CAPÍTULO OITO

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Dias atuais:

Ouço o despertador do Júnior tocar e espero pacientemente. Nem sempre o som insistente do alarme do celular o arranca da cama.

Alguns minutos depois, ouço o barulho do chuveiro e sei que ele acordou.

Não dormi noite passada perdida nas lembranças que o Ricardo despertou dois dias atrás. A imagem dele se forma instantaneamente na minha cabeça. O constrangimento que senti por tudo que aconteceu, ficou evidente no meu comportamento quando entendi que ele testemunhou um dos ataques de fúria do Pedro. Ele parecia arrependido por ter trazido o assunto à tona, mas então ele olhou fixamente para minha mão e viu a minha aliança. Seu rosto mudou imediatamente. Uma sensação de piedade o inundou, e eu não sei porque mas isso me descontrolou e eu o expulsei.

Termino de preparar o café do Júnior . Olho ao redor e vejo o montão de comida que preparei. Preciso me controlar. Todas as vezes que estou estressada, começo a cozinhar como uma louca descontrolada.

Meu celular toca, me arrancando da melancolia que me inunda nesta manhã chuvosa.

Olho no visor e me surpreendo em ver o nome da Bru. Ela raramente me liga, e quando o faz, nossas conversas são estranhas e vazias. É como se houvesse uma barreira intransponível entre nós.

— Nina?

— Oi, Bru. Aconteceu alguma coisa.

Silêncio do outro lado da linha. Começo a achar que algo grave aconteceu quando ouço o suspiro dela.

— Ok, mereci isso — ela diz.

Confusa, indago.

— Mereceu o que?

— Você achar que estou te ligando porque algo aconteceu, e não simplesmente porque senti saudade.

É minha vez de fazer silêncio. É estranho termos essa conversa tão pessoal. Não somos exatamente amigas confidentes, então a atitude dela, me intriga.

— Nina, como cê tá?

Fecho os olhos por um segundo. Há anos ninguém me pergunta como estou. Porque com exceção dos meus filhos, todos acham que tenho a vida perfeita.

— Estou bem Bru...e você?

Ela fica em silêncio por alguns segundos e fala baixinho:

— Estou doente.

Meu coração começa a bater acelerado. Doente?

— Doente? O que você tem?

Outro silêncio prolongado.

— Bruna?

Um suspiro e então ela me tira o chão:

— Câncer na tireoide.

Fecho os olhos com força não querendo acreditar no que acabei de ouvir. Um nó gigantesco se forma em minha garganta. Meus olhos enchem-se de lágrima e eu faço uma força sobre-humana para me controlar. Não posso desmoronar agora. Simplesmente não posso. Então, tentando ao máximo não deixar transparecer o que estou sentindo, murmuro:

— Não é possível...

E como era previsto, ela tenta me acalmar. Sempre foi assim.

— Calma Nina. Estou bem. Só tenho uma batalha para travar, mas vencerei.

Minha irmã tão decidida e forte está com câncer. Debilmente retruco:

— Não é possível. Não pode ser.

O Silêncio da AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora