Chego a área em que ela está. O odor forte de café é sublime. Mesmo por trás da porta consigo senti-lo. Mari estava falando com seu pai, e eu não havia me dado ao luxo de ainda falar com ela. Nori estava ao lado de um fogão, onde acabara de ferver água para fazer café, e despejava sobre o pó negro. Nori pegou duas xícaras.
- Sabia que para se fazer um bom café, precisamos ter um bom manuseio dos grãos? Mesmo grãos de excelente qualidade põem ser ruins ao serem mal utilizados. Até o modo como se joga a água sobre o café pode alterar o seu sabor.
Duas xícaras sobre a mesa estão cheias. O vapor quente do café some em direção ao teto da sala.
- A única coisa que eu aprendi de útil de lá... fazer café. Ninguém de lá era... Como nós... Era tudo tão... Frio, tão... solitário.
Me aproximo de Nori e a envolvo com meus braços, seu corpo ainda está tenso, e treme. Imagino que deve ter sido muito difícil para ela. Lágrimas escorrem de seu rosto e molham minha camisa, onde ela apoia o rosto. Nori começa chorando baixinho, até que se tornam prantos, ela grita, não sei se de alívio ou de raiva, suas mãos, esmagam minha camisa, que já estava toda amassada. Seus gritos para meu peito vão, aos poucos se tornando baixos, até que ela perde as forças das pernas, sim, cai ao chão de joelhos, e eu a acompanho. A esse ponto, o café, que estava quente, esfriou.
- Você está de volta a sua casa agora.
Ela está com as mãos penduradas sobe meus ombros, seus cabelos, que são, naturalmente muito claros, parecem brancos, se não fosse por uma leve presença de loiro, o que os tornam prateados. Seu rosto, mesmo inchado por ter chorado, ainda é fino e delineado, suas feições, mesmo cansadas, são calmas. Após esse evento, Nori começou a cochilar sentada enquanto estava apoiada sobre mim. Mari chegou e viu que ela dormia, fez uma cara de espanto, eu na verdade nunca falei que ela é como uma irmã para mim. Mas ficou quieta e se sentou ao meu lado. Pegou a xícara de café, esquentou-o e o deu para mim. Tomei um gole, está delicioso. Olho para Nori que sorri agradavelmente. Mari apoia sua cabeça sobre meu ombro e, também sonolenta, fecha seus olhos.
- Virei travesseiro agora? – Falo baixinho para não acordar Nori e não incomodar Mari.
- Cala a boca, não estraga esse momento.
Mari cai em um sono profundo rapidamente, e já que não tenho muito a fazer, acabo cochilando também.
Acordo sem mais nenhuma das duas sobre mim. Dormi apenas uns quinze minutos, já que o café está morno. Também, o lugar onde Mari estava sentada não está gelado como sempre, mas apenas frio. Minhas costas doem um pouco, o canto da parede é duro. Levanto como um senhor de idade. Me espreguiço e ando até o corredor. Estou no nível trinta e oito. Um sinal dispara. É o sinal de evacuação. O que está acontecendo? Corro até a escada. Pessoas estão descendo, devagar, mas apressadas. Os rostos estão pálidos. Algo grande acabou de acontecer. Espero todos descerem e desço por ultimo. Onde estão todos? Não vi Mari, Nori, Wolf, Pan, minha mãe ou Sully, Nem mesmo Glicth ou Magic. Ao chegar ao alojamento, vários computadores terminais estão a vista. Acesso um deles, nenhum deles ainda está aqui. Onde estão? Subo rapidamente as escadas. Algo aconteceu. Mesmo com alguns seguranças de evacuação me mandando descer, ignoro-os e subo. Ao chegar no nível dez, ouço barulhos. Entro pela porta da escadaria. Vejo sangue. Sinto seu cheiro. Todos estão em frente a um exército pequeno. Suas espadas estão levantadas e desembainhadas. Wolf está sem camisa, e posso ver uma gota de sangue saindo se suas ataduras. Ele segura duas espadas e uma terceira está embainhada. “Wolf” grito, e sem se virar, ele joga a espada, leve e resistente. Ao ver a possibilidade de me aproximar e tirá-lo da luta, farei isso. Um dos soldados começa a falar com uma voz mecânica.
- Devolvam os prisioneiros agora.
- Pode tentar – Wolf diz
O guarda abre o capacete e mostra a face de um ser humano. Várias cicatrizes cobrem seu rosto. Sua respiração está pesada. Mas não oscila. Seu olhar é firme.
Glitch me joga uma insígnia de Precisão. E em um único movimento entre recebê-la e colocá-la, acoplo-a em minha têmpora. A sensação que tenho, é como se o mundo ficasse um pouco maior e mais lento. A espada que recebi não é como a qual estou acostumado. É uma rapier. Por isso essa insígnia. Aparentemente, a armadura que o soldado está vestindo, é como uma versão menos aprimorada do exoesqueleto que Sully vestia. Não será um oponente fácil de combater. Estamos frente a frente, ele, Wolf e eu. Longos segundos se passam até que o primeiro movimento é dado. Ele avança sobre nós, agora que vi, Wolf tem em sua espada uma insígnia de velocidade adaptada. Iremos usar o máximo delas. Se falharmos iremos todos morrer. Os soldados esperam seu capitão lutar imóveis, mas com suas espadas apontadas para os outros. Isso é como se fosse uma ordem previa dele. Sua velocidade é alta, mas com as insígnias, Wolf compensa sua velocidade e eu minha falta de precisão as vezes. Magic está rodando um baralho em suas mãos, um baralho que foi feito para ele. Estamos lutando, mas consigo ver os meus arredores. A espada dele vem em minha direção. Wolf surge em minha frente com sua katana, bloqueia o ataque. Seu sorriso de estar gostando é quase psicótico, Wolf gosta de lutar. Mesmo após quase ter morrido. Posso dizer isso, mas no fundo no fundo, estou gostando tanto quanto ele disso. Faz um bom tempo desde que luto sério com alguém. O homem está suado já, seus companheiros estão alertas, mas, Wolf e eu estamos bem ainda. Por mais que fosse um esquadrão de elite ou algo do tipo, eles nem mesmo conseguiam nos divertir. Wolf soltou uma gargalhada.
- Garoto, isso tá fácil né? – Aceno com a cabeça – EI VOCÊS AÍ ATRÁS, legal, eles não me ouvem. Eles estão programados para atender só a você? – Perguntou ao homem. Ele fez desprezo da pergunta, e Wolf começa a se irritar. – Se eu te ferir eles vão entrar na briga?
Wolf avança violentamente contra o homem, e corta, de raspão na lateral de sua barriga. O homem urra de dor, já que é a katana vermelha de Wolf. Os soldados pegam suas espadas e avançam sobre nós.
- A diversão começou! Eu sei que você quer também Magic – Wolf diz em estado quase de euforia.
Vejo de relance Magic dar de ombros e andar lentamente em nossa direção. Suas cartas começam a voar. Em menos de dois minutos acabamos com todos os guardas, é apenas o homem. Nosso olhar eufórico, e cheio de adrenalina.
- Vamos ser legais com você, você vai ter duas opções. Ou tenta escapar, mas eu não recomendo isso ou fica aqui conosco. Não estamos a fim de matar ninguém hoje. – Digo
- Na verdade se tiver que matar alguém eu estou a fim. – Magic diz com um sorriso insano no rosto.
O homem congela diante de nossa presença. Eu mesmo estou intimidado com a aura assassina que nos rodeia. O homem lentamente levanta seus braços, abaixa sua cabeça em submissão. Literalmente o dominamos. O perigo passou por enquanto. Algemamos o homem, que perdeu suas expectativas. Ele não será tratado como se houvesse sido capturado pelo outro lado. Pessoas da resistência capturadas são torturadas, tanto mental, quanto fisicamente. O levamos para a detenção do complexo, que não deixa de ser uma cadeia em miniatura.
- Qual o seu nome? – Pergunto
- John – Ele responde seco, sem nenhuma intenção de ser amigável.
- Olha John, eu quero, de verdade ser legal, mas se você não se ajudar, eu não posso fazer muita coisa. - Digo sendo enfático.
Ele olha para mim com certo desprezo. Suspiro
- Bem... – Digo pegando um bastão de autodefesa – Eu vou te perguntar uma vez. E saiba que eu não quero mesmo fazer isso. Mas você não está me deixando escolha. Por favor, colabora.
Ele dá um riso de canto de boca para mim.
- Você acha que eu vou te dar alguma informação? Você acha que eu sou mesmo burro e infiel a esse ponto?
- E quem disse que eu quero informações? – Digo levantando sua cabeça com a ponta do bastão. E ele vê que eu estou sorrindo malignamente. – John, você sabe alguma coisa sobre a resistência? Eu quero saber o que você sabe sobre nós.---
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Como prometido meu povo, o capítulo 30! As coisas começam a realmente se mexer nesse universo...
Bem, agora, eu vou mudar a frequência de postagem, pra uma vez a cada duas semanas (agradeçam ao combo faculdade + trabalho). Não que eu não tenha coisa escrita (tenho uns 12 capítulos prontos, mas que dão umas 30 paginas do meu arquivo (até agora foram umas 40)).
Enfim, como eu estou conseguindo detalhar mais e fazer com mais calma as coisas (no ônibus quando eu to indo pra faculdade), os capítulos estão ficando mais cumpridos e um pouco mais elaborados. Sem contar que em 6 capítulos, termino a primeira parte e vou ficar uns 2 meses sem postar (pra curiosidade, logico kkk)
Bom meus lindos leitores, é isso que eu tenho de aviso por enquanto, e se alguma coisa mudar, ou se eu brotar antes com outro capítulo... A gente se vê na próxima!
Muito obrigado!
Renan S. Pietroniro
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Uma Questão de Honra
AdventureVivendo sob um governo opressor, dois jovens tentam mudar a história de sua vida lutando. Fatos que ocorreram durante a subida ao poder desse governante cria relações inimagináveis de força conjunta entre resistentes ao governo. Marina e Anthony são...