CAPÍTULO 16

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Passado:

A cadeira de amamentação balança suavemente para frente e para trás. Uma brisa suave entra pela janela do quarto do bebê e eu suspiro de puro contentamento.

Ouço a porta da frente abrir e fechar, e sei que é o Pedro que voltou do quartel.

— Marina? -- ele chama ainda da sala.

Sinto vontade de responder, mas não quero acordar o bebê adormecido em meu colo. Então aguardo ele me localizar.

— Marina? Onde você está?

— Shhh...murmuro baixinho para que o Júnior não se assuste com a voz do pai.

Então a porta do quarto se abre, e ele entra.

Ergo os olhos com um sorriso estampado no rosto, mas meu sorriso morre instantaneamente como o encaro.

— Algum problema?

— Vários — ele diz seco.

— O que houve Pedro?

— O de sempre. Sua irmã.

— Minha irmã? O que tem a Bruna?

— Ela quer vir te ver. Quer conhecer o Júnior.

A relação do entre eles sempre foi muito complicada. Eles mal se falam, e quando isso acontecem, são ríspidos um com o outro. Nenhum dos dois nunca me explicou o porquê de tanta animosidade, mas começo a desconfiar que não é apenas por antipatia mútua.

— Não vejo problema algum — murmuro mesmo já sabendo a resposta.

— Não quero sua irmã rondando nossa casa como um urubu à espreita que eu cometa alguma merda.

— A Bruna não é assim.

— O caralho que não é — diz irritado.

Aconchego mais ainda o meu bebê que começa a se remexer um tanto inquieto pela voz do pai.

— Pedro, é natural que a Bruna queira conhecer o Júnior. É o primeiro sobrinho dela. — tento argumentar.

Ele caminha de um lado para o outro no quarto todo decorado de azul e branca com motivos de marinheiro. Seu semblante está sério e irredutível.

— Marina, combinamos que manteríamos nossa vida apartada da nossa família.

É verdade, combinamos mesmo. Só que ele esqueceu de mencionar que a mãe dele me visita diariamente enquanto a minha só vem me ver raramente, já que pressente nas entrelinhas que não é bem-vinda.

— Do jeito que sua família gosta de nos visitar, a minha também gosta, Pedro. — argumento e imediatamente me arrependo.

Seu olhar é duro quando me encara.

— A minha família não foi contra nosso casamento como a sua foi. A minha família não tentou encher minha cabeça de merdas contra você como a sua fez, e a minha família, sempre tratou você como uma filha. Não como uma inimiga, porra.

O bebê começa a chorar e eu imediatamente fico de pé para acalenta-lo.

— Shhh meu anjinho.... calma...shhh...

— Ela não vem. Não quero a Bruna aqui em casa. Ela me odeia, eu a odeio e ponto final.

Ergo os olhos para encarar os dele e fico chocada com a raiva que vejo brilhando neles.

— Ela vem sim, Pedro — rebato — A casa também é minha! Você não tem o direito de...

Mais sinto do que vejo a mão dele atingir meu rosto. Aperto meu bebê nos braços e olho para ele chocada demais para falar.

— Olha o que me faz fazer, porra! — diz descontrolado.

Fecho os olhos e deixo as lágrimas caírem livremente. Me afasto o máximo que posso dele, com o Júnior aninhado e protegido, enquanto me coração sangra de dor e desencanto.

— Amor, desculpa. — ele se aproxima e eu me encolho. Ele dá mais um passo em minha direção com a mão estendida — Você não deveria ter gritado comigo. Sabe que me descontrolo.

— Saia daqui!

— Marina, desculpa. ---- ele tenta se aproximar mais uma vez — pelo amor de Deus amor, me desculpa! Tá vendo o que a víbora da sua irmã causa? É sempre assim!

— Saia daqui! — grito mais alto assustando meu bebê.

— Não vou sair. Você vai ter que me desculpar — ele passa as mãos no rosto e seus olhos estão cheios de lágrimas — Por favor me desculpa! Me descontrolei! Não vai acontecer novamente Marina. Eu prometo. Eu te amo, amor. Me perdoa por favor. Sou um idiota, um imbecil. Me perdoa por favor...

Suas súplicas continuam por tanto tempo até aminha cabeça latejar. E depois de muitos pedidos de desculpas e milhões de juras de amor, ele finalmente cede e diz que a Bruna pode vir nos ver. Sei que é a sua consciência pesada que está falando mais alto do que qualquer coisa, mas não me importo.

Odeio vê-lo descontrolado assim. É raro, mas acontece. E sempre é o mesmo padrão. Ele chora, me implora por perdão e torna-se o homem mais amoroso e cuidadoso do mundo.

Odeio ser tão fraca e perdoá-lo todas as vezes.

Odeio amá-lo tanto a ponto de esquecer a dor que ele me causa quando ele me trata assim.

Odeio mais ainda o fato de, com o tempo, me acostumar com isso.

O Silêncio da AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora