29 - Bater em retirada

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Todos ficamos parados em choque. Isso significa que na verdade é um exoesqueleto. Mas o pior de tudo, seu rosto, continua igual ao do vídeo, mas não tem mais a mesma expressão viva. Pai, o que fizeram com você? Ele não deve nem mais saber quem eu sou. Retiro lentamente a máscara.

- É muito bom poder... Chamar alguém de... Pai. – Quase não consigo ver com meus olhos afogados em lágrimas. Por que isso acontece comigo? – Pai, eu, fui criada em orfanatos, nunca tive amigos, e quando tive, eles me apoiaram e me fizeram rir. Eu sei que para você isso não deve valer nada, eu nem sei se você ainda...

- PARA. ISSO... DÓI. – meu pai grita de joelhos com as mãos cobrindo a cabeça. – Minha cabeça está explodindo. – Isso significa que algo dele ainda está lá.

- EU NEM SEI SE VOCÊ AINDA LEMBRA DE MIM OU ME AMA!

Ele urra de dor. Sua reação é quase imediata. Ele começa a arranhar sua nuca. Vejo um pequeno calombo naquele local. Parece que está crescendo, como se algo... Fosse sair voando.

- DÓI NÃO É? PROMETER QUE IA VER SUA FAMÍLIA DE NOVO E ISSO NÃO ACONTECER.

Os guardas estão alertas, eles não esperavam isso, enquanto eles se distraíram, os fuzileiros desceram uma rápida rajada de munição tranquilizante. Todos caíram dormindo profundamente e só irão acordar em algumas horas. Me aproximo dele, pego um bisturi do kit médico que veio em meu uniforme tático. Abro sua nuca, sangue escuro e mal cheiroso espirra em meu rosto. É escuro. Um chip com uma pequena luz pisca entre seus músculos.

- Não tire. Isso vai acionar os alarmes. Espera até o transporte. -  Ele diz com dor, mas consciente o suficiente para se tornar um aliado novamente.

- Muito prazer. Pai

Ele se vira para mim, com o rosto ensanguentado, e dá um sorriso.

- Você consegue andar? - Karina

- Sim, mas quando essa porta é aberta, um sinal é emitido e se nada for avisado após cinco minutos uma equipe de inspeção vem para certificar que eu acabei com todo mundo.

- Vamos então, já se foram quatro minutos.

Saímos em disparada. Nossa extração foi bem sucedida. Em parte pelo fato de termos sido ajudados com as informações que Nori nos deu. E o que ajudou é que meu pai se lembrou de mim. Isso me deixa estranhamente segura, eu sei que corremos perigo nesse exato momento, mas ele está com a gente. Tudo vai ficar bem. Estamos subindo no elevador, e chegamos ao hangar, não vai ter tempo de esperar o planador chegar, no fim, a saída vai ser um pouco tumultuada. Entramos em um planador do governo e dois dos fuzileiros ligam o avião. Enquanto isso, vemos a equipe de inspeção sair do elevador e ir em direção ao planador. Apontam as armas e quando vão começar a atirar o planador, o mesmo avança em toda velocidade e sai voando do hangar. Tudo deu certo, estranhamente certo. Volto ao meu pai que está com a nuca sangrando e vejo o chip. O corpo voltou a aceitar o chip. Vejo apenas uma ponta e meu pai fica com uma expressão seria.

- É ISSO QUE VOCÊ VAI FAZER COMIGO? VAI ME ABANDONAR DE NOVO?

Ele volta a urrar de dor e o chip pula de sua nuca, pego uma pinça cirúrgica e puxo lentamente, desconectando micro cabos que estavam ligados ao sistema nervoso. Seu subconsciente estava ali, e foi o que rejeitou o chip. Ele provavelmente mandava sinais elétricos mais fortes que o normais substituindo-os por ordens programadas.

- Desculpa, era necessário.

- Tudo bem, acho que não merecia menos. - Diz com um sorriso um tanto melancólico - Mas temos que sair daqui, os aviões tem localizadores.

Uma Questão de HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora