CAPÍTULO 26

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Um sorriso apaixonado está colado no meu rosto, e meu coração ainda bate acelerado lembrando dos momentos que passei nos braços do Ricardo.

Depois do nosso primeiro beijo, ele me puxou para o minúsculo sofá e me sentou no seu colo. Então, ele me devorou com beijos intensos. Meu corpo todo correspondeu a intensidade da nossa paixão. Passamos muito tempo, apenas nos beijando e nos acariciando. Não falamos muito, mas nossos corpos falaram uma linguagem mais antiga que tudo no mundo.

Apesar de ter dito sim, ele não foi mais além. Então, quando o Mauro bateu na porta, dei um pulo e sai do colo dele. Ele baixou a cabeça e sorriu enquanto eu voltei correndo para sentar atrás da mesa como uma adolescente pega no flagra pelos pais.

A porta se abriu, e um Mauro encabulado colocou a cabeça na fresta e avisou que já estavam saindo e que a cozinha já estava toda organizada.

Troquei algumas palavras com ele e após cumprimentar o Ricardo, ele se despediu e saiu fechando a porta as nossas costas.

Então, o Ricardo se ergueu e caminhou até a minha mesa, colocou as duas mãos sobre ela e inclinando-se disse:

— Quero namorar você, Marina...

Surpresa, o encarei.

— Eu sei que você não está pronta ainda para um relacionamento, mas me deixa namorar você...

— Ricardo... — tento responder, mas ele estende a mão e coloca na minha boca impedindo-me de continuar.

— Não, não precisa responder agora...não precisa nem mesmo responder se não quiser... eu só quero que você saiba o que eu sinto, o que eu desejo... e eu desejo namorar você...

Sorrio e baixo a cabeça.

Ele ergue a minha cabeça com a ponta dos dedos e diz suavemente:

— Se um dia sua resposta for sim, basta me procurar... estarei esperando...

Dizendo isso, ele se inclinou e beijou meus lábios suavemente. Então, ergueu um pouco a boca e beijou minha testa com um carinho infinito e quando se afastou, eu simplesmente desejei que ele não parasse nunca.

Mas ele parou.

Caminhou até a porta e antes de abri-la, me olhou e disse:

— Você é uma mulher fantástica.

E saiu sem me dar chance de responder. Não que eu tivesse resposta para algo assim, por que sinceramente não tinha.

Muito tempo depois da sua saída, fiquei contemplando a porta fechada e pela primeira vez, senti vontade de abri-la e seguir meu coração. Mas os anos de submissão, acabaram me impedindo de agir por impulso. Então, tentei voltar ao trabalho.

Volto ao presente e olho para o relógio de parede. Quase três horas da manhã. Levanto-me, desligo o computador onde digitei todo o menu do dia, e as compras que precisarei fazer. Pego minha bolsa, apago a luz e saio pela porta dos fundos para a noite escura.

Ando rapidamente para o carro estacionado no outro lado da rua. Aciono o alarme e coloco minha bolsa no banco da frente ao meu lado. Coloco a chave na ignição e antes de dar partida, algo chama minha atenção. Meu coração acelera, quando percebo na rua quase deserta um carro conhecido.

Ligo o carro e me atrapalho toda. Minhas mãos estão suadas e olho repetidamente pelo retrovisor. O carro continua totalmente escuro, mas sinto o olhar de alguém. Não, de alguém não. Sinto o olhar dele. Do Pedro. Ele está aqui, do lado de fora, me espreitando. Um arrepio de medo desce pela minha espinha, então eu finalmente consigo sair do estacionamento. Olho o tempo todo para o retrovisor, mas não o vejo. Ele não está me seguindo, o que já me causa um tremendo alivio.

Quando entro em casa, coloco todas as trancas de segurança que mandei instalar, e fico de pé na sala escura, espreitando pela janela. Porém nenhum sinal dele.

Aliviada, subo as escadas e antes de ir para meu quarto, vou até o quarto dos meninos que dormem tranquilamente. Provavelmente o meu pai os deixou em casa mais cedo.

Fecho as portas, e vou para meu quarto. Depois uma rápida chuveirada, coloco a camiseta que uso para dormir e me acomodo sob as cobertas. Está tudo silencioso, mas na minha cabeça, sentimentos duelam ferozmente. O desejo pelo Ricardo. A emoção pela sua confissão. O pedido inusitado que ele me fez. E o Pedro me espreitando do outro lado da rua.

Fecho os olhos com força e tento tirar todos os pensamentos da cabeça, e antes do sono finalmente me levar, é o medo do Pedro que assume o controle e pela primeira vez em muitos meses, tenho os terríveis pesadelos.

O Silêncio da AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora