Dias atuais:
Quase dois meses que o Pedro está fora. Nos falamos uma vez a cada quinze dias, em ligações rápidas e instáveis. Ele tenta me poupar, mas sei que o que está passando lá, o está afetando profundamente. O conheço bem demais para notar até as mudanças na sua nuance de voz.
Dois meses e tantas mudanças na minha vida. Estou bem mais independente, já que tive que tomar as rédeas da casa. Tarefas simples do dia a dia, como levar os filhos na escola, ou ir ao banco, que antes era feita quase sempre por ele, agora executo com facilidade e muita, muita satisfação.
Não tive coragem de contar ao Pedro, mas me inscrevi em um curso de culinária. As aulas acontecerão duas vezes por semana, e serão ministradas por uma famoso chef paulista. Estou muito ansiosa para o início do curso. A princípio rejeitei totalmente a ideia de voltar a estudar, mais o Júnior e a Bruna me incentivaram tanto, que acabei não resistindo.
Minha relação com minha irmã, não poderia estar melhor. Tem momentos que até esqueço que passamos anos sem ao menos nos encontrar. Agora, é como se ela quisesse recuperar o tempo perdido. Vive me convidando para absolutamente tudo. O Fernando até brincou outro dia que foi jogado para a reserva. Na ocasião, ela o beijou ardentemente e disse que o lugar dele ninguém ocuparia jamais.
Fomos juntas na mamãe contar sobre sua doença. Depois do choque inicial, ela e o papai até que ficaram tranquilos. Talvez porque o otimismo e a certeza da Bruna de que tudo sairá conforme o desejado, seja a razão para ninguém que conviva diretamente com ela, imaginar que algo ruim pode acontecer.
Ela é a pessoa mais otimista e forte que conheço. Nada parece abalar a sua confiança. E essa sua serenidade, apesar de tudo que está passando, nos tranquiliza.
Pego a chave do carro – que agora dirijo com segurança e prazer – e vou até o quarto da Helena avisá-la da minha saída. O Júnior hoje tem treino, e só chegará em casa mais tarde.
Hoje será a cirurgia da Bruna.
Provavelmente estou muito mais nervosa que ela, e precisarei de toda minha energia para que ela não perceba o quanto estou com medo.
— Helena, estou saindo. O almoço está no micro-ondas. — aviso da porta do seu quarto. Não abra a porta para ninguém. O Pedro não vai demorar.
Ela retira o fone de um dos ouvidos, e ergue os olhos do celular.
— Fala pra tia Bru, que vou mandar boas energias para que tudo corra bem.
Me emociono com as palavras da Helena. No último mês, a Bruna se aproximou dos meus filhos. Sem o Pedro por perto, ela finalmente pôde mimá-los como sempre desejou. Eles foram ao cinema, ao parque e saíram para almoçar alguma vezes. Ela evita vir aqui em casa, então geralmente nos encontramos na mamãe. Não sei como será quando o Pedro voltar de viagem. Ele não vai gostar nada nada desta aproximação, mas creio que a saudade que deva estar sentindo de todos nós, amenize seu rancor em relação a minha família.
Volto ao presente, e respondo:
— Pode deixar, filha... direi sim.
Ela assente e recoloca o fone no ouvido.
Fecho a casa e entro no carro. Antes de sair, mando uma mensagem para ela, avisando que estou à caminho.
Combinamos de nos encontrar no Hospital. Ela responde à mensagem dizendo que já está chegando. Pego a direção do Hospital e no caminho faço uma oração silenciosa à Deus para que tudo corra bem. Não posso nem mesmo cogitar a hipótese de algo ruim acontecer a ela. Nossa reaproximação fortaleceu os laços que sempre existiram entre nós, e agora, não posso nem mesmo pensar na possibilidade destes laços serem rompidos. Nem por mim, nem por ela, nem pelo Pedro e nem por ninguém mais a não ser Deus. Mas sei que Ele não fará tal coisa conosco.

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O Silêncio da Alma
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