Narração: Wolf
Após a mudança, John e Karina nos chamaram para uma comemoração pela casa nova. Isso não me parece muito um movimento tático, mas quem sou eu para questionar. Chegando à rua, as casas grandes com quintais a frente surgiram.
Karina e John estavam a porta para nos recepcionar. Uma pequena cobertura frontal que abrigava quem estivesse tocando a campainha os protegia da leve garoa que caía.
Entramos pela porta da frente num hall, e entramos na sala. Uma lareira de pedra e uns poucos móveis que eram novos davam a sensação de que a sala era ainda maior. Sentamos próximos à lareira acesa.
John nos chama na cozinha, a geladeira está afastada da parede, e uma porta surge atrás. Um novo porão de treino, mas com metade do seu espaço ocupado por mesas com computadores táticos. Mapas e visores que mostravam pontos da cidade.
- O dever de casa tem que ser feito. – Digo.
- Realmente – John sorri.
A segunda metade do porão é apenas um espaço aberto, e já tenho muita ideia de qual a sua função. Um quadro grande pendurado à parede se destaca, e nele, diversas espadas de diferentes tipos, um arco, e alguns outros equipamentos.
Sully se afasta e chama John. Karina e Ângela começam a conversar e me chamam. O que me deixa curioso é sobre o que John e Sully conversam. Sully estava um tanto aéreo durante os ultimos três dias. Sua percepção estava um tanto ruim, e seus reflexos menores que o normal. Quando o questionei sobre isso, ele apenas me disse que estava cansado.
- Mas Karina, isso vai ser complicado – Ângela disse no momento em que minha consciência retornou.
- O que você acha Wolf? – Karina me pergunta como se necessitasse de uma aprovação.
- Oi? Desculpa, eu estava meio... – Digo um pouco pensativo ainda.
- Estava falando com a Ângela, de fazer um complexo, uma base de operações "secretas" – Disse secretas enquanto gesticulava com as mãos – Um lugar, que... Se por um acaso as coisas saírem do pior jeito, podemos ficar mais seguros.
- Eu acho uma boa. – Afirmo. – Mas onde?
- Então, seria no meio do nada...
- Oi? Ok, agora eu tenho que concordar com a Ângela. A ideia é boa, mas... – Tento ser o mais justo possivel com as duas.
- E se... Usassemos o metrô? – Karina tem quase que uma epifania.
- Metrô? – Pergunto. – O que seria o... Metrô?
- No mundo velho, quando existiam muitas pessoas, e essas trabalhavam todos os dias em cidades gigantescas, o metrô era um jeito delas se locomoverem. Como os carros ou aviões, mas dentro da cidade. Mesmo os trens já sumiram hoje em dia.
- Trem... Eu me lembro de andar uma única vez quando eu era bem pequeno. – Digo com uma vaga lembrança.
- Isso! Os metrôs eram trens que andavam no subsolo, e eram mais rápidos.
- Mas onde existem esses metrôs?
- Bom, tem um lugar que eu conheço. – Ângela diz já pensando não ser uma boa ideia.
- Nas ruínas. – Karina diz empolgada.
- Ruínas? O quê? – Estou completamente perdido nas ideias que vi hoje. O que são essas ruínas?
- As ruínas do velho mundo. – Karina diz – São o que sobrou do velho mundo depois do "Fim", uns quatrocentos anos atrás. O "Fim" foi uma guerra que matou mais de noventa e cinco por cento da população mundial. Pelo que nos dizem, algumas coisas sobreviveram ao Fim, na parte de tecnologia, e outras se perderam. O mundo acabou por causa de disputas políticas de diversos países que queriam, direta ou indiretamente, soberania.
- E não aprenderam – Digo em um ár de deboche. – O mundo acabou e as pessoas insistiram na política.
Ângela e Karina olham para mim com um ar de interesse e ao mesno tempo fascinação.
- Se o mundo acabou por causa de política, a maior parte morreu por causa disso, por que insistir? Sei lá, isso só me parece idiota.
- Mas é. O pior de tudo Wolf, é que com a política, o mundo é ruim, sem ela é pior. – Karina diz pacientemente.
- Quando o mundo acabou, as pessoas tentaram viver sem política, mas o ser humano nunca foi preparado para liberdade ilimitada. Leis existem para segurar os erros. Todos erram, mesmo com as leis, mas elas ajudam a manter o controle na vida. – Ângela fala em um tom diferente do habitual, mais seria e pensativa. – Se não obedecessemos as leis de trânsito, e cada um dirigisse como bem entendesse, quantos acidentes aconteceriam?
- Muitos.
- Você não é proibido de ir e vir, mas as leis de trânsito são feitas para a segurança e para limitar o número de acidentes.
- Quando a Ângela ativa sua ponta do Pentágono, chega a dar medo. – Karina comenta.
Seus olhos estão focados, as pupilas dilatadas, e ela permanece imóvel, apenas seu olhos e boca se moviementa.
- Entendi... Você disse que tentaram viver sem política por um tempo depois do fim.
- Sim. – Seu tom volta ao normal. – Dos cinco por cento que sobreviveram, três quartos morreram pelo caos que foi criado após aquilo.
Minha mente não consegue acompanhar mais isso. Para mim, o mundo sempre foi mundo, e nunca existiu um "velho mundo".
John sobe do porão com o rosto pálido.
- Vocês precisam ver isso.
Descendo a escada novamente, Sully está sobre uma maca. Com alguns elétrodos grudados por seu corpo, vemos uma tela próxima a ele. O desenho de um pequeno Pentágono se destaca no meio da tela.
- O Pentágono. Está com a média de noventa por cento.
- O QUÊ?! – Karina e Ângela dizem quase que ao mesmo tempo.
- Isso deve estar errado. – Karina diz desacreditando.
- Não está. A maquina está calibrada, testei duas vezes em mim mesmo, e três vezes em Sully.
A mesma maquina que foi utilizada em mim duas semanas atrás. Ela mede o nível de atividade cerebral e elétrico no corpo. Sem entender como ela funciona, apenas sei que ela mostra a afinidade no Pentágono.
- Um molde... Imperfeito. – Karina diz quase sem voz. – Sua... Especialidade ainda funciona?
- Sim. Eu na verdade consigo prever mais algum tempo. Talvez por volta de uns dez segundos.
Todos ficam pálidos. Não entendo exatamente o que está acontecendo. Eu sei que um mulde perfeito até agora ainda não foi descoberto.
- Mas o por quê da especialidade dele? – Pergunto inocentemente.
- Quando eu te expliquei sobre o Pentágono, eu, talvez tenha esquecido de falar que a ponta da especialidade e a ponta do molde não podem "existir" – Diz gesticulando aspas. – Ao mesmo tempo.
- Bom, agora descobrimos que pode. – Digo friamente. – Se isso vai se tornar uma guerra, não temos que comemorar cada recurso extra que tivermos?
Ângela, John e Karina refletem no que eu acabo de dizer e processam o fato de maneira diferente. Abrir uma vantagem dessas em um campo de batalha é essencial.
- Mas eu não te contei Wolf, na verdade, não contei pra ninguém. Minha especialidade tem uma fraqueza. Eu não reajo a ataques surpresas. Só consigo ativar minha especialidade se eu ver a pessoa ou o que ela está fazendo.
Todos ficam em pensativos com essa declaração.
- Mas isso é simples. Só precisamos ser nós a dar o ataque surpresa.
Todos sorriem sobre o que acabei de dizer e assentem.
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Uma Questão de Honra
AdventureVivendo sob um governo opressor, dois jovens tentam mudar a história de sua vida lutando. Fatos que ocorreram durante a subida ao poder desse governante cria relações inimagináveis de força conjunta entre resistentes ao governo. Marina e Anthony são...