CAPÍTULO 28

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 Nem nos meus mais loucos sonhos imaginei que um dia teria um restaurante e que na segunda noite, teríamos fila de espera na porta. Novamente!

É quase surreal. Penso enquanto agilizo a finalização de dois pratos. Estou cansada, mas muito feliz. O almoço foi tranquilo e o movimento menor que o esperado. Mais o restaurante está lotado desde que abrimos para o jantar. Por sorte, tínhamos quase tudo adiantado e os pratos só precisam das finalizações. A ideia da especialidade do dia, também foi uma ideia genial. Adianta bastante o trabalho e hoje nossa salada de bacalhau com frutos secos, foi um estrondoso sucesso.

Uma Bruna esbaforida entra na cozinha e contenho um sorriso.

— Então, como anda os pedidos da mesa oito e doze?

Checo as comandas e falo sem desviar a atenção do acabamento requintado que faço no salmão.

— Estão saindo. Mais dois minutos. Três no máximo.

— Ótimo! — e se aproximando de onde estou diz — Puta merda, não dá nem vontade de comer de tão lindo que está!

Sorrio e ergo os olhos dizendo:

— A ideia é justamente o contrário Bruna! O que desejo é que o cliente não veja a hora de saborear essa belezura aqui.

— Tem razão — diz sorrindo — Chegou mais um cliente.

Ergo uma sobrancelha e em seguida olho o relógio e parede acima da cabeça da Bruna.

— A esta hora?

Ela assente.

— Achei que estes seriam os últimos da noite.

— Infelizmente não tive como negar. O pedido dele é supersimples, e sei que já tem pronto.

— Ah é?

Ela assente sorrindo.

— Ele quer ver a chef e se não for pedir muito, quer um pedaço da famosa torta de camarão.

Sinto um rubor cobrir minhas faces.

— Prontinho chefas, os pratos das mesas oito e doze estão ok — diz o Igor.

A Cris, surge e diz:

— Posso levar, Igor?

— Claro que sim gata, está lindo e gostoso! — diz piscando para ela que fica ruborizada.

Aproveitando a deixa, a Bruna abre a porta de passagem da cozinha para o salão para a Cris passar e diz:

— Quando a torta de camarão estiver ok, por gentileza, pode servir ao cavalheiro que encontra-se sentado no balcão... e ele parece... ansioso — diz me olhando com um sorriso travesso.

— Sem problemas — respondo e resolvo entrar na brincadeira — Como irei reconhece-lo?

Então ela abre o sorriso e diz:

— Essa é fácil, é só olhar e procurar um homem gato, maduro e apaixonado, e tcharam! — pisca o olho e sai me deixando com o rosto ruborizado e o coração acelerado.

***

Quando saímos do restaurante, já está bem tarde. Como na noite anterior, ficamos conversando e trocamos beijos apaixonados. Ele me esperou fechar tudo, e me acompanhou até o carro.

Então, gentilmente, me encostou na porta do meu carro e me beijou suavemente. Cada movimento da sua boca, sobre a minha, foi uma caricia suave. O Ricardo é realente um homem especial, concluo quando ele abre a porta do meu carro, para que eu entre.

— Amanhã não poderei te ver — diz inclinando-se na porta para acariciar a lateral do meu rosto com suavidade.

— Por quê?

— Amanhã vou ficar com meu filho. A mãe dele vai precisar viajar a trabalho e ele dormirá lá em casa.

— Manda um beijo meu para ele.

— Pode deixar — ele diz — Vou ficar com saudade — emenda.

Ergo a mão e toco a lateral do seu rosto. Seus olhos se acendem com a caricia simples e algo dentro de mim, se aquece e se derrete. A sensibilidade aflorada do Ricardo me fascina. É como se ele não tivesse nenhum pudor em mostrar o quanto eu o afeto. Ele não faz joguinhos de sedução. Seus pensamentos estão estampados em cada curva do seu rosto e do seu sorriso sereno e lindo.

— Eu também vou — sussurro.

— Promete que vai me ligar amanhã para me contar como foi a conversa com as crianças?

Assinto e então, ele emenda:

— Não quero de forma alguma te causar problemas, Marina.

— O problemas não é você, Ricardo. O problema foi que eu não os preparei para que eles entendessem que minha vida seguiu.

— Ainda assim, não quero ser motivo de desavenças dentro da tua casa. Se achar que devemos ir com calma, não tem problema. — e se inclinando e depositando um beijo suave na minha boca, continua — Eu só não quero que você desista da gente.

Me estico e é minha vez de beijá-lo e com a boca encostada na dele, murmuro:

— Isso não vai acontecer.

Ele sorri e assente. Coloca os dedos nos bolsos do jeans e se ergue.

— Vai linda. Está tarde e é perigoso ficarmos aqui a esta hora.

Assinto e dou partida no carro.

Se não estivesse tão leve a apaixonada, teria visto o carro sair do estacionamento quase deserto logo em seguida.

O Silêncio da AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora