CAPÍTULO SETE

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Fevereiro de 2005.

Termino de me vestir e me olho rapidamente no espelho. Estou bonita, mas não chamarei a atenção. Meu vestido verde musgo, com pequenas estampas pretas, desce até abaixo dos meus joelhos. Nada curto, ou apertado. Hoje não quero causar transtornos, afinal é o casamento da Bruna.

Faço uma maquiagem básica, nada muito chamativo e me olho mais uma vez no espelho. Satisfeita com o que vejo, vou até o quarto do Júnior. Vestido em seu pequeno terno, ele está sentado no tapete do seu quarto e brinca com seus blocos de montar. Encosto-me na soleira da sua porta e observo o garoto tranquilo e lindo que é meu filho de quase cinco anos.

— Mamãe, como você está bonita! — ele diz quando me olha e eu vejo a sinceridade nas suas palavras infantis.

Me aproximo, e me abaixo onde ele está e arrumando sua pequena gravata, respondo:

— Tenho que estar à altura do homem mais lindo da festa não é?

— Eu mamãe?

Assinto, mas uma voz nos interrompe.

— Sua mãe está falando de mim. — diz o Pedro entrando no quarto nos surpreendendo. Imediatamente vejo a tensão turvar a expressão do meu pequeno.

Me ergo para encarar este que sem sombra de dúvida, é alguém muito lindo mesmo, mas que os anos de convivência, me mostraram que a beleza externa nem sempre acompanha uma alma bonita.

— Vamos? — ele chama sem desviar os olhos dos meus e completa — Você está muito bonita, Marina.

Enrubesço.

— Você também — retruco.

Ele sorri e sua covinha no queixo aparece, então, ficando bem próximo de onde estou diz:

— E sou exclusivamente seu. Como você é exclusivamente minha, esposa.

***

A cerimônia de casamento da Bruna, foi algo simples e significativo. Apenas alguns familiares e amigos mais próximos foram convidados. Seu noivo, um antigo amigo da faculdade que se reaproximou dela depois de se reencontrarem em um show da banda que ele faz parte, é alguém muito especial. Fernando é dentista e músico. Enquanto a Bruna está se formando em fisioterapia. O reencontro deles foi algo intenso e rápido. Faz menos de um ano que começaram a namorar e decidiram se casar rapidamente, pegando todos nós de surpresa. Afinal, ela vivia repetindo que nunca se casaria.

Quando chegamos ao local onde seria realizada a cerimônia, segurei a mãozinha do Júnior para leva-lo até onde estaria as outras crianças. Nervosa por ser o casamento da minha irmã, esqueci completamente de me despedir do Pedro. Ele no entanto, me puxou pelo braço aborrecido e me disse:

— Nem bem chegamos, e você já começou a me ignorar? Vai ser assim a noite inteira? Porque se for, me avise que volto para casa. Já não basta aquela sua irmã insuportável que em qualquer oportunidade me olha com desconfiança. — ele olha para algo além de onde estou e completa — você sabe melhor do que eu, que ela sempre foi contra nosso casamento, Marina.

— Pedro, hoje não é dia para discórdias. É o casamento da minha irmã. — ergo a mão e acaricio seu rosto — e não importa se ela gosta ou não de você. Eu te amo. E isso é o que importa não é?

Seus olhos brilham quando ele segura meu queixo com suavidade e diz:

— Tem razão meu amor, desculpa. É que é difícil para mim te dividir com esse monte de gente. Vai lá, vou te esperar na primeira fila.

O Silêncio da AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora