31 - Engrenagens de um Organismo

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Ouço algumas batidas, Tony deve ter dado alguns golpes no homem. Mas eu sei que Tony faz somente o necessário, é isso me deixa mais aliviada. Cerca de cinco minutos depois, o vejo sair da cela que basicamente é uma sala fechada. Há alguns respingos de sangue em sua roupa, o que me deixa um pouco perplexa, mas estamos bem, e isso é o que importa.
- Como temos o hackeamento da base deles, sabemos alguns de seus planos, apesar de certos contratempos com a segurança deles. Mas como Glitch está quase conseguindo quebra-la, tenho certeza que teremos livre acesso aos arquivos de Edgar. Então, eu quis tirar algumas dúvidas que eu tinha com ele.
- Dúvidas?
- Sim. O que eles sabiam sobre nós.
- E o que conseguiu? – Pergunto.
- Bem, eles não sabem muito. Apenas algo aproximado com relação aos números do nosso pessoal e a localização da nossa base. Mas não tem noção do tamanho dela, nem de sua segurança mais ao fundo. Basicamente eles não tem certeza sobre nada quando o assunto é a resistência.
- Bom, ele disse mais alguma coisa?
- Nada. Foi quase uma conversa com a parede.
Estou apoiada sobre um guarda-corpo, visto que há um pé direto duplo. Minha mão está apoiada sobre o guarda-corpo. Começo a bater o dedo impaciente sobre o metal gelado. Lembro-me de Nori desesperada por não querer voltar para o lado do Edgar, por mais que sempre esteve do nosso. Ela foi, não, ela é muito forte por suportar toda a pressão por mais de dez anos. Ela foi para lá ainda criança, isso é o que me assusta mais. Ela com certeza poderia ter entregado a resistência, ela poderia ter não aguentado. Nori é de dar inveja, ela é tão forte. Ela é tão...
- Não se compare a ela. – Tony diz suavemente.
- Com quem? – Faço-me de idiota.
- Com a pessoa que chegou faz pouco tempo é te faz ficar pensativa enquanto esmaga o guarda-corpo.
Minha mão se fechou sobre a parte superior do guarda-corpo, e sem me dar conta, estou apertando com força demais. Droga.
- Você me conhece mesmo...
- Mari, somos amigos, e eu conheço de verdade os meus amigos.
- Sim, eu sei... – envolvo seu tronco com meus braços. – Então, qual a minha real utilidade?
- Bem, já ouviu falar em estátua humana?
- Otário
- Brincadeira – Ele diz dando um sorriso amarelo. – Bem, se fosse pra classificar, eu diria que, sua função é ser o apoio emocional da equipe.
- Como assim?
- Quando você está perto, a tensão fica menor e todos sorriem. Então, Mari, você pode não ser tão forte, ou não lutar tão bem, mas quando se trata de deixar as pessoas aliviadas e cuidar delas, você é a pessoa mais indicada pra isso. - Sorrio ao ouvir isso. Percebo que ele está com um sorriso leve, mas sincero no rosto. – E eu quero te pedir uma coisa.
- Você vai me pedir pra ser amiga da Nori
- Como você sabe?
- Acha mesmo que é o único que conhece bem os amigos?
Ele ri e andamos juntos até o elevador. Subindo alguns níveis, saio no nível médico, aliás, esse nível anda sendo minha casa ultimamente. Entro na ala de psiquiatria. Nori passa bastante tempo aqui, e por dois motivos, o primeiro, para termos certeza de que não há lavagem cerebral ou vestígios dela, e o segundo motivo é diretamente ligado ao primeiro, garantir que ela se mantenha estável com o estresse. Entro em um consultório que é estranhamente agradável. A psicologia aqui tem apenas um médico, afinal, não somos em tantos e é comum uma pessoa exercer dois tipos de atividade. Me sento em uma poltrona de tom areia, em um tecido aveludado e aconchegante. A passagem pintada a frente da poltrona remete a tranquilidade, admiro-a enquanto espero Hanna.
Hanna é a psicóloga e psiquiatra, ela trabalha nas duas especialidades. Tenho conversado ultimamente com ela, justamente por causa de Nori. Hanna era uma pessoa que, ao que me contou, era apática a tudo. Nunca se interessou nem pela resistência nem pelo governo de Edgar. Estudou na Academia, que é onde os melhores médicos se formam, mas não entendia direito a vida. Sua visão de mundo mudou ao conhecer Karina que um dia a ajudou. Hanna havia batido o carro e por poucos segundos não morrera em uma explosão, que Karina evitou ao retirar seu corpo desmaiado do carro. Criaram um laço forte de amizade e Karina a apresentou ao mundo que ela via. Por mais que Hanna seja uma excelente profissional, mas ainda tem lá suas crises de apatia. Mas mesmo em dias assim, ao se concentrar no trabalho, não há diferença entre a Hanna que conheço.
A porta se abre lentamente, e faz um pequeno rangido, Hanna deve estar como sempre comendo seu lanche natural de peito de peru. Pelo menos é um vício saudável, melhor que cigarros. Levemente viro a cabeça em direção a porta e vejo Nori, que se assusta ao não ver Hanna.
- Me desculpe, eu volto outra... – Já se virando e indo embora.
- Nori! – Ela para de costas, com o movimento interrompido e paralisada. – Você não está mais lá. – Percebo seu corpo arrepiar e logo após relaxar um pouco. – Eu... Queria... Conversar um pouco com você. – Nori se vira para mim e com um leve e educado sorriso acena com a cabeça.
Levanto da poltrona que me engolira. Ando em direção a porta e puxo Nori pelo braço até o elevador. Ao abrir a porta, Hanna surge com seu lanche de peito de peru, sem entender a situação, seus óculos caem um pouco do lugar onde estavam.
- Mari, eu ia conversar um pouco com ela.
- Noite das garotas Hanna. – Digo oferecendo um sorriso amarelo. – Aliás, quer vir?
- Não sei, eu...
- Vem Hanna. Vai ser legal – Nori diz um pouco empolgada.
- Tudo bem. – Diz mostrando um sorriso discreto.
Voltamos ao elevador e apertamos o botão do nível três, já que os dois primeiros níveis estão destruídos da invasão. Subimos o resto na escada e Martin nos intercepta na saída do abrigo.
- Onde as Três vão?
- Martin, queria te pedir uma coisa se não for muito... – Digo com o meu sorriso que ele não consegue negar.
- Você ainda vai me meter em uma confusão gigantesca Marina.
- Por favorzinho? Por favoooooooooor
- Tá... O que é?
- Abre o Cool? Só essa noite. – Levanto a mão. – Duas horinhas.
Martin vira-se e faz um som que eu entendo como “sim”.

- Não acredito que você fez isso! – Nori diz rindo
- Fiz... – Digo me vangloriando
Hanna apenas ri.
- Garotas, está na hora. – Martin diz sem desviar os olhos de seu jornal atrás do balcão.
- Ok. – Digo, o combinado eram duas horas, ele ainda nos deu quinze minutos a mais.
Nos levantamos, levamos os pratos e copos para o balcão, os lavamos e voltamos ao frigorífico, e fazemos o caminho de volta à base. Somos recebidas com Karina nos encarando com uma cara de reprovação.
- Não fica brava com elas... Você já comeu os lanches do Martin? – Hanna pergunta com o canudo no meio de seus lábios.
Karina suspira. Percebe que não tem nada a dizer, afinal, nós três sabíamos o que estávamos fazendo.
- Só não se arrisquem desnecessariamente. Por favor. – Karina diz cabisbaixa. – Na guerra fomos descuidados por alguns minutos e por pouco não fomos exterminados por completo.
Aceno com a cabeça e Nori ao meu lado faz o mesmo. Ela se vira e vai andando até o elevador é o chama. Karina está mais desanimada que o normal. Algo aconteceu. Ao chegar o elevador, Karina entra e a sigo. A porta se fecha e estamos apenas nós duas dentro do elevador. Um silêncio constrangedor paira sobre nós.
- Karina, eu preciso te perguntar uma coisa. – Ela responde afirmativamente um murmuro – Por que você está tão pra baixo hoje?
- Foi nesse dia.
Nesse dia que houve o incidente em que minha Mãe e o Pai do Tony morreram. E eu fui inventar de andar por aí. Isso deve ter sido muito difícil para Karina. Ela viu de perto a guerra, ela sabe o que é ver pessoas que se ama irem direto a morte. Bem, eu não sabia que havia sido hoje, mas, foi iam falta de respeito com ela.
- Eu sinto muito Karina – Abraço-a forte – Eu vou tomar mais cuidado, me desculpa.
- Não, tudo bem, eu acabo, ficando sentimental nessa época.
Fico em silêncio. Não sei como responder a isso sem ela acabar ficando pior. Mesmo Tony me dizendo que eu sou um suporte emocional, há situações que eu não faço ideia do que fazer.
Desço até o andar de tecnologia. Preciso conversar com Glitch sobre as insígnias. Ele me pediu alguma coisa que estaria relacionada a elas e alguns testes. Ao entrar no nível de tecnologia meus olhos se cruzam com o de Amanda. Ela sorri e vem em minha direção, não pude deixar de retribuir o seu sorriso. Amanda é muito bonita, provavelmente mais bonita que eu, e seu corpo é bem definido, com curvas sensuais e atraentes, sua pele é um tanto morena e bronzeada, e seus cabelos são escuros.
- Faz um tempo que a gente não se fala.
- Faz um tempinho mesmo – Digo.
- Veio ajudar o Glitch?
- Sim. Eu não sei o que ele aprontou, mas espero ser útil.
- Só toma um pouco de cuidado, por que ele é um tanto “cientista-louco” – Amanda ri sobre sua própria piadinha, não consigo evitar de fazer o mesmo.
- Pode deixar. Você tem trabalhado muito?
- Estou tentando, fazem umas três semanas, entrar no sistema deles. Glitch já conseguiu isso algumas vezes, e eu sou uma, digamos que, aprendiz dele.
- Boa sorte... Eu sou péssima com computadores.
Ela sorri para mim. Vou até a sala que fica no final do nível. Abro a porta e vejo Pan, Glitch e mais um homem. Sua aparência é de meia idade e sua barba o torna respeitável. Uma cicatriz sobre seu olho o deixa fechado. Se cruzasse com ele na rua provavelmente sentiria algo parecido com medo. Os três me encaram.
- Mari, boa noite. Estávamos esperando você, mas já começamos a discutir sobre o assunto. – Glitch
- Me desculpa, você me disse que queria conversar, não imaginei que seria uma reunião.
- Boa noite senhorita, meu nome é Geoffrey, sou da divisão de tecnologia. – O homem intimidador diz seriamente, mas de um modo agradável que me faz ficar mais a vontade em sua presença.
- Estamos discutindo sobre a tecnologia das insígnias Mari. – Pan – E estamos tentando melhorá-las. Estávamos pensando em fazer ela tornar quem as usar em moldes.
- Espera. Vocês querem transformar a capacidade das insígnias para potencializar tudo ao mesmo tempo?
- Exatamente – os três dizem ao mesmo tempo, o que soa até um pouco engraçado.
- Mas... Isso não é... Perigoso?
- É justamente onde estamos tentando chegar. Como deixar isso seguro. – Pan diz com um sorriso eufórico no rosto.
- Vocês sabem mesmo me deixar animada.

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Oi gente, se gostaram, votem e comentem! Isso conta muito pra mim!
Agradeço todo o apoio até aqui, e todas as leituras que estão sendo feitas!
Muito obrigado mesmo por tudo!
Desculpa não postar segunda como eu prometi, mas estou em semana de provas na faculdade e... Fica meio complicado kk, nem escrever estou conseguindo essa semana. Tanto que esse foi o tempo que consegui postar... (Agora são 5:40 da manhã 😌)(edit: estava sem internet)
De qualquer jeito, até o final dessa parte, as coisas voltam a esquentar um pouco.
Espero que estejam curtindo!
Muito obrigado!
Renan S. Pietroniro

Uma Questão de HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora