assim com o Pedro, ele tem toda razão de ficar irritado com o meu comportamento.

Esses sentimentos contraditórios duelam ferozmente dentro de mim. Sinto que preciso realmente me firmar. Não quero ter que abrir mão do meu trabalho e da minha liberdade, mas não sei como conseguirei conciliar isso com meu casamento.

Saio do chuveiro, e me encaro no enorme espelho do banheiro.

Só desta vez, deixarei esse problema de lado. Preciso realmente me desligar do Pedro ou não conseguirei dar conta de todo o trabalho que tenho pela frente. E, encarando o meu reflexo no espelho prometo que assim que passar este jantar, abrirei o jogo com ele.


O Silêncio da AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora