CAPÍTULO VINTE E QUATRO

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Olho através da pequena abertura de vidro, da porta vai e vem que separa a cozinha do salão. Hoje é oficialmente nossa inauguração, e apesar de saber que poucas pessoas comparecerão, já que abriremos apenas para alguns amigos e familiares mais próximos, não deixa de ser uma nova etapa na minha vida.

O nosso buffet, está dia a dia se solidificando no mercado. Praticamente todos os finais de semana, conseguimos um contrato de um jantar ou almoço para alguém que é indicado por um cliente. E assim, pouco à pouco, o Ninas'Buffet vai deixando de ser uma empresa familiar, para tornar-se algo mais profissional. Abrir o restaurante em sociedade com a Bruna, torna o nosso negócio mais sólido.

Contratamos quatro pessoas para nos ajudar e eu sinto que esta etapa da minha vida, será fundamental para as mudanças que desejo no meu futuro. Distraída com meus pensamento, não ouço o Júnior entrar pela porta de serviço.

— Está nervosa, mãe?

— Só um pouco — minto e ele me abraça por trás e encostando o queixo no topo da minha cabeça diz:

— Você nunca foi uma boa mentirosa, mãezinha.

Sorrio.

— A tia Bruna está radiante. Já chegaram o pessoal da banda, vovó e vovô — então ele fica em silêncio, e me inclino para olha-lo nos olhos.

— O que foi?

— A vó Dália está aqui também.

Muito surpresa, me desvencilho do seu abraço e o encaro.

— Sua vó Dália? Tem certeza, Júnior?

Ele assente nervoso.

— Tia Bruna pediu para que eu viesse te avisar. Para você se preparar.

— O que ela está fazendo aqui?

Ele dá de ombros e diz:

— Ela disse que veio te prestigiar.

Confusa vou até a janela de vidro e observo a senhora elegante sentada de forma ereta em uma das mesas, com a Helena sentada ao seu lado em uma conversa animada.

A mãe do Pedro e eu nunca tivemos problemas de convivência. Na verdade, durante os dezoito anos de casamento, foram poucas as oportunidades de ficarmos a sós por muito tempo. Ele é uma mulher extremamente reservada e séria, e nunca deixa transparecer o que sente. Seu semblante é sempre muito neutro, e até hoje, nunca descobri o que ela achou de toda a situação que envolveu meu divórcio com o seu filho. Sei que o Coronel, foi absolutamente contra e tentou mais de uma vez, me intimidar e me fazer voltar atrás, mas ela não. Ela nunca me procurou. E vê-la sentada em uma das mesas do meu restaurante, conversando relaxadamente com minha filha, é no mínimo algo inusitado.

— Será que ele vem? — indaga o Júnior, nitidamente nervoso.

— Seu pai?

Ele assente.

— Não, ele não vem. Ele sabe que não pode se aproximar.

Ele desvia os olhos dos meus, e com a cabeça, aponta para um enorme buquê de flores coloridas, que foi posta no balcão da cozinha.

— Ele mandou isso — diz o Júnior com uma ruga de preocupação entre os olhos.

Estupefata, encaro as flores.

— Foi a vovó que trouxe — conta — Ela pediu para te entregar, e disse que tem um cartão aí pra você, mas avisou que a gentileza não era dela, era dele.

O Silêncio da AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora