Dias atuais:
Ouço o despertador do Júnior tocar e espero pacientemente. Nem sempre o som insistente do alarme do celular o arranca da cama.
Alguns minutos depois, ouço o barulho do chuveiro e sei que ele acordou.
Não dormi noite passada perdida nas lembranças que o Ricardo despertou dois dias atrás. A imagem dele se forma instantaneamente na minha cabeça. O constrangimento que senti por tudo que aconteceu, ficou evidente no meu comportamento quando entendi que ele testemunhou um dos ataques de fúria do Pedro. Ele parecia arrependido por ter trazido o assunto à tona, mas então ele olhou fixamente para minha mão e viu a minha aliança. Seu rosto mudou imediatamente. Uma sensação de piedade o inundou, e eu não sei porque mas isso me descontrolou e eu o expulsei.
Termino de preparar o café do Júnior . Olho ao redor e vejo o montão de comida que preparei. Preciso me controlar. Todas as vezes que estou estressada, começo a cozinhar como uma louca descontrolada.
Meu celular toca, me arrancando da melancolia que me inunda nesta manhã chuvosa.
Olho no visor e me surpreendo em ver o nome da Bru. Ela raramente me liga, e quando o faz, nossas conversas são estranhas e vazias. É como se houvesse uma barreira intransponível entre nós.
— Nina?
— Oi, Bru. Aconteceu alguma coisa.
Silêncio do outro lado da linha. Começo a achar que algo grave aconteceu quando ouço o suspiro dela.
— Ok, mereci isso — ela diz.
Confusa, indago.
— Mereceu o que?
— Você achar que estou te ligando porque algo aconteceu, e não simplesmente porque senti saudade.
É minha vez de fazer silêncio. É estranho termos essa conversa tão pessoal. Não somos exatamente amigas confidentes, então a atitude dela, me intriga.
— Nina, como cê tá?
Fecho os olhos por um segundo. Há anos ninguém me pergunta como estou. Porque com exceção dos meus filhos, todos acham que tenho a vida perfeita.
— Estou bem Bru...e você?
Ela fica em silêncio por alguns segundos e fala baixinho:
— Estou doente.
Meu coração começa a bater acelerado. Doente?
— Doente? O que você tem?
Outro silêncio prolongado.
— Bruna?
Um suspiro e então ela me tira o chão:
— Câncer na tireoide.
Fecho os olhos com força não querendo acreditar no que acabei de ouvir. Um nó gigantesco se forma em minha garganta. Meus olhos enchem-se de lágrima e eu faço uma força sobre-humana para me controlar. Não posso desmoronar agora. Simplesmente não posso. Então, tentando ao máximo não deixar transparecer o que estou sentindo, murmuro:
— Não é possível...
E como era previsto, ela tenta me acalmar. Sempre foi assim.
— Calma Nina. Estou bem. Só tenho uma batalha para travar, mas vencerei.
Minha irmã tão decidida e forte está com câncer. Debilmente retruco:
— Não é possível. Não pode ser.
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O Silêncio da Alma
RomanceAtenção, este livro está disponível em e-book pela Amazon e em formato físico, no site da autora. O livro será postado aqui até a sua conclusão, e após a postagem do último capítulo, ficará disponível por 3 dias. completo, e após só para degust...