Hoje é um daqueles dias em que se levantar da cama parece uma péssima ideia, não que eu odeie fazer aniversário, mas acho esse dia estupidamente nostálgico ouvir as pessoas te dando parabéns por ter conseguido sobreviver até aqui é um tanto quanto deprimente, aliás não estou nos meus melhores dias ultimamente.
Levanto da cama rapidamente e desço as escadas, afago nick (meu gato tão mal humorado quanto eu pelas manhãs) e caminho até a geladeira. Meu telefone toca, atendo e ouço uma voz empolgada, que talvez tenha me irritado um pouco naquele momento.
- 24 aninhos! Parabéns filha! Estou tão orgulhosa da mulher que você se tornou, Cri - Este é o apelido que minha mãe inventou quando eu tinha por volta dos 5 anos, nunca soube ao certo o que tem a ver com o meu nome, que é Caren, mas talvez minha mãe seja um pouco traumatizada com nomes. Katharinna também me parece um pouco exagerado, e esse excesso de N's H's e K's fez com que meu nome fosse escolhido com a maior cautela possível, Caren, sem K, só Caren. Acho meu nome um pouco sem graça mas o fato de o mau gosto para nomes não ser hereditário me traz um certo alívio. É melhor assim. - Como estão as coisas por aí filha? Já conheceu alguns gatinhos na nova cidade?
-Está tudo bem. Não tem muito tempo para passear por aqui mãe, e não sai com ninguém, antes que você pergunte - dou uma risada sem graça e respiro fundo, essa não é uma primeira vez que ela me pergunta se já encontrei o homem com quem pretendo me casar e ter 6 filhos dos quais ela cuidaria e engordaria com bolinhos e biscoitos, então a poupo de pensar que está distante de ter netos meus, tenho coisas demais para me preocupar, e sinceramente, crianças obesas não são minha prioridade agora-.
Conversamos por mais alguns minutos, pergunto sobre o papai que também me dá parabéns, e sobre meu irmão Andrew, que foi morar na Europa por um tempo, ele está bem, mas convenhamos que seja bem difícil estar mal na Europa. Desligo o telefone e vou tomar café, literalmente café é a única coisa que consigo fazer aqui em casa, e para minha grande sorte, ficou horrível, não tenho nenhum dote culinário mas o mínimo que eu poderia saber é controlar uma cafeteira, desisto da bebida e a jogo no ralo da pia lotada de caixas de fast food (que tem sido meu grande salvador ultimamente). Me troco e saio de casa, decido andar um pouco pelo quarteirão antes de ir para o hospital, sai consideravelmente mais cedo de casa, não tinha muito o que fazer lá e talvez eu encontrasse algum lugar para comer, moro em NY há duas semanas e não conheço nada por aqui, meu tempo realmente tem sido mal utilizado. O treinamento para o internato no Lenox Hill Hospital começou ontem, começaremos de fato no mês que vem. É libertador andar pelas ruas sem que ninguém saiba que é meu aniversário, nem ouvir frases decoradas desejando as mesmas coisas, não ver as mesmas pessoas falando as mesmas coisas nos mesmos lugares é uma sensação incrível, era assim no bairro em que eu morava, provavelmente teriam tias que vejo uma vez por ano me dando sabonetes e dizendo que cresci rápido demais, eu sei disso, me arrependo de não ter aproveitado melhor a adolescência, mas quando se cursa medicina é normal completar 40 anos aos 17.
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Aprendendo a dançar na chuva
RomanceCaren Miller é uma jovem que ao chegar em Nova Iorque para começar a nova carreira entra em uma jornada para descobrir mais sobre seus próprios medos, dúvidas e o amor, em meio a decepções e triângulos amorosos. A vida é uma grande oscilação entre m...