✳ Capítulo 8 - Pena? ✳

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" POR WESLEY "

Levantei-me da cama sonolento, não consegui dormir muito, se fosse por mim faltaria hoje, contudo não posso, principalmente porque vou ter que ler um poema meu para a sala inteira. Caminhei em direção a casa de banho praticamente arrastando o meu corpo pelo corredor. Zero de ânimo para encarar o dia, queria poder voltar para a cama.

O colégio estava movimentado, já da entrada do mesmo tinha alunos conversando, alunos chegando de carro com os seus pais, outros com os motoristas, como sempre, já que estava quase na hora das aulas começarem.

- Até depois - despedi-me do Austin.

- Ah, droga! - praguejou a Aniela encarando o ecrã do seu telefone - tenho que ir pegar um livro na biblioteca. Entrou no colégio apressada me deixando para trás.

- Espera por mim - escutei a voz da Kamilly. Parei de andar e olhei para trás. Ela cumprimentou-me com um "oi", seguido de um largo sorriso no rosto. Perguntou-me se eu estava bem - acredito que pela a minha cara - respondi-lhe que sim.

- Ora, ora,ora, os pombinhos, o pretinho e a ruivinha - olhei para a dona da voz com cara de poucos amigos. Ela tinha que dar o ar da sua graça.

Eu não estou com paciência para aturá-la. Continuei a andar, mas paro quando percebo que a Kamilly não está a andar e ficou parada no mesmo sítio. Ela fuzilava a Brenda com o olhar.

- Sempre a cercar o coitado do preto - sorriu ironicamente.

- Não me metes medo - a Brenda a encarou.

- Estás quase a virar um tomate. Cuidado com os problemas de saúde - disse sarcástica e deu um sorriso perverso.

- Que tipo de ser humano és tu? Pareces uma serpente a destilar veneno para todos os lados. Não sei como é que você se aguenta, se eu fosse você estaria farto de mim. Coitado de quem tem que te aturar todos os dias, porque você é um carma, ninguém merece te ter por perto! Eu não te odeio, eu só sinto pena de ti - proferi aquelas palavras duras, sem me importar com como ela se sentiria. Chega um momento da vida que precisamos escutar umas boas verdades. Brenda Rason me tirava do sério e puxava o meu pior lado, conseguia acabar com o meu dia em um segundo.

" Brenda"

Quem ele era para sentir pena de mim? Pena? Desfiz o sorriso nos meus lábios. Observei eles sumirem do meu campo de visão sem conseguir revidar, ainda abri a boca para falar, mas logo fechei-a. Por alguns segundos fiquei sem me movimentar, intacta no mesmo lugar.

- Pena? Pena! Pena de mim? - repeti aquela palavra, não acreditando tê-la ouvido.

Calma, Brenda Rason. Relaxa. Não é um preto idiota que vai te tirar do sério. Passei as mãos pelo meu cabelo e depois pelo rosto. Respirei fundo me estabilizando.

[...]

Na sala de aula

A Brenda não conseguia parar de olhar para o Wesley, se a questionassem algo sobre a aula, ela não iria conseguir responder. Ela se perguntava: por que é que ele sentia pena dela? Ela não via razões. Não era ela a digna de pena e sim ele, pensava ela.

-- Wesley, vem aqui na frente ler o teu poema -pediu a professora, ganhando a atenção dela.

Os olhos da Brenda acompanhavam cada passo dele. Em sua cabeça ela fazia inúmeras perguntas e elas todas envolviam uma só pessoa: Wesley. Perguntas como: "O que ele tinha de especial que até a Kamilly, a garota que sempre vivia no seu mundo, que não falava com ninguém além dos professores, se intetessou por ele? Sim, se interessou! Para a Brenda era óbvio que ela sentia algo por ele.

O Jaison já havia percebido os olhares da Brenda sobre o Wesley, que de vezes em quando também a olhava. Ele conhecia muito bem ela.

"Ela está diferente" pensou ele e ele tinha a certeza que o Wesley era a causa.

O Wesley estava um pouco nervoso, evitou encarar os colegas, não se sentia preparado para ler o poema à frente de todos, principalmente da Brenda.

Aquela garota não saia dos seus pensamentos. Enquanto ele escrevia o poema na noite anterior, tinha ela em sua cabeça. Não conseguiu evitar escrever sobre seus sentimentos e confusões. Ele sabia que não devia sentir nada por aquela garota, mas parecia que o seu coração não queria saber disso. Por que ele sabia, bem lá no fundo, que ele sentia algo por ela, algo que estava a começar a querer gritar dentro de si.

O Wesley respirou fundo, antes de começar a declamar o poema:

🌹 " Minha perdição " 🌹

🌷És como uma rosa com espinhos
🌷Me perco em teus olhos
🌷Que me levam em caminhos, jamais trilhados por mim
🌷Não sei se vivo sem esse olhar
🌷Não sei se vivo sem esse caminhar

🌷Não quero mais me perder
🌷Mesmo querendo te ter
🌷Te ter aqui bem perto de mim -A Brenda e o Wesley, pareciam que tinham sido teletransportados para uma outra dimensão, só deles. Ele não precisou de papel nenhum para continuar, porque tudo que estava ali eram os seus sentimentos transformados em palavras.

🌷Você é o remédio
🌷Mas ao mesmo tempo o veneno
🌷Veneno que me destrói
🌷Veneno que me constrói
🌷oooh.. doce perdição
🌷oooh... doce maldição
🌷Vens como uma tentação
🌷Que não me sai da ilusão
🌷Estou a ficar louco
🌷Estou a ficar sem rumo
🌷Sem horizonte
🌷Sem destino
🌷Sem caminho

🌷Me afundo nesse mar
🌷Cheio de amor para dar

🌷oooh....perdição
🌷oooh... tentação
🌷Que me dá o veneno
🌷Mas ao mesmo tempo o remédio

Todos bateram palmas. O Jaison não estava a gostar da maneira que a Brenda olhava para o Wesley, nenhum pouco.

- Parabéns, podes voltar para o teu lugar. Foi tão profundo, fiquei emociomada - disse a professora, admirada e encantada com o poema -hoje vamos falar de poemas, então eu trouxe para vocês uns folhetos com exemplos... - falava enquanto procurava por eles, porém ela não os encontrava. Mas logo ela lembrou-se que não os tinha pego quando estava na sala dos professores. Ela andava tão distraída nesses dias.

- Eu esqueci de trazê-los- disse para os alunos - Bom... ok! Brenda e Wesley, poderiam, por favor, ir buscá-los com o Sr. Ronny - é o vigilante do colégio.

O Wesley aceitou na boa. A Brenda estava prestes a aceitar também, quando a Ariana lançou-lhe um olhar que ela logo entendeu.

"Eu não posso estragar a minha reputação. Tenho que fazer o que é certo, tenho que fazer o que é melhor para mim e mais nada ", pensou ela.

- E por que é que tem que ser eu? Não pode ir outra pessoa com o negrinho, e ele podia muito bem ir sozinho, ou ele precisa de bába? - cruzei os braços e arquei uma das sobrancelhas.

- Nunca mais se refira assim com relação a ninguém e vais sim com ele e ponto final! - a professora repreendeu-a.

A Brenda não conseguia olhar para o Wesley, que a olhava se perguntando como ele poderia ter algum sentimento por ela, por mais pequeno que fosse?

Um novo eu, por vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora